Sunday, September 19, 2010




Nascem três bebês por segundo

Pedro J. Bondaczuk

O presidente do Fundo de População das Nações Unidas (Nuap), Tatsuro Kunugi, esteve em Brasília, no início de agosto de 1990, para debater com as autoridades brasileiras questões relativas à crescente devastação da Amazônia. Alguém poderia perguntar: o que a ecologia tem a ver com questões populacionais? Não parece, mas tem tudo.

O crescimento desordenado dos habitantes de um país, que não possui recursos para absorver novos e crescentes contingentes de pessoas, conduz à ocupação de todos os seus espaços, com crescente desmatamento e progressiva degradação do solo.

De acordo com o Nuap, nascem, atualmente, em média, três bebês por segundo no Planeta. Descontando todos os indivíduos que morrem – por doenças, assassinatos, acidentes, guerras, fome ou por velhice – a espaçonave Terra ganha, diariamente, cerca de 250 mil passageiros.

O trágico de tudo isso é que 90% desse explosivo crescimento populacional se verifica exatamente onde a prudência mande que se limite a natalidade, ou seja, nas regiões mais pobres do mundo, chamadas, até de uma forma um tanto irônica, de países em desenvolvimento, quando na verdade o que se observa neles é uma crescente miserabilidade.

A ONU informa que dos 5,3 bilhões de habitantes terrestres, um bilhão, ou quase um quinto da humanidade, vive em estado de absoluta pobreza. Essa situação é definida como sendo aquela em que o indivíduo não dispõe de nenhuma espécie de renda ou tenha uma tão baixa que seja incapaz de satisfazer as necessidades mínimas para uma sobrevivência digna, como alimentação, moradia, vestuário, saúde, educação, cultura e lazer.

Os povos que convivem com esta realidade findam por lançar mão de todos os recursos de que dispõem. Para alimentar tantas bocas, que aumentam numa velocidade vertiginosa, mais terras são necessárias para o plantio.

Agindo mais por desespero do que mediante alguma espécie de planejamento, áreas verdes imensas são postas abaixo, a maioria, como é o caso específico da Amazônia, detentora de solos paupérrimos, para o plantio. Dessa maneira, o mundo vai ficando cada vez mais devastado, poluído e emporcalhado, ameaçando toda a humanidade.

Exige-se ajuda dos países ricos, como se eles fossem obrigados a fazer benemerência constante para aqueles que nunca procuraram se ajudar. Basta que se examine a relação dos grandes compradores de armas da atualidade para se concluir que os clientes por excelência dos “mercadores da morte” são exatamente as nações mais atrasadas, com estruturas sociais mais injustas e por conseqüência mais violentas do chamado Terceiro Mundo.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1 de agosto de 1990).

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