Wednesday, August 30, 2006
Grassmann: o mago de São Simão - III
Pedro J. Bondaczuk
PAIXÃO PELA XILOGRAVURA
A pretensão inicial de Marcelo Grassmann, ainda adolescente, lá pelos fins da década de 30, era ser escultor. Fez, inclusive, algumas incursões pela escultura, mas não deixou nenhum trabalho do tipo. Desistiu logo. Percebeu que não tinha vocação para isso. Em 1943, aos 18 anos de idade, descobriu a xilogravura, cuja origem se perde no tempo.
Até a invenção da imprensa, em 1454, por Johann Gutenberg, essa técnica era utilizada para a impressão de livros e iluminuras. O texto era manualmente entalhado num único bloco de madeira, que fazia a vez de um “carimbo” e daí transposto para o papel. Era um trabalho que requeria muita habilidade e, sobretudo, paciência.
Os primeiros tipos móveis foram uma variação da técnica de xilogravura. Mas deram enorme agilidade à arte de impressão e transformaram todos os conceitos sobre comunicação. Permitiram, sobretudo, o advento da indústria gráfica e da popularização do livro, expandindo a cultura, o conhecimento e a civilização.
A xilogravura, a grosso modo, funciona assim: primeiro, o tema é desenhado pelo artista sobre um bloco de madeira (nogueira, pereira ou buxo). O fundo do desenho é elaborado desbastando-se, com a goiva – instrumento que todo marceneiro está familiarizado – a placa. As figuras ficam em relevo. Depois, é só aplicar tinta sobre o bloco e imprimir o que foi desenhado.
Existem duas técnicas principais de xilogravura. A primeira é conhecida como “Madeira de Fio”. É a utilizada, por exemplo, pelos gravadores alemães do século XVI. Cranach e Albrecht Dürer foram os artistas mais célebres que utilizaram esse método, que consiste em utilizar a goiva para fazer o fundo do desenho, aproveitando o sentido das fibras da madeira.
A segunda técnica, utilizada no século XIX para reprodução, é chamada de “Madeira de Topo”. Nela, o bloco é talhado perpendicularmente às fibras. Trata-se de uma variação do método anterior. A diferença está em detalhes. Mas os efeitos são, praticamente, os mesmos.
A impressão da xilogravura é feita em prensa tipográfica manual. Trata-se, praticamente, da mesma madeira que era usada para imprimir as iluminuras dos livros na Idade Média. O gravador tem que ser, além de muito seguro, hábil artesão, tanto na elaboração da matriz, quanto na aplicação da tinta. Depois de impressa, a gravura não comporta retoques.
A primeira exposição de trabalhos de xilogravura de Marcelo Grassmann foi em 1946. A partir de então, o artista vem colecionando êxitos, prêmios e críticas elogiosas. Manteve-se, no entanto, fiel, não somente aos temas iniciais, mas sobretudo à técnica empregada. Numa época em que a arte abstrata era a grande moda, o artista conservou a linguagem expressionista. Mas de uma forma pessoal, deixando de lado deformações e angulosidades, que jamais o seduziram.
(Matéria publicada na página 29, Especial, do Correio Popular, em 28 de novembro de 1985).
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