Causa e efeito no Golfo e em Nova York
Pedro J. Bondaczuk
O pânico instalou-se, ontem, no mundo econômico do Ocidente, com as bolsas de valores dos principais centros financeiros mundiais registrando baixas recordes, em muito superiores àquelas que causaram o "crack" em Wall Street, em 28 de outubro de 1929 e conduziram o Planeta à Grande Depressão da década de 1930, que desembocou na Segunda Guerra Mundial.
É possível que as causas estejam restritas somente a fatores ligados à economia. Mas a guerra do Golfo Pérsico (se não objetiva, mas pelo menos subjetivamente) deve ter tido algo a ver com isso. Afinal, nessa região está a fonte de abastecimento de energia do Ocidente. E a escalada do conflito preocupa, ainda mais se sabendo, conforme relatório que está circulando no Congresso norte-americano, que o Iraque não tem a mínima chance de vencer esta parada.
Aliás, desde o princípio desta estúpida conflagração, vimos afirmando isso em nossas análises diárias. Os iraquianos perderam a sua chance (a única que tiveram) nas dez primeiras semanas da guerra. Na ocasião, a República Islâmica estava desorganizada, caótica e virtualmente sem Exército, pouco tempo após a queda do xá. Mas as forças de Bagdá não tiveram fôlego para vencer a enorme distância que separa a fronteira entre os dois países de Teerã.
Acabaram sendo vencidas pelos desertos persas, que impediram o avanço de seus tanques e de seus soldados. Tiveram que se contentar com ações de desgaste, visando a minar a resistência econômica do adversário.
Acontece que o potencial iraniano é, em tudo, superior ao do seu adversário. Seus campos petrolíferos são mais extensos e produtivos e suas reservas são muito maiores. A chance do Iraque, de levar a melhor, estava na união do mundo árabe contra os aiatolás, o que nunca passou de mera utopia. Desde o início, a Líbia e a Síria foram as partes recalcitrantes. Jamais desejaram um conflito aberto ou disfarçado com o Irã.
Ademais, ambos sempre tiveram profundas divergências com Bagdá, que o tempo revelou serem insuperáveis. Mesmo entre as monarquias árabes do Golfo, não foram todas as que se alinharam automaticamente com a sua causa. Oman, por exemplo, mantém até hoje as melhores relações possíveis com o governo iraniano e a posição das demais, à exceção da Arábia Saudita e do Kuwait, foi, é, e promete continuar sendo extremamente ambígua, na base do "acender uma vela para o santo e outra para o demônio".
A rigor, os iraquianos levam vantagem sobre os persas somente pelo ar, o que é muito pouco para se vencer uma guerra, principalmente contra um inimigo tão determinado. Portanto, não faltam razões para o pânico no mundo das finanças, que ainda está às voltas com o déficit norte-americano, com a desvalorização do dólar e com a questão da dívida externa do Terceiro Mundo. Há, ao que parece, dias muito difíceis à frente para toda a humanidade...
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 20 de outubro de 1987).
Pedro J. Bondaczuk
O pânico instalou-se, ontem, no mundo econômico do Ocidente, com as bolsas de valores dos principais centros financeiros mundiais registrando baixas recordes, em muito superiores àquelas que causaram o "crack" em Wall Street, em 28 de outubro de 1929 e conduziram o Planeta à Grande Depressão da década de 1930, que desembocou na Segunda Guerra Mundial.
É possível que as causas estejam restritas somente a fatores ligados à economia. Mas a guerra do Golfo Pérsico (se não objetiva, mas pelo menos subjetivamente) deve ter tido algo a ver com isso. Afinal, nessa região está a fonte de abastecimento de energia do Ocidente. E a escalada do conflito preocupa, ainda mais se sabendo, conforme relatório que está circulando no Congresso norte-americano, que o Iraque não tem a mínima chance de vencer esta parada.
Aliás, desde o princípio desta estúpida conflagração, vimos afirmando isso em nossas análises diárias. Os iraquianos perderam a sua chance (a única que tiveram) nas dez primeiras semanas da guerra. Na ocasião, a República Islâmica estava desorganizada, caótica e virtualmente sem Exército, pouco tempo após a queda do xá. Mas as forças de Bagdá não tiveram fôlego para vencer a enorme distância que separa a fronteira entre os dois países de Teerã.
Acabaram sendo vencidas pelos desertos persas, que impediram o avanço de seus tanques e de seus soldados. Tiveram que se contentar com ações de desgaste, visando a minar a resistência econômica do adversário.
Acontece que o potencial iraniano é, em tudo, superior ao do seu adversário. Seus campos petrolíferos são mais extensos e produtivos e suas reservas são muito maiores. A chance do Iraque, de levar a melhor, estava na união do mundo árabe contra os aiatolás, o que nunca passou de mera utopia. Desde o início, a Líbia e a Síria foram as partes recalcitrantes. Jamais desejaram um conflito aberto ou disfarçado com o Irã.
Ademais, ambos sempre tiveram profundas divergências com Bagdá, que o tempo revelou serem insuperáveis. Mesmo entre as monarquias árabes do Golfo, não foram todas as que se alinharam automaticamente com a sua causa. Oman, por exemplo, mantém até hoje as melhores relações possíveis com o governo iraniano e a posição das demais, à exceção da Arábia Saudita e do Kuwait, foi, é, e promete continuar sendo extremamente ambígua, na base do "acender uma vela para o santo e outra para o demônio".
A rigor, os iraquianos levam vantagem sobre os persas somente pelo ar, o que é muito pouco para se vencer uma guerra, principalmente contra um inimigo tão determinado. Portanto, não faltam razões para o pânico no mundo das finanças, que ainda está às voltas com o déficit norte-americano, com a desvalorização do dólar e com a questão da dívida externa do Terceiro Mundo. Há, ao que parece, dias muito difíceis à frente para toda a humanidade...
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 20 de outubro de 1987).
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