Só europeus entendem seus problemas
Pedro J. Bondaczuk
A Comunidade Econômica Européia, depois de um relativo período de marasmo, nos últimos tempos vem dando seguidos passos visando conseguir a integração de parte ponderável do continente. E não apenas no campo do intercâmbio comercial, mas também no plano político e de circulação de cidadãos.
Enfim, mesmo a duras penas, está desenvolvendo-se, lentamente, o embrião de um futuro “país”, os Estados Unidos da Europa, reunindo os doze países hoje integrantes do MCE. Acontece que o continente possui 27 sociedades nacionais. Se incluirmos os enclaves diminutos, considerados mais simbolicamente do que em sentido prático, como sendo países (casos de Andorra, San Marino, Mônaco, o principado de Lichtenstein e o Vaticano), elas chegarão a 32. O mercado Comum representa, portanto, cerca de 34% da Europa. Ou, apenas, doze países.
No outro pólo está o Leste Europeu, com sete Repúblicas mantidas pela União Soviética como uma espécie de anteparos estratégicos para evitar eventuais novas invasões do território russo, como as de Napoleão, de Hitler e, antes, dos tártaros, dos mongóis, etc.;
Os satélites de Moscou possuem, também, o seu organismo político e econômico, este mais monolítico e rígido do que o MCE. Mas nele o diálogo (às vezes até ruidoso) dos ocidentais é substituído pelo monólogo soviético. Trata-se do Conselho Para Assistência Econômica Mútua, o Comecom, que a rigor não pode ser considerado um órgão tipicamente europeu. Afinal, entre os seus dez membros permanentes, estão dois de outros continentes: a Mongólia (da Ásia) e a ocidentalíssima Cuba que, em termos geográficos nada têm a ver com a Europa, e muito menos com o Leste.
Percebe-se, portanto, que o continente está ainda muito distante de realizar ser sonho integracionista. Dos 27 países que realmente têm expressão na área, sete não estão ligados a nenhum dos dois grandes blocos econômicos e políticos: Suécia, Suíça, Noruega, Finlândia, Áustria, Islândia e Albânia.
Mas seria a Europa, realmente, tão desunida quanto se propala? Existiria, entre os povos desses 27 países, o mesmo antagonismo que opõe os EUA e a URSS? Segundo vários europeus ilustres, absolutamente não!
Geoffrey Stern, um cidadão britânico de 50 anos, professor de Relações Internacionais da London School of Economics and Political Science, acha que o que existe é desconhecimento sobre como agem e o que as pessoas do continente.
Em maio ele afirmou que “o que mais chama a atenção na Europa de hoje é uma divergência total entre as concepções americana e soviética”do que seja essa comunidade de povos, quase tão antigos quanto a própria civilização.
E o mestre prossegue: “Para os americanos, a Europa é uma unidade e eles não entendem porque ela está dividida em duas. Já os russos entendem isso perfeitamente...” De qualquer forma, o continente foi colhido no “fogo cruzado” da guerra fria. E hoje é um campo literalmente minado por milhares de ogivas nucleares, o que faz com que o europeu tenha uma certeza: em caso de uma eventual Terceira Guerra Mundial, nenhum habitante da Europa terá a mínima chance de escapar da inevitável destruição.
Uma garantia dessas, obviamente, não é nada agradável de se conviver com ela. E em nenhuma outra parte do mundo há mais motivos para se esperar um quase utópico acordo desarmamentista do que nessa área, palco milenar dos maiores embates militares já registrados na História e que pode vir a se tornar local onde seja representado o derradeiro ato da tragédia da estupidez humana.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 29 de junho de 1985).
Pedro J. Bondaczuk
A Comunidade Econômica Européia, depois de um relativo período de marasmo, nos últimos tempos vem dando seguidos passos visando conseguir a integração de parte ponderável do continente. E não apenas no campo do intercâmbio comercial, mas também no plano político e de circulação de cidadãos.
Enfim, mesmo a duras penas, está desenvolvendo-se, lentamente, o embrião de um futuro “país”, os Estados Unidos da Europa, reunindo os doze países hoje integrantes do MCE. Acontece que o continente possui 27 sociedades nacionais. Se incluirmos os enclaves diminutos, considerados mais simbolicamente do que em sentido prático, como sendo países (casos de Andorra, San Marino, Mônaco, o principado de Lichtenstein e o Vaticano), elas chegarão a 32. O mercado Comum representa, portanto, cerca de 34% da Europa. Ou, apenas, doze países.
No outro pólo está o Leste Europeu, com sete Repúblicas mantidas pela União Soviética como uma espécie de anteparos estratégicos para evitar eventuais novas invasões do território russo, como as de Napoleão, de Hitler e, antes, dos tártaros, dos mongóis, etc.;
Os satélites de Moscou possuem, também, o seu organismo político e econômico, este mais monolítico e rígido do que o MCE. Mas nele o diálogo (às vezes até ruidoso) dos ocidentais é substituído pelo monólogo soviético. Trata-se do Conselho Para Assistência Econômica Mútua, o Comecom, que a rigor não pode ser considerado um órgão tipicamente europeu. Afinal, entre os seus dez membros permanentes, estão dois de outros continentes: a Mongólia (da Ásia) e a ocidentalíssima Cuba que, em termos geográficos nada têm a ver com a Europa, e muito menos com o Leste.
Percebe-se, portanto, que o continente está ainda muito distante de realizar ser sonho integracionista. Dos 27 países que realmente têm expressão na área, sete não estão ligados a nenhum dos dois grandes blocos econômicos e políticos: Suécia, Suíça, Noruega, Finlândia, Áustria, Islândia e Albânia.
Mas seria a Europa, realmente, tão desunida quanto se propala? Existiria, entre os povos desses 27 países, o mesmo antagonismo que opõe os EUA e a URSS? Segundo vários europeus ilustres, absolutamente não!
Geoffrey Stern, um cidadão britânico de 50 anos, professor de Relações Internacionais da London School of Economics and Political Science, acha que o que existe é desconhecimento sobre como agem e o que as pessoas do continente.
Em maio ele afirmou que “o que mais chama a atenção na Europa de hoje é uma divergência total entre as concepções americana e soviética”do que seja essa comunidade de povos, quase tão antigos quanto a própria civilização.
E o mestre prossegue: “Para os americanos, a Europa é uma unidade e eles não entendem porque ela está dividida em duas. Já os russos entendem isso perfeitamente...” De qualquer forma, o continente foi colhido no “fogo cruzado” da guerra fria. E hoje é um campo literalmente minado por milhares de ogivas nucleares, o que faz com que o europeu tenha uma certeza: em caso de uma eventual Terceira Guerra Mundial, nenhum habitante da Europa terá a mínima chance de escapar da inevitável destruição.
Uma garantia dessas, obviamente, não é nada agradável de se conviver com ela. E em nenhuma outra parte do mundo há mais motivos para se esperar um quase utópico acordo desarmamentista do que nessa área, palco milenar dos maiores embates militares já registrados na História e que pode vir a se tornar local onde seja representado o derradeiro ato da tragédia da estupidez humana.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 29 de junho de 1985).
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