Monday, August 14, 2006
Japonês na Academia
O filósofo, pensador budista, escritor e poeta laureado de renome – cujas obras, inclusive como educador e fotógrafo, têm merecido aclamação mundial – Daisaku Ikeda, esteve no Brasil, em fevereiro de 1993, para tomar posse da cadeira de número 14 da Academia Brasileira de Letras. Foi o primeiro oriental a conseguir um lugar na ABL, como sócio-correspondente, e pouca gente reuniu tantos méritos, para esta e outras homenagens, quanto ele. Homem notável, este japonês, que preside a Sokka Gakai Internacional, organização não-governamental filiada às Nações Unidas, com 13 milhões de membros em todo o mundo, tem como principal objetivo de vida algo que muitos classificam de utopia: o entendimento entre os povos.
Diz-se que uma imagem passa, a quem a vê, informações que mil palavras seriam incapazes de expressar. Isto é verdade desde que quem a registre, através da fotografia, tenha, além de técnica apurada e senso de oportunidade, muita sensibilidade. A foto de uma parede nua, por exemplo, não diz coisa alguma. Quando tal fotógrafo é, também, um poeta, pode-se esperar qualquer coisa em termos de perfeição estética. É o caso de Daisaku Ikeda.
Em 1992, durante a realização da Rio-92, ele expôs seus trabalhos no Rio de Janeiro e em São Paulo, numa mostra de mais de 200 fotografias que têm um duplo objetivo: o de servir de alerta e o de transmitir esperança às pessoas. A advertência fica implícita nas imagens de tragédias e das guerras deste século de tantas maravilhas e perigos. Mas Ikeda transmite também fé no futuro, acreditando que os homens virão a se entender para preservar o Planeta, erradicar a miséria e conter as ambições nos limites da prudência.
Os mais pungentes dramas dos últimos tempos foram flagrados por suas câmeras. Como as fotos dos 11 campos de refugiados que a Sokka Gakai visitou, até 1989, onde, além de colher o material fotográfico, fez doações em torno de US$ 5 milhões para vítimas de guerras, conflitos e “revoluções salvadoras”.
Ikeda foi agraciado, em 11 de fevereiro de 1993, com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi mais uma (e justíssima) homenagem das tantas que esse humanista recebeu em vários países, em decorrência do seu empenho na construção de um mundo melhor, como a Medalha da Paz das Nações Unidas e a máxima comenda do governo brasileiro, a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.
O filósofo e poeta manteve, nas últimas três décadas, diálogos com outros idealistas famosos, como o sul-africano Nelson Mandela, o historiador inglês Arnold Toynbee, o ex-primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi (assassinado em maio de 1991) e o homem que desmontou o Estado policial soviético e selou o fim da Guerra Fria, Mikhail Gorbachev. O mundo ainda tem conserto. Basta, para isso, que as pessoas influentes, competentes, que tenham talento de fato e capacidade de comunicação, se disponham a agir, ao invés de procurar meramente posições, fortuna e essa coisa vaga e volátil chamada “poder”. Homens como Ikeda fazem mais pela paz mundial e pela concórdia entre os povos do que centenas de diplomatas, estadistas e doutrinadores que, não contentes em estragar o presente, comprometem o próprio futuro e a sobrevivência da humanidade. Eis um exemplo a ser imitado.
(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 129 a 131, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).
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