Saturday, November 25, 2006
Vanitas vanitatis
Pedro J. Bondaczuk
Eu era criança.
Pensava como criança,
agia como criança,
sonhava como criança.
Como todos infantes
cheguei a caçar elefantes
em selvas de fantasia.
Era feliz. Mas não sabia.
Fiquei moço.
Pensei como moço,
agi como moço,
amei como moço...
E como todo moço
quis torcer o pescoço
das pessoas com mais de trinta.
Cheguei à idade madura.
Pensava como maduro,
agia como maduro,
minha vida era desencanto puro.
Quixote sem Sancho Pança,
queria voltar a ser criança,
e combatia os meus dragões.
Um dia fiquei velho.
Pensava como velho,
agia como velho,
tinha o desalento da velhice.
Como alguém que se julga forte,
buscava fugir da morte
nas asas da recordação.
Quando criança
vivia em sonhos imerso.
Acreditava que era
o centro do universo.
Agia como menino prodígio
de um prodigioso planeta azul.
Corria nos campos verdes,
empinava papagaios vermelhos,
vermelho, jogava bola,
xingava em espanhol.
A vida era uma fantasia
feita de cores e de sol.
Quando moço encarava o mundo
como meta a conquistar.
Agia como revolucionário
rebelde sem causa
a derrubar muros de convenções.
A cabeça cedia vez às glândulas,
o raciocínio às emoções,
contudo sabia amar.
Quando maduro via a humanidade
como bando de aves de rapina.
Agia como homem duro
no duro mundo da carnificina.
Cínico, prudente, mas frio,
era racional e analista,
sentimentalmente vazio.
Quando velho só tentava sobreviver.
Queria ser fragmento de história,
ganhar espaço na memória
das emergentes gerações.
Sobrevivia das lembranças
das extintas emoções.
Hoje não existo.
Sombra sem substância,
arremedo da infância,
acima do bem e do mal:
não sou ninguém!
Concluo, no obscuro anonimato,
quase extinto, de fato,
qual Eclesiastes, Pregador:
Vaidade...vaidade...
ilusões inúteis...dor...
(Poema composto em São Caetano do Sul, em 3 de janeiro de 1962).
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