Monday, August 07, 2006

Cultura e tradição


Cultura e tradição

A cultura, em seu sentido mais amplo, alimenta-se de tradições. Ou seja, da memória das pessoas, das coisas, das situações e dos acontecimentos. A arte recorre, invariavelmente, a esse imenso acervo e faz dele a matéria-prima com a qual constrói a beleza. A pessoa culta distingue-se das menos aquinhoadas (ou mais omissas) pela preocupação permanente de lançar, no presente, pontes, vias de ligação entre o passado e o futuro que pretende construir. Daí a lembrança daqueles que, com sua inteligência e capacidade de ação, construíram a cultura de um povo, sem mais do que um ato de justiça. É, sobretudo, uma constante fonte de inspiração.
Essas considerações vêm a propósito do 50º aniversário de um campineiro ilustre, que deu fundamental contribuição ao desenvolvimento da imprensa no País, num tempo em que esta era uma atividade romântica, sem os recursos tecnológicos de que dispõe hoje. Referimo-nos a José Maria Lisboa Júnior. Sua militância no jornalismo foi longa, de meio século, já que se iniciou na atividade em 1883 pelas mãos de seu ilustre pai. Ao longo de cinco décadas de exercício da profissão ganhou destaque como diretor do jornal paulistano “Diário Popular”, função que exerceu até a morte, ocorrida em 28 de julho de 1943, na Clínica São José, no Rio de Janeiro.
Quando do seu falecimento, era o presidente da Associação Paulista de Imprensa, onde se destacou por sua obra de caráter social. Instituiu a primeira assistência médica aos profissionais dessa sofrida categoria mediante convênio com várias entidades hospitalares. Redator arguto, de texto límpido e vibrante, participou diretamente das fases mais importantes da história brasileira, como a Proclamação da República, a Guerra de Canudos e a Revolução Constitucionalista de 1932.
Lisboa Junior nasceu em Campinas em 29 de abril de 1870. Cursou Direito em São Paulo, mas tão logo obteve o bacharelato, resolveu dedicar-se ao jornalismo. Foi capitão honorário do Exército e auditor da 4ª Região Militar. Seu pai, José Maria Lisboa, foi um dos fundadores do jornal “A Província de São Paulo”, hoje “O Estado de São Paulo”. Sua trajetória brilhante, revestida de um exemplar senso ético e, principalmente, caracterizada por muito trabalho (afinal, foram 50 anos de militância), devem servir de exemplo permanente às novas gerações de profissionais da imprensa.
Dos meios de comunicação, a mídia impressa é a que mais exige dos que nela atuam. Pressupõe que seu consumidor tenha um mínimo do conhecimento, que ao menos saiba ler e entenda o que está lendo. O redator, premido pela escassez de tempo, precisa, além de domínio das técnicas de linguagem e das regras gramaticais, ter clareza na exposição de suas idéias. O poeta Afonso Henrique Neto escreveu num de seus versos que “as palavras são apenas precaríssimos sinais ante o rosto tormentoso do silêncio”.
E a despeito de sua multiplicidade, elas são escassas e pobres de expressão das grandes idéias e na descrição dos fatos com os quais o jornalista escreve a história no exato momento em que ela acontece. Daí o jornalismo paulista dever tanto a José Maria Lisboa Junior, um dos seus pioneiros. Daí Campinas dever sentir-se orgulhosa por ter sido o berço desse difusor de cultura.

(Capítulo do livro “Por uma nova utopia”, Pedro J. Bondaczuk, páginas 119 a 121, 1ª edição – 5 mil exemplares – fevereiro de 1998 – Editora M – São Paulo).

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