Pedro J. Bondaczuk
A palavra "amor", seja em que língua ou dialeto for, é, certamente, a mais citada, (embora a menos compreendida em seu real significado), em poemas, romances, novelas, letras de canções etc. em todo o mundo, através dos tempos, desde o surgimento das civilizações, das artes e da escrita.
O termo sempre se viu cercado de extrema ambigüidade. Dependendo do contexto, tem sido utilizado, até mesmo (por paradoxal que pareça) para exprimir seu antônimo, o ódio, sem que aquele que o utiliza com tanta inadequação sequer se dê conta. Pois é este sentimento inexplicável (e não-explicado), mais falado do que praticado; esta elevada emoção, que todos sentimos algum dia na vida, mas que, por alguma razão, alguns de nós sufocamos; o tema central desta minha descompromissada reflexão. Se lhe soar piegas, paciência! Dê-me o devido desconto.
Todos os momentos, no amor, são maiúsculos, soberbos, grandiosos. Em presença da pessoa amada, nos sentimos no paraíso, mesmo que o mundo ao nosso redor esteja desmoronando. E a sua ausência é marcada pela angústia, pela inquietação e por extrema ansiedade. Para quem ama, essa observação é desnecessária, de tão óbvia que é. Para quem não...
No entanto, há os que “julgam” que amam, mas não nutrem, de fato, esse sentimento. Sentem, apenas, atração física, ou mera simpatia, ou qualquer outra coisa que confundem com o amor. E argumentam que sua ternura tem que ser demonstrada, apenas, nos “grandes momentos”, que sequer sabem definir quais sejam. Trata-se, claro, de grande equívoco. Essas pessoas não amam, de verdade, embora achem que sim. Afinal, como Laure Conan nos lembra, com muita argúcia: “Nada é pequeno no amor. Quem espera as grandes ocasiões para provar sua ternura não sabe amar”. Não sabe mesmo.
Não faz muito, sem que sequer tivesse planejado, assim, por acaso, empreendi emotiva “jornada sentimental”, uma espécie de regresso ao passado, e revivi, na memória, um dos melhores momentos da minha vida: o da súbita e incontida paixão pela mulher da minha vida, que encantou (e continua encantando), desde então, todos os meus dias. Vamos por partes.
Sempre que posso, em especial nos domingos de sol, vou ao Parque Portugal, aqui de Campinas, mais conhecido como Lagoa do Taquaral, local dos mais aprazíveis – guardadas as devidas proporções, é uma espécie de Parque Barigüi de Curitiba, posto que menor do que esse logradouro curitibano – para respirar um pouco de ar puro, em meio à poluição da metrópole. E, principalmente, para fugir de maçantes obrigações e da estressante agitação do dia-a-dia. Trata-se de saudável e benfazeja pausa para meditação que presenteio a mim mesmo. O local, bastante arborizado, conta com diversos bancos e algumas mesas próprias para piquenique. É, portanto, entre outras utilidades, excelente lugar para se namorar.
Costumo, sempre que vou lá, levar um livro, geralmente de poesia, que leio a intervalos, aos “goles”, tal como faço quando degusto um vinho de safra nobre. Nesse dia, levava comigo “No silêncio do espelho”, do saudoso poeta Mauro Sampaio, cuja amizade tive o privilégio de privar. Entre um verso e outro, deixei a mente divagar, sem me concentrar em nada de específico, só atentando, com um pouco mais de atenção, nas meninas bonitas que por lá circulavam (e que, a bem da verdade, há em profusão nessa ex-Terra das Andorinhas). Afinal, beleza sempre faz bem aos olhos e ao coração.
Subitamente, percebi que, atrás de mim, num outro banco, a uma distância de no máximo três metros, um jovem casal trocava carícias, abstraído do mundo, da vida e de tudo e de todos ao seu redor, num estado de êxtase que só o amor correspondido pode proporcionar. Em geral, sou uma pessoa discreta e não costumo bisbilhotar ninguém. Acho uma atitude no mínimo indelicada meter o nariz onde não sou chamado. Ainda mais que, onde eu estava, podia ouvir nitidamente tudo o que o casal de namorados dizia. Ou melhor, sussurrava, ou tartamudeava, ou grunhia, sei lá!.
Até cheguei a ensaiar uma discreta retirada. Uma curiosidade súbita e incontida, porém, fez com que não arredasse pé dali. Fingi estar absorto na leitura dos mágicos versos de Mauro Sampaio, quando na verdade estava era atento aos arrulhos, murmúrios e carícias dos jovens namorados. A rigor, não distingui uma única palavra do que os pombinhos diziam, entre suspiros e gemidos, entremeados de um sem-número de “inhos”. Tive a certeza, porém, de que ambos entendiam o que o outro queria expressar, na linguagem própria e incoerente (para os que não experimentam ou nunca experimentaram loucuras do amor), mas inteligível para os amantes, já que é universal, intemporal e... única.
