Alguns poetas comparam o corpo humano a um “presídio de carne” que tolhe o espírito de voar livremente no infinito, sem as limitações físicas que temos. Discordo. Sem esta estrutura carnal, é verdade, estaríamos livres da dor, do cansaço e da morte. Contudo, sem ela não viveríamos a experiência ímpar de determinados prazeres que nos são dados gozar, das delícias do amor carnal, por exemplo, e de tantas e tantas outras satisfações. Devemos, isto sim, zelar por esta dádiva divina, para que permaneça saudável e íntegra pelo maior tempo possível. Claro que se trata, só, de metáfora. O Criador, em Sua absoluta sabedoria, sabe o que faz. E se nos deu esse corpo, algum objetivo tinha, que nossa limitação mental não consegue apreender. O poeta David Mourão-Ferreira escreveu poema revelador a propósito. Chama-se “Presídio” e diz: “...volta da Primavera em pleno Outono.../Nem só de carne é feito este presídio,/pois no teu corpo existe o mundo todo!”.
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