Guerra pela vaga ao Mundial
Pedro J. Bondaczuk
As eliminatórias para a Copa do Mundo de 1990, na Itália, foram, para o Brasil, inusitada “guerra”. Não que as outras que disputou não tenham sido, longe disso. Todos queriam, querem e sempre haverão de querer derrotar a nossa Seleção. Há tempos que o desafio, na América do Sul, é deixar o Brasil fora de um Mundial, já que é o único país que esteve presente em todos os 19 já disputados. Isso incomoda, e muito, nossos adversários. Ademais, até então, jamais perdera uma só partida válida por eliminatórias.
Todo adversário da Seleção Brasileira, portanto, sonhava com essa primazia de nos derrotar. À primeira vista, e sem menosprezo a ninguém, não haveria de ser nessa eliminatória que o Brasil acabaria de fora de uma Copa. Nossos concorrentes à vaga não assustavam ninguém. De um lado, havia a Venezuela, que praticava um futebol primário e tosco e que, por isso, não era páreo para nós. De outro, estava o Chile, “freguês” tradicional, que não conseguiu nos derrotar nem quando promoveu a Copa, em 1962.
Apesar de tudo isso, aquela eliminatória, a do Mundial de 1990, seria, particularmente, dramática, complicada, difícil e extrapolaria o campo meramente desportivo, para adentrar outro terreno muito mais movediço e condenável.
A estréia brasileira ocorreu em 30 de julho de 1989, em Caracas, e o resultado não apresentou a mínima surpresa. Foi aquele que todos esperavam: goleada do Brasil sobre a fragílima Venezuela por clássicos 4 a 0.
Já no jogo seguinte, em 13 de agosto, em Santiago... as coisas não foram tão simples. O pau comeu solto em campo. Foi uma partida caracterizada pela catimba e pela violência de parte a parte, sob o olhar complacente do árbitro colombiano Jesus Diaz Palacios, que teve péssima (diria criminosa) arbitragem.
O público chileno, nesse dia, também se comportou de forma lamentável, hostilizando, de todas as formas, os nossos jogadores e, pior, arremessando objetos os mais variados no campo, como pedras, garrafas, moedas, pilhas de rádio e até sapatos. O adversário queria porque queria ganhar o jogo, e a vaga, no grito, mas o Brasil não estava disposto a permitir isso.
O Chile fez um gol muito contestável, que gerou intensas reclamações dos brasileiros, mas que foi validado pelo árbitro, um “banana”, que além de apitar mal pra chuchu, ainda estava morrendo de medo da torcida chilena. O Brasil empatou a partida e parecia que tudo terminaria assim, ou seja, sem que houvesse nenhuma punição à violência dentro e fora de campo.
Não foi o que aconteceu. A Fifa interditou o Estádio Nacional de Santiago, manteve o resultado e suspendeu Romário, Ormeño, Orlando Aravena (técnico do Chile), Zé Carlos (goleiro reserva do Brasil) e Nocaute Jack (massagista). Os chilenos tiveram que enfrentar a Venezuela em Mendoza, na Argentina. Venceram-na, claro, por 3 a 1. Pudera!
Em 20 de agosto de 1989, foi a nossa vez de enfrentar os venezuelanos, no jogo da volta. A partida foi disputada no Maracanã e o Brasil “massacrou” o fragílimo adversário. Fez, com a maior facilidade, 6 a 0 e o placar só não foi o dobro porque nossos jogadores tiraram o pé do acelerador para dar um prolongado e gostoso olé nos atarantados visitantes.
Após fazer dez gols em duas partidas na Venezuela, sem sofrer nenhum, a torcida brasileira esperava que a nossa Seleção assegurasse com tranqüilidade a vaga para a Copa. Não foi o que aconteceu. Esta só seria decidida uma semana depois do jogo, e na Suiça, na sede da Fi8fa.
