Friday, August 11, 2006

Ostensiva paixão



Pedro J. Bondaczuk


O 106º aniversário da minha querida Associação Atlética Ponte Preta, comemorado, com justificável júbilo pela torcida que é, sem nenhuma contestação, a mais fiel do Brasil, hoje, enseja-me a feliz oportunidade de manifestar o carinho, o orgulho e a imensa paixão que sinto por este que é o clube de futebol mais velho do País, dos que estão em atividade. Esse marco extraordinário, de mais de um século de existência, simboliza, sobretudo, tradição, experiência, garra, muita luta e, principalmente, vitórias.

É toda uma história de sacrifícios, de dedicação, de fé e de superação, que se confunde com a da própria cidade. Obstáculos terríveis, que pareciam intransponíveis, foram superados com coragem e perseverança. Em compensação, essa sofrida coletividade, da qual sinto-me envaidecido de pertencer, gozou inúmeras alegrias, sucessos imorredouros, glórias inapagáveis, conquistados por heróicos e valentes atletas nos gramados nacionais. E vem mais, muito mais por aí.

É verdade que não conquistamos títulos considerados de "expressão" no futebol, embora nossa equipe feminina de basquete tenha vencido tudo o que disputou, sendo, inclusive, Bicampeã Mundial. Isso não vale? Não tem valor só para os medíocres. E os nossos juniores? Foram Bicampeões da Taça São Paulo!! Isso também não vale?!! Claro, pois, que temos títulos, e dos mais importantes, valiosos e expressivos, destaque-se.

Mesmo no futebol profissional, estivemos lá, disputando palmo a palmo com adversários com maior apoio financeiro, com absoluto respaldo da imprensa e com a parcialidade da opinião pública (e dos árbitros, logicamente), como nos quatro vice-campeonatos paulistas (1970, 1977, 1979 e 1981), todos obtidos com honra, com lealdade, com competitividade, com técnica e com férreo espírito de luta, contra tudo e contra todos, passando por cima de maracutaias, mutretas e armações de que o nosso time sempre e sempre foi vítima. Enfrentamos situações terríveis, que abateriam até os mais fortes dos fortes. Estivemos, inclusive, na iminência de desaparecer, tamanhas eram as dificuldades à nossa frente.

Estas crises, no entanto, somente nos fortaleceram. De cada uma delas, saímos maiores e mais resistentes, partindo para grandes conquistas. Uniram muito mais a nossa fidelíssima torcida que, ao invés de diminuir, como seria de se esperar, cresceu mais e mais, e se fortaleceu nas dificuldades. Bem que a Ponte Preta, esta minha queridíssima "Macaca", esta minha adorada "Veterana", poderia ostentar, como símbolo, o mesmo que é o de Campinas: a fênix.

Diz a lenda que esta ave mitológica nunca morria, mas renascia das próprias cinzas. E não foi o que aconteceu conosco, por exemplo, em 1960, quando fomos rebaixados para a Segunda Divisão do Campeonato Paulista? Amargamos nove terríveis anos, de frustrações e até de muitas humilhações, chegando duas vezes muito próximos do retorno à elite do futebol do Estado (os vice-campeonatos de 1961, quando a Prudentina subiu, e de 1965, quando perdemos para a Portuguesa Santista), perdendo na reta final. Em 1969, retornamos, contudo, ao grupo dos grandes, de onde jamais deveríamos ter saído, conquistando um título dramático, suado e pouco comemorado, mas de enorme importância e significado.

E no ano seguinte, para surpresa de todos (menos nossa, por conhecermos nossa força, garra e determinação), fomos campeões invictos do Primeiro Turno e só não conquistamos o título desse ano, por interferência incompetente (ou venal?) de arbitragens ("gatos" nunca faltaram para nos prejudicar). Fizemos história nos anos 70. Fomos, por exemplo, o primeiro clube do Interior do País e disputar o Campeonato Brasileiro (1970); o maior craque de futebol do mundo, em todos os tempos, Pelé, despediu-se dos gramados nacionais em um jogo contra a Ponte Preta (2 de outubro de 1974); fomos os grandes Campeões do Interior em 1977, conquistando o 3º Troféu Folha de S. Paulo (quem disse que não temos nenhum título?!); ganhamos o segundo turno do Campeonato Paulista de 1978, ano em que três atletas nossos (Carlos, Oscar e Polozi) disputaram a Copa do Mundo da Argentina, quando o Brasil, embora invicto, ficou em 3º lugar e fomos, em 1977, com muita honra, novamente Vice-Campeões paulistas, outra vez prejudicados pela arbitragem, diante do Corínthians.

O jogo decisivo desse ano, que ainda detém o recorde de público de uma final de Campeonato, foi uma das jornadas mais heróicas de toda a história do futebol. Tudo estava contra nós, imprensa, torcida, autoridades, chegou-se a insinuar até que a vitória do nosso adversário, que estava há 25 anos na fila sem ganhar título, era uma questão de "segurança nacional". Não se esqueçam que vivíamos, então, numa ditadura militar. Com dez jogadores desde os dez minutos do primeiro tempo, após uma estranhíssima expulsão do centroavante Ruy Rey (que mereceria, no máximo, uma advertência), nosso time valoroso, técnico, aplicado, competente e com vergonha na cara, resistiu, contra tudo e contra todos, até o último minuto do segundo tempo. Considero a Ponte Preta campeã moral daquele ano. Não vale? Para mim vale!!

Poderíamos desfiar inúmeras conquistas, todas com a marca da raça, da determinação e da competência, dos nossos atletas, mas não o faremos. Queremos, isto sim, louvar a figura do presidente Sérgio Carnielli, que um dia, certamente, terá uma estátua na entrada do Majestoso, por haver resgatado a nossa dignidade, a nossa alegria, o nosso orgulho e nos ter recolocado na trilha do sucesso. Hoje, somos um dos clubes mais respeitados e temidos do País. E não está longe o dia em que iremos comemorar, não apenas um, mas vários títulos paulistas e nacionais da Primeira Divisão. A Ponte Preta atual é um exemplo de administração, competente, honesta, sensata e vitoriosa. Parabéns, portanto, Macaquinha do meu coração, e muito obrigado pelas alegrias honestas, genuínas e constantes que vem me proporcionando há tantos anos, transformando o aparentemente "impossível", em radiosas possibilidades.

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