Tuesday, June 26, 2007

Por uma nova utopia-2


Pedro J. Bondaczuk

VII-A IDADE DE OURO

Desde a invenção da escrita, milhares de textos foram deixados à posteridade, sobre uma suposta e desejável "Idade de Ouro", quando os homens teriam vivido em inocência, o vício da cupidez ainda não havia criado as odiosas divisões de classe e a humanidade seria harmoniosa e feliz. Provavelmente, os autores, das mais diversas épocas, lugares e costumes, expressaram somente o seu ideal, a utopia das utopias.

A partir da Renascença, com o advento da era das grandes navegações, circularam lendas a propósito da existência de um lugar de plena felicidade. Seria uma ilha, perdida em vastidões oceânicas e isolada do mundo, para evitar o contágio das pseudocivilizações existentes, mormente as européias e asiáticas. Foi à procura desse hipotético paraíso que Cristóvão Colombo aportou na América, julgando estar na Ásia, próximo à procurada "ilha das especiarias".

O espanhol Cabeza de Vaca situou esse edênico local no coração da América do Sul, nos altiplanos andinos, provavelmente nos arredores do Lago Titicaca, no Peru ou no centro da Colômbia. Fernão de Magalhães circunavegou o Planeta e julgou ter descoberto a "ilha de ouro" nas Filipinas, onde morreu em combate com os nativos locais. Mungo Park e Richard Burton entenderam que esse paraíso existisse no interior da África e empreenderam, em vão, exaustiva jornada por vastas extensões desse continente, que lhes exauriu a saúde e abreviou a vida. Vitus Behring procurou esse lendário lugar no Extremo Norte da Terra, sem encontrá-lo. Encontrou foi a morte, mas descobriu a passagem entre a Ásia e a América.

Essa "ilha de ouro" não existe. Ainda está por ser construída por pessoas de larga visão e de boa vontade. Sua localização não vai estar em algum minúsculo pedaço de terra do Pacífico Sul, do Atlântico Norte ou de qualquer outro dos mares da Terra. Será neste próprio e bizarro planeta azul, em sua totalidade, assim que seus habitantes reciclarem suas prioridades e se derem conta da estupidez de acumular bugigangas, como fazem desde que tiveram o primeiro lampejo de consciência.

Embora seja óbvio que deste mundo não levamos coisa alguma, tão logo a morte – fatalidade biológica que atinge indistintamente o humilde e o poderoso, o sábio e o néscio, o rico e o miserável – nivele a todos, mas ao contrário deixamos atos e fatos e gestos de amor, o ideal das últimas gerações tem sido apenas o de juntar coisas, em geral inúteis.

(Texto do livro "Por uma nova utopia-2", em fase de redação e sujeito a revisão).

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