Fatídico travessão
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil passou fácil pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 1986, no México, mas nas quartas... Esbarrou na França. Aliás, nem diria isso. Diria que esbarrou no “fatídico” travessão do gol dos fundos do Estádio Jalisco de Guadalajara, o da direita da tela de televisão de quem assistiu esse jogo por esse veículo de comunicação (que foi o meu caso). Na sequência, explico o que aconteceu.
Antes, convém lembrar das oitavas de final. O jornalista Orlando Duarte, em sua “Enciclopédia dos Mundiais de Futebol”, explica as mudanças havidas na fórmula de disputa: “Dessa feita a Fifa alterou a fórmula de disputa do Mundial. Não fez como na Espanha (quatro grupos de três selecionados): preferiram os dirigentes do Comitê Organizador fazer jogar 8 seleções contra 8, em eliminatórias simples. Vencedor continua no torneio, perdedor volta para casa. E sem jogos extras, tudo decidido no dia, com prorrogação de 30 minutos e pênaltis”.
Coube ao Brasil enfrentar, nessa fase, a Polônia. Esse jogo aconteceu em 16 de junho de 1986, no Estádio Jalisco de Guadalajara, com arbitragem do alemão Volker Roth. Telê Santana mandou a campo o que tinha de melhor no momento. Zico, ainda longe das condições físicas ideais, entrou somente no segundo tempo. No mais, a equipe era aquela que havia vencido os três jogos anteriores: Carlos, Josimar, Júlio Cesar, Edinho e Branco; Elzo, Junior, Alemãp e Sócrates (Zico); Careca e Müller (Silas).
Os poloneses endureceram o jogo no primeiro tempo. É verdade que pouco ameaçaram a meta defendida por Carlos. Mas sua defesa exercia rígida marcação sobre o ataque brasileiro. Tão dura, que cometeu um pênalti aos 30 minutos (cometeria um segundo no segundo tempo), convertido por Sócrates.
Na segunda etapa, o futebol do então tricampeão do mundo fluiu e, finalmente, luziu. A Seleção jogou solta, com rapidez e eficiência. Foi, na minha avaliação, a melhor partida do Brasil nesse Mundial. E essa excelente performance refletiu-se no marcador. Com gols de Josimar, aos 10 minuto do segundo tempo, Edinho aos 34 e Careca de pênalti aos 38, o Brasil goleou a Polônia por 4 a 0 e despachou-a para casa.
Tudo indicava, agora, que os comandados de Telê iriam se redimir do “Desastre do Sarriá” de 1982 e caminhar firmes na busca da conquista do tetra. Para isso, porém, tinham que superar a França, do craque Michel Platini, para poder chegar à semifinal. A boa exibição contra a Polônia fazia do Brasil favorito.
O jogo foi disputado em 21 de junho de 1986, no Estádio Jalisco de Guadalajara, com arbitragem do romeno Ioan Ignao que, no meu modo de entender, interferiu no resultado, a dano da nossa Seleção.
Telê Santana, mais uma vez, manteve Zico no banco, colocando-o em campo apenas no segundo tempo, no lugar de Müller. O Brasil jogou com Carlos, Josimar, Júlio César, Edinho e Branco; Elzo, Junior (Silas), Alemão e Sócrates; Careca e Müller (Zico).
O jogo foi dramático e disputadíssimo, com várias oportunidades de parte a parte. O placar foi construído no primeiro tempo, com Careca abrindo o marcador aos 17 minutos e Platini empatando aos 40.
Na segunda etapa, nenhuma das equipes balançou as redes adversárias. E oportunidades não faltaram. A maior delas estava nos pés de Zico, na cobrança de um pênalti, que poderia despachar os franceses. O Galinho de Quintino, porém, muito longe das condições físicas ideais, não fez o gol. Decepção geral! O jogo foi para a prorrogação e brasileiros e franceses continuaram perdendo chances e mais chances.
Não houve remédio. O Brasil, até então, nunca havia participado de decisão por pênaltis em Copas do Mundo. E essa foi daquelas “proibidas para cardíacos”. Os franceses erraram uma das cobranças através (justo de quem!) de Michel Platini.
O Brasil não fez por menos. Sócrates errou seu pênalti. E aí veio a lambança do árbitro romeno que determinou a nossa desclassificação. Orlando Duarte relata o que ocorreu: “O regulamento da cobrança das faltas da marca penal, estava redigido para provocar confusão na sua interpretação. Salientava que o lance estava encerrado com a bola mais próxima da linha de fundo. Na cobrança de um francês a bola foi na trave e bateu na cabeça de Carlos, entrando. Quando bateu na trave não estava mais próxima da linha de fundo e não estava voltando? O Brasil chegou a reclamar, mas a Fifa não levou em consideração o protesto”.
A decisão ficou nos pés de Júlio César. Caso o zagueiro do Guarani marcasse, as cobranças prosseguiriam, em série alternada e caso perdesse, o Brasil voltaria para casa. Confesso que na hora não tive coragem de ver aquele pênalti. Virei as costas para a televisão. Vi-o bem depois, e muitas vezes, mas em reprise. Júlio César, em vez de tentar deslocar apenas o goleiro, deu um chute forte, desses de 200 quilômetros por hora. A bola, caprichosamente, explodiu na trave e saiu.
Com Carlos, ela havia voltado na cabeça do goleiro e entrado. O travessão deve estar balançando até hoje. E até hoje lamentamos a prematura desclassificação de outra ótima seleção comandada por quem foi, para mim, sem favor algum, e sem demérito para ninguém, o melhor técnico do futebol brasileiro de todos os tempos: Telê Santana.
