Saturday, May 24, 2008

Poema floral


Pedro J. Bondaczuk

Buscava o lírio, de brancura evanescente,
--- ensimesmado, a caminhar por uma estrada,
ao amanhecer, de um dia ainda recente –
que simbolizasse o meu amor, doce amada.

Samambaias enormes, saudáveis, viçosas
havia em profusão ali, onde eu passava.
Não, não queria essas samambaias formosas:
era o alvíssimo lírio que eu procurava.

Violetas, petúnias, nardos e jasmins,
tulipas, magnólias... ah, quanta fantasia!
Flores, muitas flores, de todos os jardins...
Mas era o lírio, branco lírio que eu queria.

Flores d’ouro, dos ipês, brancas, das paineiras,
ou irisadas, como os dentes-de-leão,
ou as olorosas flores das laranjeiras,
estavam todas à minha disposição.

Rosas, de todos matizes, todas cores,
--- como você, menina-mulher, em botão –
havia entre tantas e tantas outras flores,
por todos os lados que olhasse, em profusão.

Nenhuma despertou a minha fantasia,
sequer a miosótis, a flor da lembrança.
Era o lírio, somente o lírio que eu queria
para ofertar-lhe, doce amada, sem tardança.

Enfim o lírio, de evanescente brancura,
logrei encontrar, nesta andança feita a esmo.
Mas não pude pôr fim à ingente procura:
perdido, agora, busco, apenas, a mim mesmo...

(Poema composto em Campinas, em 17 de setembro de 1965).

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