Orlando Duarte, no seu livro “Enciclopédia dos Mundiais de Futebol”, narra o que aconteceu: “O jogo do Maracanã, em 3 de setembro de 1989, entre Brasil e Chile, foi cercado de grande expectativa e cuidados especiais. A Fifa mandou dois observadores e advertiu que queria segurança máxima. O policiamento foi intenso e o jogo normal até 24 minutos do segundo tempo. O Brasil só precisava do empate e ganhava por 1 a 0, gol de Careca aos 4 minutos da segunda fase. Aí uma moça resolveu lançar de posição inconveniente um sinalizador marítimo em direção ao campo. O fogo provocado caiu às costas do goleiro Rojas. Esse, mesmo não sendo atingido, fez toda uma encenação, acompanhada por seus colegas de time. O Chile retirou-se do gramado. O árbitro esperou o tempo normal e veio a comunicação que o Chile não continuaria a partida. O público, mais de 150 mil expectadores, deixou o Maracanã em ordem, sem arruaças, que poderiam ter acontecido. Uma semana depois, em Zurique, sede da Fifa, cinco integrantes do Comitê Disciplinar resolveram proclamar o Chile como responsável por ter ab abandonado o campo, considerando-o perdedor por 2 a 0, punir a CBF pelo sinalizador marítimo em 12 mil dólares e enviar ao Comitê Superior informações para que Rojas, Aravena e outros chilenos tivessem uma análise de seus comportamentos. Com essa decisão irrevogável, o Brasil classi9ficopu-se para o Mundial-90”.
Mais tarde apurou-se que Rojas trazia, entre uma das luvas, uma lâmina de barbear, com a qual fez um corte proposital no próprio supercílio, para simular um alegado ferimento causado pelo sinalizador, o que, de fato, não aconteceu. Por causa da fraude, foi banido do futebol. Tempos depois, trabalhou no São Paulo Futebol Clube, primeiro como preparador de goleiros e, posteriormente, como técnico.
A moça que lançou o sinalizador no gramado e causou toda aquela celeuma foi identificada. Ficou conhecida na imprensa (e na história do futebol), como “Rose Fogueteira”. Teve seus 15 mi9nutos de fama e chegou a ser convidada para posar nua numa revista masculina.
A seleção do Chile foi suspensa, pela Fifa, por quatro anos, de todas as competições internacionais. Os chilenos, portanto, tentaram arrancar na marra, na base da violência e da malandragem a vaga para a Copa do Mundo de 1990 e se deram muito mal, já que sua catimba e representação teatral não convenceram ninguém.
Pedro J. Bondaczuk
As eliminatórias para a Copa do Mundo de 1990, na Itália, foram, para o Brasil, inusitada “guerra”. Não que as outras que disputou não tenham sido, longe disso. Todos queriam, querem e sempre haverão de querer derrotar a nossa Seleção. Há tempos que o desafio, na América do Sul, é deixar o Brasil fora de um Mundial, já que é o único país que esteve presente em todos os 19 já disputados. Isso incomoda, e muito, nossos adversários. Ademais, até então, jamais perdera uma só partida válida por eliminatórias.
Todo adversário da Seleção Brasileira, portanto, sonhava com essa primazia de nos derrotar. À primeira vista, e sem menosprezo a ninguém, não haveria de ser nessa eliminatória que o Brasil acabaria de fora de uma Copa. Nossos concorrentes à vaga não assustavam ninguém. De um lado, havia a Venezuela, que praticava um futebol primário e tosco e que, por isso, não era páreo para nós. De outro, estava o Chile, “freguês” tradicional, que não conseguiu nos derrotar nem quando promoveu a Copa, em 1962.
Apesar de tudo isso, aquela eliminatória, a do Mundial de 1990, seria, particularmente, dramática, complicada, difícil e extrapolaria o campo meramente desportivo, para adentrar outro terreno muito mais movediço e condenável.
A estréia brasileira ocorreu em 30 de julho de 1989, em Caracas, e o resultado não apresentou a mínima surpresa. Foi aquele que todos esperavam: goleada do Brasil sobre a fragílima Venezuela por clássicos 4 a 0.
Já no jogo seguinte, em 13 de agosto, em Santiago... as coisas não foram tão simples. O pau comeu solto em campo. Foi uma partida caracterizada pela catimba e pela violência de parte a parte, sob o olhar complacente do árbitro colombiano Jesus Diaz Palacios, que teve péssima (diria criminosa) arbitragem.
O público chileno, nesse dia, também se comportou de forma lamentável, hostilizando, de todas as formas, os nossos jogadores e, pior, arremessando objetos os mais variados no campo, como pedras, garrafas, moedas, pilhas de rádio e até sapatos. O adversário queria porque queria ganhar o jogo, e a vaga, no grito, mas o Brasil não estava disposto a permitir isso.
