Atração pelo que é proibido
Pedro J. Bondaczuk
A natureza humana faz com que as pessoas sintam uma atração irresistível pelo que é proibido. Basta que uma determinada coisa, cujo acesso antes era vetado, venha a ser liberada, para que perca a sua atratividade.
É o que se está verificando nos últimos dias em relação ao malfadado Muro de Berlim, uma das invenções mais burras de um punhado de burocratas fanatizados alemães orientais. Desde 13 de agosto de 1961, quando essa linha divisória de concreto foi construída, até os dias de hoje, cerca de 20 mil pessoas perderam a vida na tentativa de ultrapassa-la.
Mas sempre havia gente tentando passar por ela, para uma nova vida no Ocidente. Bastou, porém, que o trânsito através do Muro de Berlim fosse liberado, para que se provasse que seus idealizadores estavam equivocados na ocasião, e permaneceram em engano durante longos e atribulados 28 anos.
Desde a quinta-feira passada, quando a histórica medida de abertura foi adotada, 500 mil alemães orientais passaram através da barreira para o lado ocidental. Destes, todavia, a grande maioria retornou para casa. Não ocorreu, portanto, o tão apregoado esvaziamento do país comunista, como muitos esperavam.
Mas certamente ele se configuraria se, num rasgo de bom senso, o novo líder da República Democrática Alemã, Egon Krenz, não tomasse tal decisão. Pela movimentação diplomática, pelas manifestações de importantes líderes do Ocidente – inclusive o presidente norte-americano, George Bush – dá para se desconfiar que haja um “dedo” de Mikhail Gorbachev em roda essa história.
Moscou não somente deixou de reprovar a abertura do Muro de Berlim (se fosse no tempo de Leonid Brezhnev, a esta altura, tanques soviéticos, certamente, estariam patrulhando as ruas da cidade dividida), como ainda aplaudiu a providência, embora mostrando surpresa com a rapidez dos acontecimentos.
Parece, finalmente, que os líderes do Leste europeu descobriram o óbvio. Ou seja, que a melhor maneira de se conservarem no poder e até de obterem uma certa popularidade, é restringindo o mínimo possível os seus cidadãos.
Eles ainda não evoluíram para o conceito da liberdade completa. Mas na atual marcha dos acontecimentos, certamente chegarão lá. Ou fazem isso, ou podem pegar os seus “bonés”, como já o fizeram Miklos Nemeth, na Hungria; Mieczyslaw Rakowski, na Polônia; Erich Honecher, na Alemanha Oriental e Todor Zhivkov, na Bulgária. E como em breve ocorrerá, certamente, com o truculento ditador romeno, Nicolae Ceausescu.
(Artigo publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 12 de novembro de 1989).
Pedro J. Bondaczuk
A natureza humana faz com que as pessoas sintam uma atração irresistível pelo que é proibido. Basta que uma determinada coisa, cujo acesso antes era vetado, venha a ser liberada, para que perca a sua atratividade.
É o que se está verificando nos últimos dias em relação ao malfadado Muro de Berlim, uma das invenções mais burras de um punhado de burocratas fanatizados alemães orientais. Desde 13 de agosto de 1961, quando essa linha divisória de concreto foi construída, até os dias de hoje, cerca de 20 mil pessoas perderam a vida na tentativa de ultrapassa-la.
Mas sempre havia gente tentando passar por ela, para uma nova vida no Ocidente. Bastou, porém, que o trânsito através do Muro de Berlim fosse liberado, para que se provasse que seus idealizadores estavam equivocados na ocasião, e permaneceram em engano durante longos e atribulados 28 anos.
Desde a quinta-feira passada, quando a histórica medida de abertura foi adotada, 500 mil alemães orientais passaram através da barreira para o lado ocidental. Destes, todavia, a grande maioria retornou para casa. Não ocorreu, portanto, o tão apregoado esvaziamento do país comunista, como muitos esperavam.
Mas certamente ele se configuraria se, num rasgo de bom senso, o novo líder da República Democrática Alemã, Egon Krenz, não tomasse tal decisão. Pela movimentação diplomática, pelas manifestações de importantes líderes do Ocidente – inclusive o presidente norte-americano, George Bush – dá para se desconfiar que haja um “dedo” de Mikhail Gorbachev em roda essa história.
Moscou não somente deixou de reprovar a abertura do Muro de Berlim (se fosse no tempo de Leonid Brezhnev, a esta altura, tanques soviéticos, certamente, estariam patrulhando as ruas da cidade dividida), como ainda aplaudiu a providência, embora mostrando surpresa com a rapidez dos acontecimentos.
Parece, finalmente, que os líderes do Leste europeu descobriram o óbvio. Ou seja, que a melhor maneira de se conservarem no poder e até de obterem uma certa popularidade, é restringindo o mínimo possível os seus cidadãos.
Eles ainda não evoluíram para o conceito da liberdade completa. Mas na atual marcha dos acontecimentos, certamente chegarão lá. Ou fazem isso, ou podem pegar os seus “bonés”, como já o fizeram Miklos Nemeth, na Hungria; Mieczyslaw Rakowski, na Polônia; Erich Honecher, na Alemanha Oriental e Todor Zhivkov, na Bulgária. E como em breve ocorrerá, certamente, com o truculento ditador romeno, Nicolae Ceausescu.
(Artigo publicado na página 22, Internacional, do Correio Popular, em 12 de novembro de 1989).
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