Revivi, na memória, momentos usufruídos há 40 anos com a “dona” dos meus sentimentos e atos. Passaram, diante dos meus olhos cansados, as quatro últimas décadas de lutas, de sacrifícios, de sobressaltos e crises, mas de absoluta cumplicidade que tive o privilégio de viver. O casamento, os primeiros tempos de paixão e de delírio, a chegada dos filhos, o empenho em prover-lhes uma boa educação, as doenças (deles e nossas), as brigas, as reconciliações e tantas e tantas outras circunstâncias de uma vida a dois, desfilaram na memória, vívidas e reais, tendo, como “trilha sonora”, os arrulhos e juras de amor do jovem casalzinho.
Desejei, de coração, que seu amor fosse robusto e resistente, como o meu. Que sobrevivesse às intempéries e dificuldades, crescesse mais e mais a cada manhã e que ambos tivessem coragem, disposição e, principalmente, lucidez para manifestar, um ao outro, sempre, o que sentiam, sem esperar ocasiões “especiais” para isso. O mais que pudesse falar sobre esse momento tão peculiar não passaria de má literatura, perfeitamente dispensável. Por isso, poupo-o desse tormento, paciente leitor.
Só acrescento que pouco depois, minha amada chegou, para levar-me para casa (não dirijo, minha motorista é ela). Achou-me corado, radiante, “mais jovem” até, conforme me confidenciou. Não lhe respondi. Ainda estava absorto em minhas recordações.
Pedi-lhe, apenas, que ligasse o rádio e... surpresa! Naquele exato momento, por felicíssima coincidência (seria, de fato, coincidência?) tocava a popularíssima composição de B. Gree, L. Brown e B. Homer “Sentimental Journey”, um dos clássicos do cancioneiro popular norte-americano, executada pela Orquestra Tabajara.
Sem sequer me dar conta do que fazia, ordenei-lhe, abruptamente, que encostasse o carro. E, para sua surpresa (e minha também) dei-lhe, num irresistível impulso, um longo, apaixonado e cálido beijo de amor, retomando, assim, uma jornada sentimental iniciada há felizes 40 anos... Afinal, o amor não tem idade, não é fato?!
A palavra "amor", seja em que língua ou dialeto for, é, certamente, a mais citada, (embora a menos compreendida em seu real significado), em poemas, romances, novelas, letras de canções etc. em todo o mundo, através dos tempos, desde o surgimento das civilizações, das artes e da escrita.
O termo sempre se viu cercado de extrema ambigüidade. Dependendo do contexto, tem sido utilizado, até mesmo (por paradoxal que pareça) para exprimir seu antônimo, o ódio, sem que aquele que o utiliza com tanta inadequação sequer se dê conta. Pois é este sentimento inexplicável (e não-explicado), mais falado do que praticado; esta elevada emoção, que todos sentimos algum dia na vida, mas que, por alguma razão, alguns de nós sufocamos; o tema central desta minha descompromissada reflexão. Se lhe soar piegas, paciência! Dê-me o devido desconto.
Todos os momentos, no amor, são maiúsculos, soberbos, grandiosos. Em presença da pessoa amada, nos sentimos no paraíso, mesmo que o mundo ao nosso redor esteja desmoronando. E a sua ausência é marcada pela angústia, pela inquietação e por extrema ansiedade. Para quem ama, essa observação é desnecessária, de tão óbvia que é. Para quem não...
No entanto, há os que “julgam” que amam, mas não nutrem, de fato, esse sentimento. Sentem, apenas, atração física, ou mera simpatia, ou qualquer outra coisa que confundem com o amor. E argumentam que sua ternura tem que ser demonstrada, apenas, nos “grandes momentos”, que sequer sabem definir quais sejam. Trata-se, claro, de grande equívoco. Essas pessoas não amam, de verdade, embora achem que sim. Afinal, como Laure Conan nos lembra, com muita argúcia: “Nada é pequeno no amor. Quem espera as grandes ocasiões para provar sua ternura não sabe amar”. Não sabe mesmo.
Não faz muito, sem que sequer tivesse planejado, assim, por acaso, empreendi emotiva “jornada sentimental”, uma espécie de regresso ao passado, e revivi, na memória, um dos melhores momentos da minha vida: o da súbita e incontida paixão pela mulher da minha vida, que encantou (e continua encantando), desde então, todos os meus dias. Vamos por partes.
