O jogo da desforra
Pedro J. Bondaczuk
A Seleção da Holanda era, desde a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, uma espinha de peixe entalada na garganta do torcedor brasileiro. Aliás, após haver nos eliminado na África do Sul, agora, em 2010, jogando um paupérrimo futebol em termos técnicos e abusando da violência, a ponto de desestabilizar a nossa equipe, voltou a ser isso. Mas essa já é uma outra história.
Na Alemanha, a chamada “Laranja Mecânica” havia vencido a equipe orientada por Zagallo por 2 a 0. Até hoje, fala-se muita besteira acerca daquele jogo (é o tal complexo de vira-latas do brasileiro que, volta e meia, vem à tona). Diz-se, por exemplo, que os holandeses deram um “nó tático” em nossa seleção, com o famoso “carrossel”. Se esse esquema fosse a maravilha que dele se disse, estaria sendo utilizado até hoje. Quem, no entanto, o utiliza? Ao que eu saiba, ninguém!
Outra bobagem que se propala até hoje é a de que Zagallo teria dito, quando indagado se conhecia a forma da Holanda jogar, que a desconhecia e que eles é que deveriam se preocupar conosco. O velho Lobo jamais deu declaração desse tipo.
Diz-se, também, amiúde, que os holandeses colocaram os brasileiros na roda. Não foi o que vi ao rever o DVD daquela partida. Tratou-se de uma derrota absolutamente comum, diria que circunstancial, em que um time aproveitou as poucas chances que tem e o outro desperdiçou as muitas que criou, ditada, principalmente, pelo abuso do nosso ataque do direito de perder gols.
Não vi nada de excepcional naquela seleção da Holanda. Era boa, só isso, mas não ótima como ainda é pintada. Tanto que sequer foi a campeã daquele mundial. Aliás, nem daquele e nem de qualquer outro. Trata-se de um futebol arcaico, manjado e pouco efetivo. Que me desmintam com fatos, não com loas de quem adora a prática de baba-ovo.
Se é verdade que os holandeses foram superiores taticamente, naquela oportu8nidade, em termos técnicos, ambas as equipes se equivaleram. Muita gente fala e escreve coisas apenas por “ouvir dizer”, sem fundamentar nenhuma das opiniões e, não raro, sem sequer ter assistido ao jogo a que se propõe a comentar.
Vinte anos depois, na Copa do Mundo de 1994, a Seleção Brasileira teve a oportunidade de devolver aquela derrota sofrida na Alemanha. E, de fato, devolveu. O jogo foi realizado no estádio “The Cotton Bowl”, em Dallas, no Texas, em pleno calor do meio-dia, em 9 de julho de 1994, com arbitragem do costarriquenho Rodrigo Badilla. O público presente foi de 63.500 pessoas.
O Brasil jogou com: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco (Cafu); Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí) e Zinho; Bebeto e Romário. Os holandeses não eram mais a tal da “Laranja Mecânica”, mas tinham jogadores de renome internacional, como Rijkaard, De Boer e Bergkamp, entre outros.
Foi um jogo proibido para cardíacos. O primeiro tempo acabou sem que ninguém mexesse no placar, embora ambas as equipes houvessem criado várias oportunidades de gol. Mas na segunda etapa... Valha-me Deus, foi uma tempestade de emoções!
O Brasil abriu, de cara, 2 a o no placar, com gols de Romário, aos 7 minutos, e Bebeto, aos 17 (este último foi dedicado ao filho recém-nascido Mateus, e na comemoração, o craque brasileiro fez aquele gesto que se tornou célebre e correu mundo, o de embalar um nenê).
O alívio brasileiro, porém, durou apenas dois minutos. É que Bergkamp, em jogada pela direita, diminuiu o marcador. Estranhamente, nossa seleção, que jogava melhor, recuou e atraiu os holandeses. E estes, não tendo o que perder (tanto fazia serem derrotados por dois quanto por dez gols), não se fizeram de rogados e partiram para a ofensiva. E, para nossa aflição, Winter empatou o jogo aos 31 minutos.
Tudo indicava que a partida se encaminhava para a prorrogação e, talvez, até para a disputa por pênaltis. Foi quando saiu uma falta a favor do Brasil, pouco além do meio de campo, na lateral direita da defesa holandesa, aos 36 minutos do segundo tempo. Normal. A bola estava distante do gol. Era provável que o lance não resultasse em nada de prático. Eu pensava assim. Milhões pensaram da mesma maneira. Estávamos todos enganados.
O lateral Branco, que sentia dores na coxa (tanto que depois foi substituído por Cafu), acertou um daqueles chutes improváveis, que na gíria futebolística chamamos de “pombo sem asa”, com a bola viajando cheia de curvas. Romário, postado no bico da pequena área, oportunamente tirou o corpo. E a bola passou exatamente onde o Baixinho estava antes e, caprichosamente, entrou no canto esquerdo do goleiro De Goej, sem que este nada pudesse fazer.
Era o terceiro gol brasileiro, o do desabafo, o da desforra de vinte anos atrás e, principalmente, o da classificação para a semifinal. Nem assim a imprensa e a torcida mudaram de opinião e passaram a confiar nos comandados de Parreira. Pesava sobre aquele grupo o estigma da chamada “Era Dunga”, que só seria anulado com a conquista do tetra. Foi melhor assim, para não estragar a surpresa que viria na sequência.
