Pedro J. Bondaczuk
VIII-REVOLUÇÃO DO AMOR
Albert Camus, aparentemente um pessimista, a julgar pelos livros que deixou, afirmou que "há nos homens mais coisas a admirar do que a desprezar". Outro escritor, o norte-americano Loren Eiseley, vai mais longe na avaliação da espécie, de tamanha fragilidade face o universo e, no entanto, de incomparável grandeza quando exercita a razão (seu distintivo e diferencial em relação aos demais seres vivos).
Acentua: "O homem sempre pertence em parte ao futuro, tem o poder de se transportar para além da natureza que conhece. Há muito tempo, criaturas armadas de paus e meras pedras começaram uma jornada que conduz a nós mesmos. Se não houvesse entre elas uma pequenina parcela de honra e amor, pequena, muito pequena, talvez não poderíamos estar aqui agora. Temos que recolher novamente essa pequenina parcela, em vez do nosso terrível equivalente das pedras e esforçar-nos por seguir adiante".
O amor, a compreensão e a solidariedade são outros fragmentos da minha utopia, a mesma de São Francisco de Assis, de Madre Teresa, de Irmã Dulce e de tantas outras pessoas e entidades, famosas ou anônimas, que lutam para proteger a espécie mais ameaçada de extinção de todas do Planeta: a do homem.
A vertiginosa reprodução humana, mormente no século 20, é aberrante e antinatural. Em qualquer organismo vivo, essa multiplicação desordenada seria diagnosticada como um câncer. Talvez "Gaia" já tenha esse "tumor maligno" a corroê-la e em processo de metástase.
Em vários períodos da história, povos perderam o "freio" que mantém as comunidades ordenadas e sadias, chamado "moral" e pagaram altíssimo (diria intolerável) preço por isso. Foi o caso dos romanos, por exemplo, quando da invasão dos bárbaros. É o que vem acontecendo agora, com as insensatas tentativas de dissolução de uma das mais antigas e eficientes instituições humanas, a família, sem que nada de melhor seja criado.
Isso resulta numa irresponsável liberação de instintos cegos – principalmente por uma maioria despreparada para a vida –, aqueles mesmos, citados por Eiseley, como os "equivalentes das pedras". Essa perda de autocontrole faz com que a humanidade tenha, como contraponto da evolução tecnológica, um perigosíssimo retrocesso ético. Surge, em nosso século, uma "subespécie" humana, faminta, miserável, obscura e selvagem. É o anticlímax da evolução. A preservação da moral, de maneira espontânea e consentida, mediante um processo de conscientização geral, é outro fragmento da nossa utopia.
É preciso que valores duramente conquistados ao longo de milênios – como respeito, lealdade, honra, fidelidade, amor e solidariedade, entre outros – sejam resgatados e ampliados e não se transformem, como hoje, em simples palavras, despidas de conteúdo, despojadas de significado.
Roger William Riis lembra que "somente nós, entre as coisas vivas, descobrimos a Beleza, a amamos e criamo-la para os nossos olhos e para os nossos ouvidos. Somente nós, entre as coisas vivas, temos o dom de contemplar o ambiente que nos cerca e criticá-lo e torná-lo melhor".
Nessa mesma linha, o autor teatral Thornton Wilder, na peça "Our Town" (Nossa Cidade), coloca na boca de um personagem: "Oh, Terra, és maravilhosa demais para que alguém te perceba. Acaso os seres humanos têm consciência da vida enquanto vivem? Da vida em todos os seus minutos?". O ideal de beleza, de cultura, de harmonia e de inteligência plena complementa a minha utopia. Ela, contudo, é coroada mediante a defesa intransigente da vida, de cada vida, de toda a vida, animal ou vegetal, racional ou irracional.
Loren Eiseley nos lembra que "em nosso mundo, mesmo uma aranha se recusa a deitar-se e morrer, se um fio ainda pode ser tecido em direção a uma estrela". Essa utopia, mal-esboçada, incompleta, inacabada, a soma de todas as magníficas utopias que já foram urdidas e que ainda o serão, tem tudo para deixar o plano do ideal, das elucubrações e fantasias e tornar-se concreta. Basta que queiramos. Basta que ajamos nesse sentido. Basta que não nos conformemos jamais com a decadência da civilização nem jamais admitamos a robotização do homem.
Eclesiastes, o pregador, nos ensinou: "Tudo tem a sua hora, cada empreendimento tem o seu tempo debaixo do céu: tempo para nascer, tempo para morrer; tempo para plantar, tempo para colher; tempo para matar, tempo para curar; tempo para destruir, tempo para edificar; tempo para chorar, tempo para sorrir; tempo para lamentar, tempo para dançar; tempo para espalhar pedras, tempo para ajuntar pedras; tempo para abraçar, tempo para abster-se de abraços; tempo para procurar, tempo para perder; tempo para guardar, tempo para jogar fora; tempo para rasgar, tempo para coser; tempo para falar, tempo para calar; tempo para amar, tempo para odiar; tempo para a guerra e tempo para a paz".
O tempo agora é para agir. Para cada um fazer a sua parcela, cumprir seu papel, dizer a que veio para esta magnífica e fascinante experiência de existir. Exerçamos, pois, até a plenitude esse potencial de racionalidade que possuímos e que nos confere a imagem e a semelhança com o criador do Universo. Sejamos os "anjos da guarda" de Gaia, jamais o seu "Satã".