O Chile fez um gol muito contestável, que gerou intensas reclamações dos brasileiros, mas que foi validado pelo árbitro, um “banana”, que além de apitar mal pra chuchu, ainda estava morrendo de medo da torcida chilena. O Brasil empatou a partida e parecia que tudo terminaria assim, ou seja, sem que houvesse nenhuma punição à violência dentro e fora de campo.
Não foi o que aconteceu. A Fifa interditou o Estádio Nacional de Santiago, manteve o resultado e suspendeu Romário, Ormeño, Orlando Aravena (técnico do Chile), Zé Carlos (goleiro reserva do Brasil) e Nocaute Jack (massagista). Os chilenos tiveram que enfrentar a Venezuela em Mendoza, na Argentina. Venceram-na, claro, por 3 a 1. Pudera!
Em 20 de agosto de 1989, foi a nossa vez de enfrentar os venezuelanos, no jogo da volta. A partida foi disputada no Maracanã e o Brasil “massacrou” o fragílimo adversário. Fez, com a maior facilidade, 6 a 0 e o placar só não foi o dobro porque nossos jogadores tiraram o pé do acelerador para dar um prolongado e gostoso olé nos atarantados visitantes.
Após fazer dez gols em duas partidas na Venezuela, sem sofrer nenhum, a torcida brasileira esperava que a nossa Seleção assegurasse com tranqüilidade a vaga para a Copa. Não foi o que aconteceu. Esta só seria decidida uma semana depois do jogo, e na Suiça, na sede da Fi8fa.
Orlando Duarte, no seu livro “Enciclopédia dos Mundiais de Futebol”, narra o que aconteceu: “O jogo do Maracanã, em 3 de setembro de 1989, entre Brasil e Chile, foi cercado de grande expectativa e cuidados especiais. A Fifa mandou dois observadores e advertiu que queria segurança máxima. O policiamento foi intenso e o jogo normal até 24 minutos do segundo tempo. O Brasil só precisava do empate e ganhava por 1 a 0, gol de Careca aos 4 minutos da segunda fase. Aí uma moça resolveu lançar de posição inconveniente um sinalizador marítimo em direção ao campo. O fogo provocado caiu às costas do goleiro Rojas. Esse, mesmo não sendo atingido, fez toda uma encenação, acompanhada por seus colegas de time. O Chile retirou-se do gramado. O árbitro esperou o tempo normal e veio a comunicação que o Chile não continuaria a partida. O público, mais de 150 mil expectadores, deixou o Maracanã em ordem, sem arruaças, que poderiam ter acontecido. Uma semana depois, em Zurique, sede da Fifa, cinco integrantes do Comitê Disciplinar resolveram proclamar o Chile como responsável por ter ab abandonado o campo, considerando-o perdedor por 2 a 0, punir a CBF pelo sinalizador marítimo em 12 mil dólares e enviar ao Comitê Superior informações para que Rojas, Aravena e outros chilenos tivessem uma análise de seus comportamentos. Com essa decisão irrevogável, o Brasil classi9ficopu-se para o Mundial-90”.
Mais tarde apurou-se que Rojas trazia, entre uma das luvas, uma lâmina de barbear, com a qual fez um corte proposital no próprio supercílio, para simular um alegado ferimento causado pelo sinalizador, o que, de fato, não aconteceu. Por causa da fraude, foi banido do futebol. Tempos depois, trabalhou no São Paulo Futebol Clube, primeiro como preparador de goleiros e, posteriormente, como técnico.
A moça que lançou o sinalizador no gramado e causou toda aquela celeuma foi identificada. Ficou conhecida na imprensa (e na história do futebol), como “Rose Fogueteira”. Teve seus 15 mi9nutos de fama e chegou a ser convidada para posar nua numa revista masculina.
A seleção do Chile foi suspensa, pela Fifa, por quatro anos, de todas as competições internacionais. Os chilenos, portanto, tentaram arrancar na marra, na base da violência e da malandragem a vaga para a Copa do Mundo de 1990 e se deram muito mal, já que sua catimba e representação teatral não convenceram ninguém.
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