Thursday, August 31, 2006

Grassmann: o mago de São Simão - Final


Pedro J. Bondaczuk

HOMEM DO SEU TEMPO

A carreira de Marcelo Grassmann foi fulminante, a atestar o seu talento. Sete anos depois do início de seu aprendizado da técnica de xilogravura, conquistou, em 1950, a medalha de prata na divisão moderna do Salão de Belas Artes do Rio de Janeiro. Um ano depois, ganhou a medalha de ouro na mesma mostra.

Em 1952, foi agraciado com o prêmio mais importante da carreira de gravador. Ganhou uma viagem ao Exterior, no 1º Salão de Arte Moderna, o que lhe permitiu freqüentar a Academia Albertina de Viena. Provavelmente, vem daí sua influência dos grandes mestres alemães, dos quais o mais importante, do período do Renascimento, foi, sem dúvida, Albrecht Dürer.

Entre as gravuras do artista germânico, há uma série com temas fantásticos, misturando cavaleiros medievais, monstros imaginários e imagens torturadas. Teria vindo de Dürer, portanto, a elegância que Grassmann reflete em suas xilogravuras. A mesma elegância que não lhe permite cometer excessos, mesmo quando retrata as cenas mais terríveis e assustadoras.

Sobre a “medievalidade” dos temas do artista de São Simão, o crítico Olívio Tavares de Araújo faz esta judiciosa observação, em artigo publicado na revista “Ícaro”, de número 9, distribuída a bordo dos aviões da Varig: “É uma metáfora, e não uma aproximação tecnicamente adequada. O medieval, em Grassmann, se insinua no temático, e não no estilístico – e mesmo assim num temático puramente idealizado, imaginário. Visualmente, sua obra não se parece em nada com a arte medieval. Suas verdadeiras fontes são, antes de tudo, a imaginação inesgotável, borbulhante, que em outros tempos quase mergulhava no delírio; e o repertório de imagens com que conviveu na infância e na adolescência”.

Ressalte-se que a obra de Marcelo Grassmann não consistiu apenas em desenhos e xilogravuras. Aliás, seus trabalhos mais expressivos foram gravados em metal, técnica mais sofisticada (e complicada), que apresenta mais opções, como o talho a buril, a ponta seca, o “mezzotinto”, a água-forte e a água-tinta.

A obra de Grassmann, posto que reconhecidamente moderna, é, na verdade, atemporal. Mesmo reproduzindo fantasmas de um passado muito remoto, cria uma ponte, no tempo e no espaço, entre diversas eras. Projeta imagens –, quem sabe até transmitidas geneticamente, por algum processo ainda desconhecido – de períodos que ficaram há muito para trás, para o século XX.

O objetivo do artista é o de simbolizar, com elas, as angústias e contradições de hoje, desta vida moderna neurotizante e repleta de riscos, de encontros e desencontros, de uma imensa solidão e do terror nuclear. Afinal, ele é, sobretudo, homem de seu tempo, com suas marcas inconfundíveis e que, com signos apropriados procura transmitir, em imagens, a mesma perplexidade que Albert Einstein expressou ao dizer: “O mais extraordinário é que o mundo tem certamente um sentido”.

PRÊMIOS E EXPOSIÇÕES

1950 – Medalha de prata na divisão moderna do Salão de Belas Artes do Rio de Janeiro.
1951 – Participação na 1ª Bienal de São Paulo; medalha de ouro na divisão moderna do Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
1952 – Prêmio Viagem ao Exterior (na ocasião o maior prêmio do País) no 1º Salão Nacional de Arte Moderna; Prêmio de Aquisição no 2º Salão Paulista de Arte Moderna; Salão de Maio de Paris (coletiva); 26ª Bienal de Veneza.
1953 – 2ª Bienal de São Paulo.
1955 – 3ª Bienal de São Paulo, onde recebeu o prêmio de “Melhor Gravador Nacional”.
1957 – Grande medalha de ouro e 1º prêmio Governado do Estado no Salão Paulista de Arte Moderna; Arte Moderna no Brasil, exposição realizada em Buenos Aires e Rosário, na Argentina; Santiago do Chile e Lima, no Peru (coletiva).
1958 – 29ª Bienal de Veneza.
1959 – 5ª Bienal de São Paulo, onde recebeu o prêmio de “Melhor Desenhista Nacional”; Exposição 47 Artistas na Galeria de Arte da Folha de S. Paulo (coletiva); 1ª Bienal de Artistas Jovens de Paris (coletiva).
1961 – 6ª Bienal de São Paulo, onde recebeu o prêmio de “Melhor Desenhista Nacional”; 6ª Bienal Internacional de Tóquio.
1962 – Prêmio de Gravura na 29ª Bienal de Veneza.
1963 – Exposição 1º Resumo de Arte do Jornal do Brasil (coletiva).
1965 – Exposição Arte Brasileira Atual apresentada em Londres, no Royal College of Arts e em Viena (coletiva).
1966 – Exposições coletivas: Gravadores Brasileiros Contemporâneos, Universidade Cornell, Nova York; Arte da América Latina desde a Independência, museus de várias cidades norte-americanas: O Artista e a Máquina, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; 21º Salão Municipal de Belas Artes de Belo Horizonte e 2ª Exposição da Jovem Gravura Nacional, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

(Matéria publicada na página 29, Especial, do Correio Popular, em 28 de novembro de 1985).

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