Friday, May 02, 2008

Verdade inconveniente


Pedro J. Bondaczuk

O homem, se quiser legar um mundo melhor às gerações futuras, deve interferir positivamente no meio ambiente, preservando o mais que possa os delicados e frágeis ecossistemas. Precisa respeitar as leis da natureza, que regem a sua própria existência. Hoje a Terra corre o iminente risco do chamado "efeito-estufa", perigoso aquecimento planetário, capaz de provocar uma catástrofe de dimensões imprevisíveis para todos os seres vivos.
O Planeta, se isso acontecer, tem condições de se regenerar. A vida? Jamais! A natureza "se defende" dos depredadores e o ser humano é o seu elo mais frágil, embora não se dê conta dessa realidade. Rios e mais rios, do mundo todo, estão sendo transformados em autênticas cloacas a céu aberto. Os mares? Nem se fala!
Toneladas de enxofre, centenas de vezes superiores à quantidade que teria varrido do mapa as cidades bíblicas de Sodoma e Gomorra, junto ao Mar Morto, são lançadas diariamente na atmosfera. Os aerossóis, sabidamente nocivos à preservação da camada de ozônio (que nos protege dos mortíferos raios cósmicos), continuam sendo usados indiscriminadamente, sem que ninguém se preocupe em proibir, ou sequer limitar, sua utilização. E outras dezenas, quiçá milhares, de agressões são cometidas diariamente, em todas as regiões da Terra, à natureza. Ninguém parece se preocupar seriamente com isso. E não é por falta de aviso.
Assisti, dia desses, ao documentário narrado e coordenado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore – que se tornou um dos mais ferrenhos ativistas em defesa do meio ambiente, tanto que ganhou, com justiça, o Prêmio Nobel da Paz do ano passado – intitulado “Verdade inconveniente”. Fiquei estarrecido com o que vi e ouvi. Sabia que já há inequívocos sinais de anúncio de catástrofe, mas nem desconfiava que a situação fosse de tamanha gravidade.
O documentário conta com a direção do cineasta David Guggenheim e mostra, entre outras coisas, o acelerado derretimento das geleiras, tanto no Pólo Norte, quanto no Sul. Esse alerta vem se somar ao documento divulgado pelas Nações Unidas no início deste ano, elaborado por um grupo dos mais eminentes cientistas, dando conta que a situação pode já ser irreversível. Trata-se, reitero, de tragédia anunciada e que, ainda assim, não sensibilizou ainda quem tem o poder de deter essa estúpida e suicida agressão à natureza.
Espécies inteiras de animais e plantas estão desaparecendo para sempre e outras estão fatalmente com seus dias contados. É a vida que está em perigo e que pede socorro! Os homens estão literalmente "matando" o único planeta do nosso Sistema Solar que possui esse fenômeno maravilhoso, chamado vida. E tudo em troca do quê? Em nome de algo vago e mutante, denominado de "progresso".
Inúmeras regiões estão passando por processos contínuos de desertificação, fazendo com que o mundo, a cada dia, mais se encolha e se restrinja. O estoque mundial de alimentos baixou perigosamente e não foi, como alguns cínicos querem dar a entender, por causa do uso de extensas áreas de terra para a plantação de cana-de-açúcar, com vistas à produção de biocombustíveis. As causas são outras e eles sabem quais são.
Florestas inteiras desaparecem, anualmente, para dar lugar, na maioria das vezes, a simples pastos. É verdade que a questão tem merecido crescente espaço na imprensa. Ao traçar este ligeiro esboço da estupidez humana, surge, mais do que depressa, a pergunta: será que vale a pena desequilibrar a natureza apenas para que a nossa locomoção, por exemplo, seja mais rápida?
É lícito que nos arrisquemos a morrer sufocados, só para que possamos andar elegantemente trajados? É vantajoso trocarmos nossos rios por mais açúcar ou os peixes dos nossos mares por mais petróleo? E chamamos a isso de "progresso"!!!
Teria sido a natureza criada em função exclusiva do homem, como tantos apregoam? Estaria a nossa espécie capacitada a agredi-la impunemente ou a alterá-la ao seu bel-prazer sem nenhuma conseqüência? A resposta óbvia é: “não” (embora muitos insensatos não se dêem conta).
O pintor francês, Eugène Delacroix, registrou a seguinte observação a propósito em seus “Diários”: “O homem domina a natureza e é por ela dominado. Só ele lhe resiste e ao mesmo tempo ultrapassa as suas leis, amplia o seu poderio graças à sua vontade e atividade. Afirmar, no entanto, que o mundo foi criado para o homem é algo que está longe de ser evidente. Tudo o que o homem constrói é, como ele, efêmero: o tempo derruba os edifícios, atulha os canais, apaga o saber – e até o nome das nações”.
A natureza tanto pode ser mãe benigna, nutriz e protetora, quanto feroz e implacável assassina, dependendo da forma com que a tratarmos. Suas leis são rígidas, duras e imutáveis e nós é que temos que nos adaptar a ela, nunca o contrário. Se formos sábios e respeitarmos suas normas, ela será fonte inesgotável de vida e de satisfações. Contudo, se a agredirmos e tentarmos domá-la, certamente nos daremos mal (como já estamos nos dando).
Seremos imolados em seu altar, como um animal qualquer, sem dó e nem piedade. É uma lição que o homem já deveria ter aprendido, na sucessão de gerações, mas que parece ainda não ter se dado conta. Olavo Bilac escreveu, a respeito, estes belíssimos versos: “Ó natureza! Ó mãe piedosa e pura!/Ó cruel, implacável assassina!/Mão que o veneno e o bálsamo propina/e aos sorrisos as lágrimas mistura!”. Mandam, tanto a sabedoria quanto a prudência e o bom-senso, que façamos dessa natureza todo-poderosa nossa fiel aliada, jamais a feroz e implacável adversária. Portanto, mãos à obra! Não há mais tempo a perder!!!

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