Promessa cumprida
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil, após a dramática classificação para a semifinal da Copa do Mundo de 1994, com aquela vitória tão suada sobre a Holanda, por 3 a 2, teria pela frente outra pedreira, embora se tratasse de um adversário velho conhecido, com o qual jogara diversas vezes e não só decidira um título, como enfrentara na primeira fase desse mesmo Mundial dos Estados Unidos: a Suécia.
O resultado, na ocasião, fora de 1 a 1, numa apresentação brasileira sem brilho e sem inspiração. Agora a partida adquiria características ainda mais dramáticas. Era eliminatória. Quem vencesse teria a chance de disputar o título da competição. Ao perdedor restaria o consolo de tentar chegar à terceira colocação. E isso era muito pouco, embora melhor do que nada, para as pretensões das duas equipes.
Abro aqui um parêntese para revelar mais um aspecto da minha vida. Dessa vez, é quanto às minhas atividades. A Copa de 1994 teve importância especialíssima para a minha carreira e para a sequência da minha atuação não somente como jornalista, mas também como escritor.
Justamente às vésperas da Copa dos Estados Unidos (e provavelmente por causa dela) o Correio Popular promoveu a completa informatização do jornal e não mais somente suas oficinas, informatizadas dez anos antes. Havia planejado um caderno especial, de circulação diária, desse Mundial, enquanto a competição durasse. E tinha que se modernizar para viabilizar esse novo produto.
Tive o privilégio de participar desse suplemento como comentarista. Polêmico como sou, mesmo sem acreditar, no íntimo, no sucesso da Seleção, arrisquei afirmar, e logo na primeira coluna que escrevi, que o Brasil voltaria com o caneco e traria o tetra. Foi ridicularizado, claro, fizeram um monte de piadas comigo mas... Quem ri por último... ri melhor. E a seleção, comandada por Carlos Alberto Parreira, não me desmentiu e ajudou a aumentar muito meu prestígio como comentarista esportivo.
De repente, da noite para o dia, sem nenhum treinamento prévio, vimos a redação do Correio Popular ser totalmente reformada, quer em seu mobiliário, quer no equipamento de trabalho. As velhas escrivaninhas de aço, por exemplo, cederam lugar a modernas e funcionais bancadas, como as que a gente vê no cinema em filmes que têm jornais norte-americanos como cenário. Surgiram ilhas de edição agrupando editores, subeditores e repórteres de cada editoria. Antes, eles ficavam todos espalhados pelo recinto, dificultando a comunicação.
As eficientes e familiares máquinas de escrever, que eram uma espécie de extensão dos nossos próprios corpos (a minha era uma Olivetti Letera) foram aposentadas e trocadas por microcomputadores de última geração. As laudas utilizadas para redação e edição das matérias tornaram-se coisas do passado, cedendo lugar à luminosa telinha com a qual não tardaria a ficar familiarizado.
Comecei aprendendo a operar essa máquina, que no princípio me pareceu assustadora, pela manhã e já à noite, estava editando com ela, tendo que respeitar meu deadline, ou seja, o prazo rígido e inflexível do fechamento da minha editoria, o que era, é e sempre será sagrado em qualquer jornal que se preze. E sem direito a erros.
Na época, pensei: “Será que algum dia terei acesso a esse equipamento tão prático, rápido e limpo? Acho que não!” Era um sonho alto demais para as minhas condições de então. Bobagem minha, claro. Hoje, disponho de cinco microcomputadores de ultimíssima geração, de um notebook, além da máquina que utilizo na redação em que trabalho, que é da empresa, mas está sob minha responsabilidade e é como se fosse minha.
Feito esse parêntese um tanto longo, até para quebrar o gelo, voltemos à Copa do Mundo de 1994. O Brasil entrou em campo, para buscar sua vaga para a finalíssima, em 13 de julho de 1994. O adversário, reitero, era a Suécia. O “The Rose Bowl”, de Los Angeles, foi o palco onde se deu essa disputa de titãs. O estádio recebeu um público fantástico, de 91.500 pessoas. O árbitro encarregado de mediar esse jogo era o colombiano José Torres Cadenas.
