Friday, June 29, 2007

Do proibido ao obrigatório


Pedro J. Bondaczuk


“Transar ou não transar” é o dilema que se impõe, há já algum tempo, a pessoas com idades cada vez menores, pelo mundo globalizado afora. Em raras ocasiões, os apelos ao sexo foram tão intensos, tão disseminados e tão intermitentes como são agora. São uma constante, quer nos meios de comunicação, quer nas artes (sobretudo na literatura), quer na publicidade ou mesmo nas conversações, mesmo as mais triviais, no dia a dia. E isso é mau? Não, necessariamente! Depende de uma série de fatores. Ponderemos.
O sexo tornou-se, subitamente, mais do que necessidade animal, uma obsessão. E isso, a despeito da epidemia de Aids que, embora sob relativo controle, segue afetando enormes contingentes de pessoas em todos os continentes, em especial na África, e matando muita gente, ainda. Tempos atrás, não tão distantes assim, era assunto tabu, principalmente para crianças e adolescentes. Hoje, é tema mais do que corriqueiro e recorrente. É constante, obsessivo, onipresente. Descambou-se, portanto, de um exagero a outro.
Não faz muito, quando o menino e/ou a menina chegavam à idade da descoberta do próprio corpo, os pais ficavam cheios de dedos para explicarem, de forma clara, didática e racional, a realidade do sexo, em linguagem que fosse adequada à sua compreensão. Na verdade, os jovens aprendiam, a esse respeito, não no lar, mas com os colegas, em especial, os mais velhos. Hoje... O tema é ensinado, é verdade, nas escolas (com o que concordo plenamente). Mas há algo que está fugindo ao controle dos educadores: a transmissão, às crianças, não apenas das funções, mas dos limites, da ocasião e das condições da sua prática.
A iniciação sexual, hoje em dia, é cada vez mais prematura. Até meados do século passado, começava, quase sempre, por volta dos catorze anos, quer para rapazes, quer para moças (estas, porém, não raro, tinham a sua primeira experiência apenas depois de casadas, por volta dos vinte e um anos). Hoje, meninas de dez anos (ou menos) já mantiveram várias relações. Algumas, até mesmo, chegam a engravidar, o que, convenhamos, é enorme aberração. E os garotos começam a fazer sexo por volta dos doze anos, quando não têm, evidentemente, ainda, a mínima maturidade para isso. As conseqüências, claro, não são das melhores, para não dizer desastrosas. Nem poderiam ser, óbvio.
Passou-se, reitero, de um extremo ao outro, do “proibido” ao “obrigatório” (ou quase). Por exemplo, isto se verifica, de forma mais evidente, na questão da virgindade. Até a década de 60 do século passado, a moça tinha que se manter virgem até o dia do casamento. Tratava-se de condição sine qua non para ser considerada “séria”. Era consenso entre os rapazes que a mulher que fazia sexo antes de casar não se prestava a ser mãe de família. Fazia-se clara distinção entre as que se prestavam apenas a transas e as casadoiras.
Hoje, não se distingue mais uma da outra. A virgindade é encarada (por ambos os sexos) como anomalia. É tratada, quase, como se fosse uma doença, uma aberração, um grave defeito ou, no mínimo, uma inaptidão da virgem de despertar desejo sexual no namorado. Como se nota, descambou-se, reitero mais uma vez, de um exagero a outro, talvez pior. Não nego (não seria maluco para tanto) o valor e a importância do sexo, como função básica, instintiva e natural de todo e qualquer ser vivo. Daí condenar sua banalização, não por razões morais ou religiosas, mas, sobretudo, por motivos práticos.
As coisas, nesse sentido, começaram a mudar, de fato, de maneira generalizada, a partir dos anos 50 do século passado, com a popularização da pílula anticoncepcional, que libertou a mulher dos riscos de uma gravidez indesejada. Com isso, ela sentiu-se liberada para buscar a plena satisfação sexual, a exemplo do que o homem sempre buscou, sem nenhum tipo de repressão ou de tabu. Isso é bom? É ruim? Depende.
Cabe, claro, a cada pessoa – afinal somos todos dotados do livre-arbítrio –, independente do sexo, decidir sobre o que fazer com o seu corpo, e com quem. Mas, antes, precisa estar plenamente consciente das conseqüências dessa sua decisão (como, aliás, ocorre em tudo o que se faz na vida). Sexo é bom, é saudável e é imprescindível à sobrevivência da espécie, todos sabem disso. Mas é melhor, muito melhor se for manifestação máxima de amor e não mero ato mecânico e impessoal, simples descarga de tensões, não é mesmo?

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