Pedro J. Bondaczuk
O homem, para manter uma vida digna e saudável, em que se sinta bem com o próximo e principalmente com ele mesmo, tem necessidades que vão além daquelas básicas, elementares, fundamentais, instintivas, como a alimentação, a higiene e a proteção.
A fome humana mais difícil de ser saciada e a que mais estragos provoca não é a física (embora esta seja inconcebível), mas a mental, a estética, a espiritual. Privar uma pessoa da beleza é condená-la a uma existência penosa, brutal, sem graça ou sabor, na verdade uma tortura emocional.
O escritor William Somerset Maugham abordou essa questão em seu romance "O véu pintado". Colocou estas palavras, rigorosamente verdadeiras, na boca de um dos personagens mais lúcidos dessa história: "Ás vezes penso que a única coisa que torna possível viver sem repugnância neste mundo é a beleza que de quando em quando os homens criam do caos. Os quadros que pintam, as músicas que compõem, os livros que escrevem e as vidas que levam. E em tudo isso o que encerra maior beleza é uma vida bela. Essa é que é a perfeita obra de arte".
Apenas uma pessoa muito insensível e amarga não se empolga, por exemplo, com a biografia de São Francisco de Assis, toda feita de privações a que se auto-impôs e de amor. De respeito pelo homem, pelos demais animais, pelas plantas, pelos pássaros, pela natureza. Em última instância, pela vida em sua essência. "Bem, esse não vale, pois foi um santo", dirão alguns. Tudo bem, admitamos que sim.
Mas a norte-americana Helen Keller nunca foi incluída na categoria dos dotados de santidade (embora merecesse, sem dúvida, pelas virtudes que mostrou). No entanto, deu lições de garra, de coragem e de otimismo. Mesmo sendo cega e surda, tornou-se das maiores conferencistas dos Estados Unidos. Escreveu, através de sua enfermeira, Anne Sulivan, artigos profundos, positivos, animadores. Sua vida foi bela... belíssima... linda... lindíssima... uma obra de arte acabada e perfeita.
Ela também não foi exceção. Milhares, milhões de pessoas em todo o mundo, feridas pela natureza na própria carne, quando não na mente, souberam contornar seus problemas, adaptar-se ao mundo, e dar lições de grandeza e de criatividade.
Ludwig van Beethoven foi surdo e, no entanto, criou suas geniais sinfonias. Vincent Van Gogh terminou seus dias num asilo de loucos, em Saint-Rémy, mas deixou para a humanidade uma obra imortal, em que lembra o mito de Prometeu, o herói da mitologia grega que fez um homem de barro e lhe deu vida roubando o fogo sagrado de Zeus. O pintor holandês deu-a às projeções das visões atormentadas da sua mente. Venceu, sem sequer contar com motivação. Jamais vendeu um quadro antes de morrer. Construiu uma vida tragicamente bela.
Por que não podemos também – se não tivermos talento (ou se não descobrirmos que o temos) para criar beleza – fazer com que nossa existência seja uma obra de arte? Por que não trabalhamos essa matéria-prima bruta, essa oportunidade de existir, sem atentarmos para as dificuldades; sem nos assustarmos com a falta de solidariedade e com o egoísmo alheios; sem nos acovardarmos diante dos obstáculos e perigos?
Maugham, em outro de seus livros (este de contos), intitulado "29 Histórias", observa: "A vida da maioria dos homens é determinada pelo ambiente. Eles aceitam as circunstâncias em meio às quais o destino as jogou, não só com resignação, mas até mesmo com boa vontade. São como bondes que deslizam contentes sobre os trilhos, desprezando o lampeiro automóvel que se movimenta de um lado para outro no tráfego e que corre veloz pelo campo".
São pessoas que inventam desculpas (precisam inventar) para justificar fracassos, lamúrias e a mediocridade assumida. Vegetam em mundos cinzentos, escuros, sombrios, amargos e violentos, morrendo lentamente de fome, embora bem-alimentadas. O que lhes mingua não é o pão. Não é o vinho, não são as carnes, não são as massas e não são os frutos, dos quais, muitas vezes, até se fartam. São, isso sim, pobres, paupérrimas, miseráveis, miserabilíssimas, indigentes criaturas famintas de beleza.
