Tuesday, September 21, 2010




Jogo com cara de final

Pedro J. Bondaczuk

Enfrentar a seleção dos Estados Unidos sempre foi uma complicação para qualquer um. Basta lembrar que em 1950, ela derrotou a badaladíssima Inglaterra, em Belo Horizonte, por 1 a 0. Enfrentá-la numa copa do mundo, então, é encrenca ainda maior. E as coisas se agravam bastante se esse mundial for em território norte-americano. Mais, torna-se de altíssimo risco se a partida for eliminatória e ocorrer na data de independência desse gigante do mundo, quando o patriotismo do seu povo, que já é exemplar em condições normais, se multiplica exponencialmente.
Pois foi o que aconteceu com o Brasil na Copa de 1994. O jogo decisivo para as pretensões brasileiras, nas oitavas de final, fase em que o vencedor segue adiante e o derrotado fica pelo caminho, foi, justamente, contra os Estados Unidos, ou seja, contra o anfitrião. E, para pôr ainda mais pimenta nesse pirão, coincidiu com o 4 de julho, data máxima para os norte-americanos.
A partida foi disputada no Stanford Stadium de São Francisco, diante de um público de 84.147 pessoas. E diziam que os americanos não gostavam de futebol, ou melhor, do “soccer”! Imaginem se gostassem! O árbitro desse confronto foi um velho conhecido nosso, o francês Joel Quiniou.
Diz uma grande bobagem quem afirma que os Estados Unidos não têm tradição futebolística. Têm e muita. Os norte-americanos tiveram contato com esse esporte até antes do que nós. O jornalista Orlando Duarte esclarece, a esse propósito, no livro “Enciclopédia dos Mundiais de Futebol”: “Em 1885, uma seleção enfrentou uma equipe do Canadá em Nova Jersey, perdendo por 1 a 0. A Federação dos Estados Unidos filiou-se à Fifa em 1913 e seu primeiro jogo oficial foi em Estocolmo, na Suécia, em 1916, o qual os norte-americanos ganharam por 3 a 2”.
Sobre os jogos com o Brasil, Orlando Duarte informa: “A primeira vez que brasileiros e norte-americanos se enfrentaram foi em 1930. Os americanos passavam pelo Rio, vindos do mundial e concordaram em fazer um amistoso. O Brasil ganhou por 4 a 3. Em Chicago, nos Jogos Panamericanos, ocorreu o segundo jogo entre os dois países e os norte-americanos ganharam do Brasil por 5 a 3”.
Como se vê, o adversário da Seleção de Parreira das oitavas de final da Copa de 1994 não era a “galinha morta” que os mal-informados achavam que fosse. O jogo foi disputado, foi duro, foi duríssimo e ficou mais complicado ainda com a expulsão do ala esquerda Leonardo, por dar uma cotovelada que o árbitro entendeu como proposital num jogador norte-americano, isso aos 44 minutos do primeiro tempo.
Ou seja, jogamos toda a segunda etapa com apenas dez jogadores, diante de um adversário qualificado, promotor da Copa, em sua própria casa portanto e empurrado por frenéticos quase 90 mil torcedores. Depois dizem que aquela seleção venceu, mas não convenceu. Quem não ficou convencido ou não tem opinião própria e vai na balada da imprensa, ou não assistiu os jogos ou não entende bulhufas de futebol ou é do contra mesmo. Para mim, a Copa do Mundo de 1994 não foi decidida nos pênaltis contra a Itália, mas nessa partida dramática, com uma baita pressão contra os brasileiros. E o Brasil venceu, apertado, é verdade, mas com méritos, com aquele gol de voleio de Bebeto, aos 29 minutos da etapa final. Êta Seleção macho aquela!!!
Parreira mandou a campo: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho (Cafu); Bebeto e Romário.
Leonardo, após a expulsão, perdeu a condição de titular para Branco, que não estava na plenitude das suas condições físicas, mas que ainda assim foi decisivo em muitos momentos para que o Brasil conquistasse o tetra. Após aquela dramática e suada vitória contra os Estados Unidos, faltavam ainda três dificílimos degraus a subir para a quebra de um jejum de 24 anos sem título e a conseqüente consagração. E o Brasil subiu, com garra e competência, todos os três.

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