Saturday, August 26, 2006

E o mundo parou


E o mundo parou

Pedro J. Bondaczuk

Minha vida é composta de muitas vidas.
Transformações, encontros,
desencontros e uma
enorme perplexidade
em face do Tempo.

O encantamento da infância,
pessoas que amei
e que já não mais são...
Sonhos cristalizados
em algum meandro do cerebelo.

Amores que pareciam eternos,
mortos pelas circunstâncias.
Sua imagem, Nair, fixada
na retina, tão jovem,
tão bela, preservada
pela memória, do desgaste
da velhice.

Em algum lugar do passado
você está à minha espera,
para me redimir
dos erros, do pecado e da insensatez,
anjo guardião do Santo Graal,
em um jardim de acácias
e magnólias e hortênsias lilases.

Depois, os apelos da carne,
confundidos com amor,
fabricaram um calidoscópio
de males-entendidos.
de desgostos e traições,
deixando na boca
um travo amargo de derrota.

Depois, vieram sucessos efêmeros
que o Tempo desestruturou,
destruiu, apagou...
Ambições pueris, miragens
de areia e carvão no
deserto assustador da rotina.

Mas o mundo parou numa
tarde de domingo, num
bosque encantado de ipês
floridos, cristalizado
pelo seu sorriso de diva,
sua voz sensualmente rouca
sussurrando tentações,
seu perfume inebriante de mulher,
no limite entre a infância
de sonhos descomprometidos
e a velhice povoada
de pesadelos e de fantasmas...

(Poema composto em São Caetano do Sul, em 2 de outubro de 1962).

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