Saturday, December 01, 2007

O Inquisidor


Pedro J. Bondaczuk

Cansado do meu insano labor
diário, em busca do sublime e belo,
entrei no meu maravilhoso castelo
onde sou o supremo amo e senhor

e, embuçado nas trevas, bem no canto
da sala, juntinho à rica lareira,
a fumar, sentado numa cadeira,
estava o Inquisidor, pro meu espanto

avaliando meus pobres troféus...
Só em me vendo, apontou-me seu dedo,
imputando-me terríveis labéus

que eu não sabia existirem. E o medo
da devassa, da ruptura dos véus
que encobriam, da minha vida, o segredo,

tornou-nos este encontro tão amargo.
Retraí-me. Fiquei na defensiva,
a rebater a feroz invectiva
do Inquisidor, que com um gesto largo

e com a voz potente de um trovão,
acusou-me por eu ser tolerante
co' a enorme devassidão reinante
e co' as injustiças. Que acusação

terrível1 Quase perdi a paciência,
pois ninguém me falara inda assim,
com tanto descaro, co' essa insolência

neste meu castelo de ouro e marfim.
"Quem és tu?", perguntei-lhe, irado, enfim.
"Sou o teu juiz! Tua Consciência!!!

(Poema composto em Campinas, em 4 de agosto de 1968).

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