Monday, September 06, 2010




Foi bom, mas todos queriam mais

Pedro J. Bondaczuk

O Brasil estreou na Copa do Mundo de 1986 em 1º de junho, no Estádio Jalisco de Guadalajara, enfrentando, logo de cara, uma “pedreira”. O adversário era a Espanha, anfitriã do Mundial anterior, ansiosa por apagar a má imagem que deixara ao fracassar na própria casa. Seu futebol, a despeito disso, estava em franca evolução e sua seleção era tida como uma das favoritas ao título.
O jogo, que teve a arbitragem do australiano Cristopher Bambridge, foi, de fato, o que todos previam. Ou seja, duríssimo para ambas as equipes. Zico, ainda se recuperando de contusão, não jogou. Telê Santana mandou a campo o seguinte time: Carlos, Edson, Júlio César, Edinho e Branco; Elzo, Junior (Falcão), Alemão e Sócrates; Careca e Casagrande (Müller).
A partida estava equilibrada, com ligeiro predomínio espanhol, cujo ataque levava mais perigo ao gol brasileiro do que o nosso ao deles. O Brasil centralizava muito o jogo, porém a marcação adversária mostrava-se eficiente e neutralizava suas principais jogadas. Até que Sócrates, aos 17 minutos do segundo tempo, resolveu a parada a nosso favor. Fez o gol salvador, que nos deu a primeira vitória, por 1 a 0.
A partida seguinte seria contra um adversário supostamente muito frágil. Ademais, não haveria a desculpa do nervosismo da estréia. Todos (imprensa e torcida) esperavam, pois, uma goleada brasileira e com uma exibição pelo menos convincente. Mas... não foi o que aconteceu.
Em 6 de junho de 1986, o Brasil encarou a Argélia, no Estádio Jalisco, com arbitragem do guatemalteco Romulo Mendez Molina. De novo, Zico ficou de fora. A Seleção Brasileira jogou com: Carlos, Edson (Falcão), Júlio César, Edinho e Branco; Elzo, Junior, Alemão e Sócrates; Careca e Casagrande (Müller).
Foi um jogo amarrado desde o início, truncado, feio de se ver, em que os argelinos não jogavam e não deixavam jogar. Sem inspiração, o ataque brasileiro não conseguia levar muito perigo à meta defendida pelo goleiro Drid.
Só aos 21 minutos do segundo tempo viria o alívio, com o gol providencial de Careca. Mas foi só. O placar ficou, mesmo, nesse magro 1 a 0. A torcida não gostou do desempenho da Seleção. Da minha parte, no entanto, fiquei satisfeito, pois tratava-se da segunda vitória em dois jogos. E eram partidas de Copa do Mundo, ora bolas!
Bastaria um simples empate contra a Irlanda do Norte para o Brasil passar para a fase seguinte. Nos dias que antecederam essa partida, não senti muito otimismo por parte da nossa torcida. O time era bom, mas não conseguia render sequer metade do seu potencial.
Como os norte-irlandeses caracterizavam-se por contar com uma defesa dura e forte, esperava-se um jogo amarrado, sofrido, com poucos gols, mais enjoado até do que fora o contra a Argélia. Mais uma vez, todavia, as previsões foram por água abaixo.
É verdade que o Brasil não jogou uma partida excepcional, exuberante e impecável, longe disso. Contudo, dessa vez os críticos tiveram poucos reparos a fazer. Zico fez sua estréia nesse mundial, entrando, no segundo tempo, no lugar de Sócrates. Junior, desde o início atuava no meio do campo, e não mais na ala esquerda, como fizera na Copa de 1982.
Outro que entrou jogando foi Müller, embora tenha sido substituído, no segundo tempo, por Casagrande. O primeiro dava mais velocidade ao ataque. Já o segundo era jogador mais fixo, de área. Josimar também teve a sua primeira chance.
O jogo ocorreu em 12 de junho, no Estádio Jalisco, com arbitragem do alemão Siegfried Kirschen. O Brasil jogou com: Carlos, Josimar, Júlio César, Edinho e Branco; Elzo, Júnior, Sócrates (Zico) e Alemão; Müller (Casagrande) e Careca.
Com gols de Careca, aos 15 minutos, e Josimar, aos 42, a Seleção Brasileira praticamente liquidou o jogo logo no primeiro tempo. Na segunda etapa, era visível a preocupação de se poupar, com vistas à fase seguinte. Ainda assim, ampliou o placar, com gol de Careca aos 42 minutos.
O Brasil classificou-se com 100% de aproveitamento, marcando cinco gols e não sofrendo nenhum. Era um desempenho para ser comemorado. Todavia, o que mais se ouvia não eram bem elogios a Telê Santana e aos seus pupilos. As críticas se multiplicavam e até pareceria, aos distraídos e desavisados, que o Brasil estivera levando surra atrás de surra, quando na verdade vencera todos seus jogos da primeira fase. É meio esquisito, para não dizer paranóico, esse nosso jeito de torcer, vocês não acham?

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