O Brasil passou fácil pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 1986, no México, mas nas quartas... Esbarrou na França. Aliás, nem diria isso. Diria que esbarrou no “fatídico” travessão do gol dos fundos do Estádio Jalisco de Guadalajara, o da direita da tela de televisão de quem assistiu esse jogo por esse veículo de comunicação (que foi o meu caso). Na sequência, explico o que aconteceu.
Antes, convém lembrar das oitavas de final. O jornalista Orlando Duarte, em sua “Enciclopédia dos Mundiais de Futebol”, explica as mudanças havidas na fórmula de disputa: “Dessa feita a Fifa alterou a fórmula de disputa do Mundial. Não fez como na Espanha (quatro grupos de três selecionados): preferiram os dirigentes do Comitê Organizador fazer jogar 8 seleções contra 8, em eliminatórias simples. Vencedor continua no torneio, perdedor volta para casa. E sem jogos extras, tudo decidido no dia, com prorrogação de 30 minutos e pênaltis”.
Coube ao Brasil enfrentar, nessa fase, a Polônia. Esse jogo aconteceu em 16 de junho de 1986, no Estádio Jalisco de Guadalajara, com arbitragem do alemão Volker Roth. Telê Santana mandou a campo o que tinha de melhor no momento. Zico, ainda longe das condições físicas ideais, entrou somente no segundo tempo. No mais, a equipe era aquela que havia vencido os três jogos anteriores: Carlos, Josimar, Júlio Cesar, Edinho e Branco; Elzo, Junior, Alemãp e Sócrates (Zico); Careca e Müller (Silas).
Os poloneses endureceram o jogo no primeiro tempo. É verdade que pouco ameaçaram a meta defendida por Carlos. Mas sua defesa exercia rígida marcação sobre o ataque brasileiro. Tão dura, que cometeu um pênalti aos 30 minutos (cometeria um segundo no segundo tempo), convertido por Sócrates.
Na segunda etapa, o futebol do então tricampeão do mundo fluiu e, finalmente, luziu. A Seleção jogou solta, com rapidez e eficiência. Foi, na minha avaliação, a melhor partida do Brasil nesse Mundial. E essa excelente performance refletiu-se no marcador. Com gols de Josimar, aos 10 minuto do segundo tempo, Edinho aos 34 e Careca de pênalti aos 38, o Brasil goleou a Polônia por 4 a 0 e despachou-a para casa.
Tudo indicava, agora, que os comandados de Telê iriam se redimir do “Desastre do Sarriá” de 1982 e caminhar firmes na busca da conquista do tetra. Para isso, porém, tinham que superar a França, do craque Michel Platini, para poder chegar à semifinal. A boa exibição contra a Polônia fazia do Brasil favorito.
O jogo foi disputado em 21 de junho de 1986, no Estádio Jalisco de Guadalajara, com arbitragem do romeno Ioan Ignao que, no meu modo de entender, interferiu no resultado, a dano da nossa Seleção.
Telê Santana, mais uma vez, manteve Zico no banco, colocando-o em campo apenas no segundo tempo, no lugar de Müller. O Brasil jogou com Carlos, Josimar, Júlio César, Edinho e Branco; Elzo, Junior (Silas), Alemão e Sócrates; Careca e Müller (Zico).
O jogo foi dramático e disputadíssimo, com várias oportunidades de parte a parte. O placar foi construído no primeiro tempo, com Careca abrindo o marcador aos 17 minutos e Platini empatando aos 40.
Na segunda etapa, nenhuma das equipes balançou as redes adversárias. E oportunidades não faltaram. A maior delas estava nos pés de Zico, na cobrança de um pênalti, que poderia despachar os franceses. O Galinho de Quintino, porém, muito longe das condições físicas ideais, não fez o gol. Decepção geral! O jogo foi para a prorrogação e brasileiros e franceses continuaram perdendo chances e mais chances.
Não houve remédio. O Brasil, até então, nunca havia participado de decisão por pênaltis em Copas do Mundo. E essa foi daquelas “proibidas para cardíacos”. Os franceses erraram uma das cobranças através (justo de quem!) de Michel Platini.
O Brasil não fez por menos. Sócrates errou seu pênalti. E aí veio a lambança do árbitro romeno que determinou a nossa desclassificação. Orlando Duarte relata o que ocorreu: “O regulamento da cobrança das faltas da marca penal, estava redigido para provocar confusão na sua interpretação. Salientava que o lance estava encerrado com a bola mais próxima da linha de fundo. Na cobrança de um francês a bola foi na trave e bateu na cabeça de Carlos, entrando. Quando bateu na trave não estava mais próxima da linha de fundo e não estava voltando? O Brasil chegou a reclamar, mas a Fifa não levou em consideração o protesto”.
A decisão ficou nos pés de Júlio César. Caso o zagueiro do Guarani marcasse, as cobranças prosseguiriam, em série alternada e caso perdesse, o Brasil voltaria para casa. Confesso que na hora não tive coragem de ver aquele pênalti. Virei as costas para a televisão. Vi-o bem depois, e muitas vezes, mas em reprise. Júlio César, em vez de tentar deslocar apenas o goleiro, deu um chute forte, desses de 200 quilômetros por hora. A bola, caprichosamente, explodiu na trave e saiu.
Com Carlos, ela havia voltado na cabeça do goleiro e entrado. O travessão deve estar balançando até hoje. E até hoje lamentamos a prematura desclassificação de outra ótima seleção comandada por quem foi, para mim, sem favor algum, e sem demérito para ninguém, o melhor técnico do futebol brasileiro de todos os tempos: Telê Santana.
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