Sempre que posso, em especial nos domingos de sol, vou ao Parque Portugal, aqui de Campinas, mais conhecido como Lagoa do Taquaral, local dos mais aprazíveis – guardadas as devidas proporções, é uma espécie de Parque Barigüi de Curitiba, posto que menor do que esse logradouro curitibano – para respirar um pouco de ar puro, em meio à poluição da metrópole. E, principalmente, para fugir de maçantes obrigações e da estressante agitação do dia-a-dia. Trata-se de saudável e benfazeja pausa para meditação que presenteio a mim mesmo. O local, bastante arborizado, conta com diversos bancos e algumas mesas próprias para piquenique. É, portanto, entre outras utilidades, excelente lugar para se namorar.
Costumo, sempre que vou lá, levar um livro, geralmente de poesia, que leio a intervalos, aos “goles”, tal como faço quando degusto um vinho de safra nobre. Nesse dia, levava comigo “No silêncio do espelho”, do saudoso poeta Mauro Sampaio, cuja amizade tive o privilégio de privar. Entre um verso e outro, deixei a mente divagar, sem me concentrar em nada de específico, só atentando, com um pouco mais de atenção, nas meninas bonitas que por lá circulavam (e que, a bem da verdade, há em profusão nessa ex-Terra das Andorinhas). Afinal, beleza sempre faz bem aos olhos e ao coração.
Subitamente, percebi que, atrás de mim, num outro banco, a uma distância de no máximo três metros, um jovem casal trocava carícias, abstraído do mundo, da vida e de tudo e de todos ao seu redor, num estado de êxtase que só o amor correspondido pode proporcionar. Em geral, sou uma pessoa discreta e não costumo bisbilhotar ninguém. Acho uma atitude no mínimo indelicada meter o nariz onde não sou chamado. Ainda mais que, onde eu estava, podia ouvir nitidamente tudo o que o casal de namorados dizia. Ou melhor, sussurrava, ou tartamudeava, ou grunhia, sei lá!.
Até cheguei a ensaiar uma discreta retirada. Uma curiosidade súbita e incontida, porém, fez com que não arredasse pé dali. Fingi estar absorto na leitura dos mágicos versos de Mauro Sampaio, quando na verdade estava era atento aos arrulhos, murmúrios e carícias dos jovens namorados. A rigor, não distingui uma única palavra do que os pombinhos diziam, entre suspiros e gemidos, entremeados de um sem-número de “inhos”. Tive a certeza, porém, de que ambos entendiam o que o outro queria expressar, na linguagem própria e incoerente (para os que não experimentam ou nunca experimentaram loucuras do amor), mas inteligível para os amantes, já que é universal, intemporal e... única.
Revivi, na memória, momentos usufruídos há 40 anos com a “dona” dos meus sentimentos e atos. Passaram, diante dos meus olhos cansados, as quatro últimas décadas de lutas, de sacrifícios, de sobressaltos e crises, mas de absoluta cumplicidade que tive o privilégio de viver. O casamento, os primeiros tempos de paixão e de delírio, a chegada dos filhos, o empenho em prover-lhes uma boa educação, as doenças (deles e nossas), as brigas, as reconciliações e tantas e tantas outras circunstâncias de uma vida a dois, desfilaram na memória, vívidas e reais, tendo, como “trilha sonora”, os arrulhos e juras de amor do jovem casalzinho.
Desejei, de coração, que seu amor fosse robusto e resistente, como o meu. Que sobrevivesse às intempéries e dificuldades, crescesse mais e mais a cada manhã e que ambos tivessem coragem, disposição e, principalmente, lucidez para manifestar, um ao outro, sempre, o que sentiam, sem esperar ocasiões “especiais” para isso. O mais que pudesse falar sobre esse momento tão peculiar não passaria de má literatura, perfeitamente dispensável. Por isso, poupo-o desse tormento, paciente leitor.
Só acrescento que pouco depois, minha amada chegou, para levar-me para casa (não dirijo, minha motorista é ela). Achou-me corado, radiante, “mais jovem” até, conforme me confidenciou. Não lhe respondi. Ainda estava absorto em minhas recordações.
Pedi-lhe, apenas, que ligasse o rádio e... surpresa! Naquele exato momento, por felicíssima coincidência (seria, de fato, coincidência?) tocava a popularíssima composição de B. Gree, L. Brown e B. Homer “Sentimental Journey”, um dos clássicos do cancioneiro popular norte-americano, executada pela Orquestra Tabajara.
Sem sequer me dar conta do que fazia, ordenei-lhe, abruptamente, que encostasse o carro. E, para sua surpresa (e minha também) dei-lhe, num irresistível impulso, um longo, apaixonado e cálido beijo de amor, retomando, assim, uma jornada sentimental iniciada há felizes 40 anos... Afinal, o amor não tem idade, não é fato?!
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