O homem, para manter uma vida digna e saudável, em que se sinta bem com o próximo e principalmente com ele mesmo, tem necessidades que vão além daquelas básicas, elementares, fundamentais, instintivas, como a alimentação, a higiene e a proteção.
A fome humana mais difícil de ser saciada e a que mais estragos provoca não é a física (embora esta seja inconcebível), mas a mental, a estética, a espiritual. Privar uma pessoa da beleza é condená-la a uma existência penosa, brutal, sem graça ou sabor, na verdade uma tortura emocional.
O escritor William Somerset Maugham abordou essa questão em seu romance "O véu pintado". Colocou estas palavras, rigorosamente verdadeiras, na boca de um dos personagens mais lúcidos dessa história: "Ás vezes penso que a única coisa que torna possível viver sem repugnância neste mundo é a beleza que de quando em quando os homens criam do caos. Os quadros que pintam, as músicas que compõem, os livros que escrevem e as vidas que levam. E em tudo isso o que encerra maior beleza é uma vida bela. Essa é que é a perfeita obra de arte".
Apenas uma pessoa muito insensível e amarga não se empolga, por exemplo, com a biografia de São Francisco de Assis, toda feita de privações a que se auto-impôs e de amor. De respeito pelo homem, pelos demais animais, pelas plantas, pelos pássaros, pela natureza. Em última instância, pela vida em sua essência. "Bem, esse não vale, pois foi um santo", dirão alguns. Tudo bem, admitamos que sim.
Mas a norte-americana Helen Keller nunca foi incluída na categoria dos dotados de santidade (embora merecesse, sem dúvida, pelas virtudes que mostrou). No entanto, deu lições de garra, de coragem e de otimismo. Mesmo sendo cega e surda, tornou-se das maiores conferencistas dos Estados Unidos. Escreveu, através de sua enfermeira, Anne Sulivan, artigos profundos, positivos, animadores. Sua vida foi bela... belíssima... linda... lindíssima... uma obra de arte acabada e perfeita.
Ela também não foi exceção. Milhares, milhões de pessoas em todo o mundo, feridas pela natureza na própria carne, quando não na mente, souberam contornar seus problemas, adaptar-se ao mundo, e dar lições de grandeza e de criatividade.
Ludwig van Beethoven foi surdo e, no entanto, criou suas geniais sinfonias. Vincent Van Gogh terminou seus dias num asilo de loucos, em Saint-Rémy, mas deixou para a humanidade uma obra imortal, em que lembra o mito de Prometeu, o herói da mitologia grega que fez um homem de barro e lhe deu vida roubando o fogo sagrado de Zeus. O pintor holandês deu-a às projeções das visões atormentadas da sua mente. Venceu, sem sequer contar com motivação. Jamais vendeu um quadro antes de morrer. Construiu uma vida tragicamente bela.
Por que não podemos também – se não tivermos talento (ou se não descobrirmos que o temos) para criar beleza – fazer com que nossa existência seja uma obra de arte? Por que não trabalhamos essa matéria-prima bruta, essa oportunidade de existir, sem atentarmos para as dificuldades; sem nos assustarmos com a falta de solidariedade e com o egoísmo alheios; sem nos acovardarmos diante dos obstáculos e perigos?
Maugham, em outro de seus livros (este de contos), intitulado "29 Histórias", observa: "A vida da maioria dos homens é determinada pelo ambiente. Eles aceitam as circunstâncias em meio às quais o destino as jogou, não só com resignação, mas até mesmo com boa vontade. São como bondes que deslizam contentes sobre os trilhos, desprezando o lampeiro automóvel que se movimenta de um lado para outro no tráfego e que corre veloz pelo campo".
São pessoas que inventam desculpas (precisam inventar) para justificar fracassos, lamúrias e a mediocridade assumida. Vegetam em mundos cinzentos, escuros, sombrios, amargos e violentos, morrendo lentamente de fome, embora bem-alimentadas. O que lhes mingua não é o pão. Não é o vinho, não são as carnes, não são as massas e não são os frutos, dos quais, muitas vezes, até se fartam. São, isso sim, pobres, paupérrimas, miseráveis, miserabilíssimas, indigentes criaturas famintas de beleza.
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