Sunday, August 13, 2006
Paternidade responsável
Pedro J. Bondaczuk
A família, instituição milenar, que surgiu com o próprio homem, é e deve ser sempre o elo de amor que prenda cada ser humano aos semelhantes, propiciando condições mínimas de sobrevivência civilizada e cooperativa da espécie.. É nela que nos sentimos – ou deveríamos nos sentir – amados, protegidos, valorizados e importantes. Trata-se da primeira escola que temos e na verdade é a que assegura a formação e a consolidação do nosso caráter. Nela aprendemos desde o elementar para a vida humana (andar, falar, alimentar-se e cuidar do nosso corpo) a noções transcendentais, como Deus, pátria, solidariedade e dever, entre outras. Pelo menos deveria ser assim. Mas na maioria dos casos, não é mais.
Vários fatores externos estão fazendo das mudanças de comportamento, normais numa sociedade em transformação, que deveriam ocorrer naturalmente, e sem traumas, fatores de esfacelamento da família. Por isso, o tema da paternidade responsável torna-se mais relevante e oportuno do que nunca. A necessidade de batalhar o sustento da prole leva parte considerável dos pais a descuidar da educação dos filhos. Ademais, novos e crescentes perigos ameaçam constantemente os jovens, como o consumo de drogas, os quase irresistíveis apelos ao consumismo e uma certa frouxidão nos costumes, que os leva muitas vezes ao caminho do vício, quando não da criminalidade.
A autoridade paterna, que jamais deve ser confundida com "autoritarismo", vem sendo crescentemente contestada e colocada em xeque. A palavra dos pais já não é mais, como até tempos relativamente recentes, "a lei" dentro do lar. Parte da culpa, ressalte-se, cabe a eles mesmos. Em especial aos omissos, aqueles que sob o pretexto de falta de tempo, largam os filhos em creches, escolas de ballet, academias de ginástica, nas mãos de babás, empregadas, professores etc., como se a sua responsabilidade cessasse com o mero cumprimento da obrigação básica, que eles entendem ser a única, de prover o sustento material da casa.
Milhões de menores, que por sua vez um dia vão procriar, são criados nas ruas, sem orientação, sem fiscalização, sem os conselhos e instruções da figura que lhes deveria servir de modelo de conduta moral, e que um dia colocaram como "heróis" diante dos olhos, como paradigmas da verdade, da justiça e do dever. Sua visão da vida, da sociedade e das instituições será pautada, fatalmente, por essa experiência de omissão e pouco caso, quando não de violência. Em muitas casas, as crianças têm no pai um inimigo mortal, um verdadeiro carrasco, pior do que as feras selvagens. São indivíduos irresponsáveis, que não trabalham, não sustentam a casa, agridem e exploram aos que deveriam amar e proteger e transferem para os filhos, que tratam como mera propriedade, essa responsabilidade de manutenção do lar.
Fazem da agressão física (quando não do abuso sexual), prática comum e corriqueira. Pessoas criadas nessas circunstâncias, e nesses ambientes doentios e selvagens, acabarão, fatalmente, se comportando como feras, utilizando, na luta pela sobrevivência, a única ferramenta que foram condicionadas, desde pequenas, a utilizar: a violência. Quem não teve família estável e sólida é incapaz de valorizar a instituição. Age, tão logo se acasala e procria, da maneira como foi "treinada".
Mas felizmente existem pais conscientes, amorosos, sábios e com boa formação moral e social. Há indivíduos serenos e equilibrados, que sabem transmitir (e de fato transmitem) aos filhos princípios fundamentais e eternos de ética, de moral e de boa conduta, sem que estes sequer se apercebam. São os disciplinadores, sem serem ditatoriais. São os amigos constantes de todas as horas, nos quais podemos confiar cegamente, nos momentos de dúvida, de angústia e de dor. São os conselheiros, sem se tornarem dogmáticos. São os verdadeiros "Pais", não somente em decorrência da sua função biológica da procriação, mas porque cumprem com amor, sabedoria e competência, todas as funções inerentes a uma paternidade responsável.
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