A Seleção da Holanda era, desde a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, uma espinha de peixe entalada na garganta do torcedor brasileiro. Aliás, após haver nos eliminado na África do Sul, agora, em 2010, jogando um paupérrimo futebol em termos técnicos e abusando da violência, a ponto de desestabilizar a nossa equipe, voltou a ser isso. Mas essa já é uma outra história.
Na Alemanha, a chamada “Laranja Mecânica” havia vencido a equipe orientada por Zagallo por 2 a 0. Até hoje, fala-se muita besteira acerca daquele jogo (é o tal complexo de vira-latas do brasileiro que, volta e meia, vem à tona). Diz-se, por exemplo, que os holandeses deram um “nó tático” em nossa seleção, com o famoso “carrossel”. Se esse esquema fosse a maravilha que dele se disse, estaria sendo utilizado até hoje. Quem, no entanto, o utiliza? Ao que eu saiba, ninguém!
Outra bobagem que se propala até hoje é a de que Zagallo teria dito, quando indagado se conhecia a forma da Holanda jogar, que a desconhecia e que eles é que deveriam se preocupar conosco. O velho Lobo jamais deu declaração desse tipo.
Diz-se, também, amiúde, que os holandeses colocaram os brasileiros na roda. Não foi o que vi ao rever o DVD daquela partida. Tratou-se de uma derrota absolutamente comum, diria que circunstancial, em que um time aproveitou as poucas chances que tem e o outro desperdiçou as muitas que criou, ditada, principalmente, pelo abuso do nosso ataque do direito de perder gols.
Não vi nada de excepcional naquela seleção da Holanda. Era boa, só isso, mas não ótima como ainda é pintada. Tanto que sequer foi a campeã daquele mundial. Aliás, nem daquele e nem de qualquer outro. Trata-se de um futebol arcaico, manjado e pouco efetivo. Que me desmintam com fatos, não com loas de quem adora a prática de baba-ovo.
Se é verdade que os holandeses foram superiores taticamente, naquela oportu8nidade, em termos técnicos, ambas as equipes se equivaleram. Muita gente fala e escreve coisas apenas por “ouvir dizer”, sem fundamentar nenhuma das opiniões e, não raro, sem sequer ter assistido ao jogo a que se propõe a comentar.
Vinte anos depois, na Copa do Mundo de 1994, a Seleção Brasileira teve a oportunidade de devolver aquela derrota sofrida na Alemanha. E, de fato, devolveu. O jogo foi realizado no estádio “The Cotton Bowl”, em Dallas, no Texas, em pleno calor do meio-dia, em 9 de julho de 1994, com arbitragem do costarriquenho Rodrigo Badilla. O público presente foi de 63.500 pessoas.
O Brasil jogou com: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco (Cafu); Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí) e Zinho; Bebeto e Romário. Os holandeses não eram mais a tal da “Laranja Mecânica”, mas tinham jogadores de renome internacional, como Rijkaard, De Boer e Bergkamp, entre outros.
Foi um jogo proibido para cardíacos. O primeiro tempo acabou sem que ninguém mexesse no placar, embora ambas as equipes houvessem criado várias oportunidades de gol. Mas na segunda etapa... Valha-me Deus, foi uma tempestade de emoções!
O Brasil abriu, de cara, 2 a o no placar, com gols de Romário, aos 7 minutos, e Bebeto, aos 17 (este último foi dedicado ao filho recém-nascido Mateus, e na comemoração, o craque brasileiro fez aquele gesto que se tornou célebre e correu mundo, o de embalar um nenê).
O alívio brasileiro, porém, durou apenas dois minutos. É que Bergkamp, em jogada pela direita, diminuiu o marcador. Estranhamente, nossa seleção, que jogava melhor, recuou e atraiu os holandeses. E estes, não tendo o que perder (tanto fazia serem derrotados por dois quanto por dez gols), não se fizeram de rogados e partiram para a ofensiva. E, para nossa aflição, Winter empatou o jogo aos 31 minutos.
Tudo indicava que a partida se encaminhava para a prorrogação e, talvez, até para a disputa por pênaltis. Foi quando saiu uma falta a favor do Brasil, pouco além do meio de campo, na lateral direita da defesa holandesa, aos 36 minutos do segundo tempo. Normal. A bola estava distante do gol. Era provável que o lance não resultasse em nada de prático. Eu pensava assim. Milhões pensaram da mesma maneira. Estávamos todos enganados.
O lateral Branco, que sentia dores na coxa (tanto que depois foi substituído por Cafu), acertou um daqueles chutes improváveis, que na gíria futebolística chamamos de “pombo sem asa”, com a bola viajando cheia de curvas. Romário, postado no bico da pequena área, oportunamente tirou o corpo. E a bola passou exatamente onde o Baixinho estava antes e, caprichosamente, entrou no canto esquerdo do goleiro De Goej, sem que este nada pudesse fazer.
Era o terceiro gol brasileiro, o do desabafo, o da desforra de vinte anos atrás e, principalmente, o da classificação para a semifinal. Nem assim a imprensa e a torcida mudaram de opinião e passaram a confiar nos comandados de Parreira. Pesava sobre aquele grupo o estigma da chamada “Era Dunga”, que só seria anulado com a conquista do tetra. Foi melhor assim, para não estragar a surpresa que viria na sequência.
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