Sunday, November 26, 2006
Utopía democrática
Pedro J. Bondaczuk
O fracasso do comunismo no Leste europeu, que redundou no fim da União Soviética e na luta selvagem e suicida que se verificou em seguida, em muitas de suas ex-Repúblicas e, notadamente, na antiga Iugoslávia, pelos seus miseráveis espólios, foi comemorado, em alguns círculos acadêmicos, como uma "vitória da democracia sobre o totalitarismo".
Alguns, mais realistas, preferiram caracterizar a dèbacle comunista como a prevalência, pura e simples, do capitalismo. Mas será que o mundo tem, de fato, o que comemorar? A liberdade, por exemplo, já deixou de ser um conceito vago e retórico, para se constituir numa prática consagrada entre os povos? Somos livres? Há quem o seja, literalmente? Há esperanças concretas de que, pelo menos em longo prazo, a humanidade conseguirá uma forma civilizada de convivência em que o homem não mais irá explorar o homem e nem lhe impor pesados e intoleráveis jugos? É uma questão para se refletir bastante.
Objetivamente, não há a mínima indicação de que em alguma parte do mundo se esteja caminhando para esta utopia, este sistema ideal, esta nova "idade de ouro". Pelo contrário, o que existe são ameaças sobre ameaças, vindas de todos os lados. É bom que não se perca da mente o fato de que a comunidade internacional detém, ainda, um gigantesco arsenal nuclear, capaz de pulverizar vários planetas do porte deste, em questão de minutos.
Parcela considerável desse armamento está em mãos não confiáveis, à mercê de nacionalistas fanáticos e talvez despreparados para encarar a realidade contemporânea. Existe o risco, nem um pouco remoto, de em meio às agruras financeiras, estas "lideranças" se desfazerem secretamente de algumas bombas, em troca de um punhado de dólares, e que esses artefatos acabem parando em mãos ainda mais imprudentes, como dos terroristas da Al-Qaeda, de Osama Bin-Laden, por exemplo, ou as de um Muammar Khadafy, ou de qualquer outro ditador, acostumado a encarar a vida humana como tendo um único propósito: o de servir aos seus megalomaníacos objetivos.
Jean-Paul Sartre, por exemplo, contestou o nosso entendimento sobre o que venha a significar um sistema democrático genuíno. Numa entrevista concedida na década de 70, observou: "A palavra democracia tem um sentido que caiu por si mesmo em desuso. Etimologicamente, é o governo do povo. Ora, é evidente que, nas democracias modernas, não há povo para governar, porque o povo não existe. Havia um povo sob o antigo regime e em 1793; não há mais povo atualmente, porque não se pode chamar de povo homens completamente individualizados pela divisão do trabalho, sem outra relação com outros homens que a profissional, e que, a intervalos de cinco, seis ou sete anos, fazem um ato bem preciso que consiste em ir apanhar um pedaço de papel com nomes impressos e enfiar esse papel numa urna. Não considero que haja poder do povo nisso". E por acaso há?!
Compete aos intelectuais, às cabeças pensantes, aos formadores de opinião pública, trazer à baila estes temas. Este é o momento da conscientização, tornada mais fácil dado o aparato tecnológico das comunicações.
A humanidade encontra-se na encruzilhada de múltiplos caminhos. Um único é o correto, capaz de levá-la à tão sonhada paz, a uma era de felicidade buscada por gerações e mais gerações. É esta a vereda que se precisa, sem dogmatismos ou preconceitos, procurar incansavelmente.
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