Sunday, May 25, 2008

DIRETO DO ARQUIVO


Povo redescobre sua força


Pedro J. Bondaczuk


A Checoslováquia, por culpa da cegueira política do truculento líder soviético, Leonid Brezhnev, que faleceu em 1982, e do servilismo do dirigente checo, Gustav Husak, perdeu 21 anos preciosos na consecução de reformas políticas e econômicas, para a introdução de um “socialismo com face humana” no país, conforme Alexander Dubcek defendia.

Nos últimos oito dias, repetindo um fenômeno que se verificou neste ano (com resultados bem diferentes) na China, em maio passado, e na Alemanha Oriental, ainda no início do corrente mês, a própria população desse Estado do Leste europeu resolveu deixar de lado o medo da repressão que havia se apossado dela, por causa do trauma deixado pelos acontecimentos dramáticos de 1968, e saiu em massa às ruas. Primeiro, timidamente, num grupo que mal chegava a 50 mil. Ontem, finalmente, numa avalanche de mais de meio milhão de cidadãos.

Se na China os protestos populares redundaram num banho de sangue, de triste memória, em Praga, pelo menos até ontem, isso não ocorreu, a despeito de uma nota de advertência do Exército local, difundida anteontem, ameaçando os manifestantes. Pelo contrário, derrubou o governo de linha dura.

O alerta dos militares pode não passar de mera bravata ou ser sintoma de desespero. Erich Honecker, antes de cair na Alemanha Oriental, usou o mesmo expediente, sem resultado. Ninguém se assustou. Os povos da Europa Oriental agora entenderam que quando o presidente soviético, Mikhail Gorbachev, afirmou que cada país da região era livre para escolher o seu próprio destino, não estava sendo meramente retórico ou desejando ganhar espaços nas manchetes.

A esta altura, ele provou, sobejamente, a sua sinceridade. Viu a Polônia, por exemplo, escolher um primeiro-ministro não comunista e não fez qualquer pressão para impedir. Muito pelo contrário. Ontem, recepcionou o premier polonês, católico e ex-assessor de Lech Walesa no sindicato Solidariedade, no Cremlin, e manifestou-lhe a disposição de estabelecer um relacionamento mais maduro e igualitário entre Moscou e Varsóvia.

Queiram ou não os chamados comunistas de linha dura do Leste europeu, a denominada “Doutrina Brezhnev” foi morta e sepultada. Hoje, na Europa Oriental, quem quiser se manter no poder precisa mostrar serviço. Apresentar uma gestão competente e sobretudo liberal. Parar de “esconder cadáveres” no armário, como vinham fazendo até aqui os dirigentes truculentos e fazer um jogo aberto com a população.

Quem não agir assim estará selando sua aposentadoria compulsória da política. Afinal, como ficou provado no correr deste ano, os tanques soviéticos não mais serão mobilizados para manter no governo ditadores cínicos, corruptos e incompetentes.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 25 de novembro de 1989).


1 comment:

Anonymous said...

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