(Texto do livro "Por uma nova utopia-2", em fase de redação, sujeito a revisão)
VIII-REVOLUÇÃO DO AMOR
Albert Camus, aparentemente um pessimista, a julgar pelos livros que deixou, afirmou que "há nos homens mais coisas a admirar do que a desprezar". Outro escritor, o norte-americano Loren Eiseley, vai mais longe na avaliação da espécie, de tamanha fragilidade face o universo e, no entanto, de incomparável grandeza quando exercita a razão (seu distintivo e diferencial em relação aos demais seres vivos).
Acentua: "O homem sempre pertence em parte ao futuro, tem o poder de se transportar para além da natureza que conhece. Há muito tempo, criaturas armadas de paus e meras pedras começaram uma jornada que conduz a nós mesmos. Se não houvesse entre elas uma pequenina parcela de honra e amor, pequena, muito pequena, talvez não poderíamos estar aqui agora. Temos que recolher novamente essa pequenina parcela, em vez do nosso terrível equivalente das pedras e esforçar-nos por seguir adiante".
O amor, a compreensão e a solidariedade são outros fragmentos da minha utopia, a mesma de São Francisco de Assis, de Madre Teresa, de Irmã Dulce e de tantas outras pessoas e entidades, famosas ou anônimas, que lutam para proteger a espécie mais ameaçada de extinção de todas do Planeta: a do homem.
A vertiginosa reprodução humana, mormente no século 20, é aberrante e antinatural. Em qualquer organismo vivo, essa multiplicação desordenada seria diagnosticada como um câncer. Talvez "Gaia" já tenha esse "tumor maligno" a corroê-la e em processo de metástase.
Em vários períodos da história, povos perderam o "freio" que mantém as comunidades ordenadas e sadias, chamado "moral" e pagaram altíssimo (diria intolerável) preço por isso. Foi o caso dos romanos, por exemplo, quando da invasão dos bárbaros. É o que vem acontecendo agora, com as insensatas tentativas de dissolução de uma das mais antigas e eficientes instituições humanas, a família, sem que nada de melhor seja criado.
Isso resulta numa irresponsável liberação de instintos cegos – principalmente por uma maioria despreparada para a vida –, aqueles mesmos, citados por Eiseley, como os "equivalentes das pedras". Essa perda de autocontrole faz com que a humanidade tenha, como contraponto da evolução tecnológica, um perigosíssimo retrocesso ético. Surge, em nosso século, uma "subespécie" humana, faminta, miserável, obscura e selvagem. É o anticlímax da evolução. A preservação da moral, de maneira espontânea e consentida, mediante um processo de conscientização geral, é outro fragmento da nossa utopia.
É preciso que valores duramente conquistados ao longo de milênios – como respeito, lealdade, honra, fidelidade, amor e solidariedade, entre outros – sejam resgatados e ampliados e não se transformem, como hoje, em simples palavras, despidas de conteúdo, despojadas de significado.
Roger William Riis lembra que "somente nós, entre as coisas vivas, descobrimos a Beleza, a amamos e criamo-la para os nossos olhos e para os nossos ouvidos. Somente nós, entre as coisas vivas, temos o dom de contemplar o ambiente que nos cerca e criticá-lo e torná-lo melhor".
Nessa mesma linha, o autor teatral Thornton Wilder, na peça "Our Town" (Nossa Cidade), coloca na boca de um personagem: "Oh, Terra, és maravilhosa demais para que alguém te perceba. Acaso os seres humanos têm consciência da vida enquanto vivem? Da vida em todos os seus minutos?". O ideal de beleza, de cultura, de harmonia e de inteligência plena complementa a minha utopia. Ela, contudo, é coroada mediante a defesa intransigente da vida, de cada vida, de toda a vida, animal ou vegetal, racional ou irracional.
Loren Eiseley nos lembra que "em nosso mundo, mesmo uma aranha se recusa a deitar-se e morrer, se um fio ainda pode ser tecido em direção a uma estrela". Essa utopia, mal-esboçada, incompleta, inacabada, a soma de todas as magníficas utopias que já foram urdidas e que ainda o serão, tem tudo para deixar o plano do ideal, das elucubrações e fantasias e tornar-se concreta. Basta que queiramos. Basta que ajamos nesse sentido. Basta que não nos conformemos jamais com a decadência da civilização nem jamais admitamos a robotização do homem.
Eclesiastes, o pregador, nos ensinou: "Tudo tem a sua hora, cada empreendimento tem o seu tempo debaixo do céu: tempo para nascer, tempo para morrer; tempo para plantar, tempo para colher; tempo para matar, tempo para curar; tempo para destruir, tempo para edificar; tempo para chorar, tempo para sorrir; tempo para lamentar, tempo para dançar; tempo para espalhar pedras, tempo para ajuntar pedras; tempo para abraçar, tempo para abster-se de abraços; tempo para procurar, tempo para perder; tempo para guardar, tempo para jogar fora; tempo para rasgar, tempo para coser; tempo para falar, tempo para calar; tempo para amar, tempo para odiar; tempo para a guerra e tempo para a paz".
O tempo agora é para agir. Para cada um fazer a sua parcela, cumprir seu papel, dizer a que veio para esta magnífica e fascinante experiência de existir. Exerçamos, pois, até a plenitude esse potencial de racionalidade que possuímos e que nos confere a imagem e a semelhança com o criador do Universo. Sejamos os "anjos da guarda" de Gaia, jamais o seu "Satã".
(Texto do livro "Por uma nova utopia-2", em fase de redação, sujeito a revisão)
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