Parreira escalou este time para encarar os suecos: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí) e Zinho; Bebeto e Romário. O jogo foi aquilo que se esperava: duro, amarrado, truncado, com as duas defesas prevalecendo sobre os ataques. É verdade que Ravelli, goleiro sueco, teve mais trabalho do que Taffarel.
Tudo indicava que teríamos prorrogação ou talvez, até, disputa de pênaltis, apesar da Suécia ficar com dez jogadores após a expulsão, aos 13 minutos do segundo tempo, do meiocampista Therm. Aí, veio o imponderável, que torna o futebol tão atraente e apaixonante.
Que tipo de gol era improvável que Romário, emérito artilheiro, fizesse? De falta? Não, pois ele batia bem na bola. De fora da área? Também não. Querem uma pista? Atentem para seu apelido: Baixinho. Pois é, ele não tinha (e não tem, claro) estatura para disputar jogadas aéreas, bolas cruzadas na área, principalmente com os gigantes zagueiros suecos.
Mas foi exatamente dessa forma que o gol brasileiro saiu, aos 35 minutos do segundo tempo. Ou seja, de cabeça. E marcado por quem? Justamente pelo jogador de menor estatura da Seleção, apelidado, por isso mesmo, de Baixinho, o incrível Romário!
O craque cumpriu, dessa forma, a promessa que havia feito no embarque da delegação brasileira para os Estados Unidos: a de levar o Brasil à final daquela Copa. Na ocasião, suas palavras foram mal-interpretadas e consideradas “atrevidas e arrogantes”. Todavia, com o Baixinho, ao longo de toda sua brilhante carreira, as coisas sempre foram assim: promessas eram dívidas. E essa foi devidamente paga, não há como negar.
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil, após a dramática classificação para a semifinal da Copa do Mundo de 1994, com aquela vitória tão suada sobre a Holanda, por 3 a 2, teria pela frente outra pedreira, embora se tratasse de um adversário velho conhecido, com o qual jogara diversas vezes e não só decidira um título, como enfrentara na primeira fase desse mesmo Mundial dos Estados Unidos: a Suécia.
O resultado, na ocasião, fora de 1 a 1, numa apresentação brasileira sem brilho e sem inspiração. Agora a partida adquiria características ainda mais dramáticas. Era eliminatória. Quem vencesse teria a chance de disputar o título da competição. Ao perdedor restaria o consolo de tentar chegar à terceira colocação. E isso era muito pouco, embora melhor do que nada, para as pretensões das duas equipes.
Abro aqui um parêntese para revelar mais um aspecto da minha vida. Dessa vez, é quanto às minhas atividades. A Copa de 1994 teve importância especialíssima para a minha carreira e para a sequência da minha atuação não somente como jornalista, mas também como escritor.
Justamente às vésperas da Copa dos Estados Unidos (e provavelmente por causa dela) o Correio Popular promoveu a completa informatização do jornal e não mais somente suas oficinas, informatizadas dez anos antes. Havia planejado um caderno especial, de circulação diária, desse Mundial, enquanto a competição durasse. E tinha que se modernizar para viabilizar esse novo produto.
Tive o privilégio de participar desse suplemento como comentarista. Polêmico como sou, mesmo sem acreditar, no íntimo, no sucesso da Seleção, arrisquei afirmar, e logo na primeira coluna que escrevi, que o Brasil voltaria com o caneco e traria o tetra. Foi ridicularizado, claro, fizeram um monte de piadas comigo mas... Quem ri por último... ri melhor. E a seleção, comandada por Carlos Alberto Parreira, não me desmentiu e ajudou a aumentar muito meu prestígio como comentarista esportivo.
