Monday, June 25, 2007

Por uma nova utopia-2


Pedro J. Bondaczuk

V-UTOPIA DA GLOBALIZAÇÃO

Desde 1989, data tomada como marco do fim da Guerra Fria, com a derrubada do Muro de Berlim e que antecipou a dissolução da União Soviética, dois anos depois, vem se propalando uma tal de "globalização", que seria uma espécie de Éden econômico. Apregoa-se uma nova era, que, no entanto, ainda não mostrou sua cara. O "mercado" é deificado e em seu nome são praticados determinados atos que, em vez de diminuir, ampliam o profundo fosso existente entre os homens. De um lado, uma minoria dispersiva, que desperdiça recursos e depreda o Planeta e que tudo tem e tudo pode. De outro, dois terços da humanidade nos limites entre a pobreza e a indigência, o que é inconcebível. A "globalização" é a nova utopia da classe política. Mas não é a minha.

Carlos Gabaglia Penna, diretor do Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, no artigo "A Sagração Econômica", publicado, no dia 12 de abril, no Jornal do Brasil, informa: "A produção mundial de bens e serviços ultrapassou US$ 23 trilhões em 1997. De 1987 a 1995, a economia global expandiu-se em US$ 3,8 trilhões, igual ao total da produção de 1950. Apesar do crescimento demográfico, a renda per capita mundial passou de US$ 1.500 anuais em 1950, para US$ 3.600 em 1995. Desde 1900, enquanto a população do Planeta triplicava, a economia aumentava 20 vezes, o consumo de combustíveis fósseis multiplicava-se por 30 e a produção de bens por 50. Cerca de 80% desse crescimento vertiginoso ocorreu após 1950. São números econômicos que confirmam o inexorável caminho da civilização industrial para o paraíso. Serão mesmo?"

E Gabaglia acrescenta: "Em 1960, os 20% mais ricos do mundo tinham uma renda 30 vezes maior do que os 20% mais pobres. Em 1980, essa relação já era de 45 vezes e, em 1991, a concentração de renda alcançava a proporção de 61 para 1. Os 60 homens mais ricos do Globo têm mais riqueza do que a África inteira e boa parte da Ásia juntas".

E o articulista conclui: "Com toda a riqueza material, sem paralelo na história humana, as crescentes mazelas sociais estão aí para quem quiser ver: drogas, alcoolismo, crime organizado, violência urbana, alienação social. Os suicídios aumentaram muito nos países ricos. O número de refugiados políticos e ambientais é o maior desde a Segunda Guerra Mundial. Países como o nosso apresentam ainda elevadas taxas de favelização, baixa escolaridade, mão-de-obra infantil e trabalho escravo". Decididamente, a "globalização" que aí está, não é, e nem pode ser, a minha utopia.

Como aceitar que, em um mundo globalizado, mais de um bilhão de pessoas passem fome, quando a natureza tem sido generosa e safras recordes se sucedam de ano para ano? Como conceber uma pretensa Nova Era na qual 850 milhões de pessoas ao redor do mundo estejam desempregadas ou subempregadas, fazendo bicos para sobreviver? Como se ousa insinuar o novo Éden, quando há vinte milhões de nossos irmãos vivendo em acampamentos de refugiados, vítimas das várias guerras civis nos quatro quadrantes do Planeta? Onde mais de 100 milhões de "homeless" fazem das ruas, de vãos de pontes e viadutos, seus lares, vegetando, em situação muito mais precária do que os ancestrais das cavernas, pois nem estas possuem para se abrigar? Onde crianças de oito a onze anos trocam canetas e cadernos por fuzis e metralhadoras, nas várias guerras étnicas na África e na Ásia? Não. Esta não pode ser, e nem é, a minha utopia.

(Texto do livro "Por uma nova utopia-2", em fase de redação, sujeito a revisão).

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