De repente, da noite para o dia, sem nenhum treinamento prévio, vimos a redação do Correio Popular ser totalmente reformada, quer em seu mobiliário, quer no equipamento de trabalho. As velhas escrivaninhas de aço, por exemplo, cederam lugar a modernas e funcionais bancadas, como as que a gente vê no cinema em filmes que têm jornais norte-americanos como cenário. Surgiram ilhas de edição agrupando editores, subeditores e repórteres de cada editoria. Antes, eles ficavam todos espalhados pelo recinto, dificultando a comunicação.
As eficientes e familiares máquinas de escrever, que eram uma espécie de extensão dos nossos próprios corpos (a minha era uma Olivetti Letera) foram aposentadas e trocadas por microcomputadores de última geração. As laudas utilizadas para redação e edição das matérias tornaram-se coisas do passado, cedendo lugar à luminosa telinha com a qual não tardaria a ficar familiarizado.
Comecei aprendendo a operar essa máquina, que no princípio me pareceu assustadora, pela manhã e já à noite, estava editando com ela, tendo que respeitar meu deadline, ou seja, o prazo rígido e inflexível do fechamento da minha editoria, o que era, é e sempre será sagrado em qualquer jornal que se preze. E sem direito a erros.
Na época, pensei: “Será que algum dia terei acesso a esse equipamento tão prático, rápido e limpo? Acho que não!” Era um sonho alto demais para as minhas condições de então. Bobagem minha, claro. Hoje, disponho de cinco microcomputadores de ultimíssima geração, de um notebook, além da máquina que utilizo na redação em que trabalho, que é da empresa, mas está sob minha responsabilidade e é como se fosse minha.
Feito esse parêntese um tanto longo, até para quebrar o gelo, voltemos à Copa do Mundo de 1994. O Brasil entrou em campo, para buscar sua vaga para a finalíssima, em 13 de julho de 1994. O adversário, reitero, era a Suécia. O “The Rose Bowl”, de Los Angeles, foi o palco onde se deu essa disputa de titãs. O estádio recebeu um público fantástico, de 91.500 pessoas. O árbitro encarregado de mediar esse jogo era o colombiano José Torres Cadenas.
Parreira escalou este time para encarar os suecos: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho (Raí) e Zinho; Bebeto e Romário. O jogo foi aquilo que se esperava: duro, amarrado, truncado, com as duas defesas prevalecendo sobre os ataques. É verdade que Ravelli, goleiro sueco, teve mais trabalho do que Taffarel.
Tudo indicava que teríamos prorrogação ou talvez, até, disputa de pênaltis, apesar da Suécia ficar com dez jogadores após a expulsão, aos 13 minutos do segundo tempo, do meiocampista Therm. Aí, veio o imponderável, que torna o futebol tão atraente e apaixonante.
Que tipo de gol era improvável que Romário, emérito artilheiro, fizesse? De falta? Não, pois ele batia bem na bola. De fora da área? Também não. Querem uma pista? Atentem para seu apelido: Baixinho. Pois é, ele não tinha (e não tem, claro) estatura para disputar jogadas aéreas, bolas cruzadas na área, principalmente com os gigantes zagueiros suecos.
Mas foi exatamente dessa forma que o gol brasileiro saiu, aos 35 minutos do segundo tempo. Ou seja, de cabeça. E marcado por quem? Justamente pelo jogador de menor estatura da Seleção, apelidado, por isso mesmo, de Baixinho, o incrível Romário!
O craque cumpriu, dessa forma, a promessa que havia feito no embarque da delegação brasileira para os Estados Unidos: a de levar o Brasil à final daquela Copa. Na ocasião, suas palavras foram mal-interpretadas e consideradas “atrevidas e arrogantes”. Todavia, com o Baixinho, ao longo de toda sua brilhante carreira, as coisas sempre foram assim: promessas eram dívidas. E essa foi devidamente paga, não há como negar.
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