Monday, November 27, 2006
TOQUE DE LETRA
Pedro J. Bondaczuk
(Fotos: Site oficial da Ponte Preta)
TRAGÉDIA DO FUTEBOL CAMPINEIRO
A derrota da Ponte Preta, ontem, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, por 3 a 0, e a vitória do Fluminense, no Recife, por 2 a 1, sobre o Santa Cruz, consumaram o que vinha sendo previsto desde a primeira rodada do Campeonato Brasileiro deste ano e que não foi possível evitar: o rebaixamento do time de futebol mais velho do Brasil para a Série B. A consumação desse fato veio completar a verdadeira “tragédia grega” que se abateu sobre os times campineiros neste malfadado 2006. Antes, no sábado, o Guarani (mesmo goleando o Vila Nova, em Anápolis, por 5 a 1), já havia sido colhido pela degola. Mais antes, ainda, na semana anterior, o Campinas havia (de novo) nadado, nadado e morrido na praia, como nos dois anos anteriores, fracassando em seu intento de ascender à Série A-3 do Campeonato Paulista. Como se vê, foi um fracasso atrás do outro, e total, dos nossos três times profissionais, para pessimista algum botar defeito. E, dessa forma, a outrora “capital nacional do futebol” perde espaço, fica sem nenhum representante na elite nacional e se vê privada, sobretudo, de um precioso instrumento de divulgação da cidade: as câmeras de TV da Rede Globo. E o pior é que muita gente sequer se deu conta disso. Lamentável!
COMEÇA A CAÇA ÀS BRUXAS
Consumadas as degolas de Ponte Preta e Guarani, respectivamente, para as séries B e C do Campeonato Brasileiro de 2007, alguns setores da imprensa e parcela das respectivas torcidas organizadas iniciam um estúpido e desnecessário processo de caça às bruxas, na ânsia de encontrar, a todo o custo, “culpados” para o fracasso dos dois times campineiros nesta temporada que está prestes a se encerrar. Qual a vantagem dessa tentativa de linchamento (pelo menos moral) de dirigentes e jogadores dos dois clubes? Pode-se atribuir o fracasso de ambos apenas a suposta incompetência das duas diretorias? Os atletas que representaram as cores dos dois times de Campinas fizeram, de fato, “corpo mole”, como se insinua, ou careciam, na verdade, de qualidades técnicas? Qual a razão de Ponte Preta e Guarani montarem equipes tão fracas para as respectivas competições de que participaram? Os dois contaram com recursos financeiros mínimos para coisa melhor? Claro que não! E quem enxerga um pouco, só um pouquinho acima do nariz, sabe que essa é uma verdade inquestionável. Ninguém é masoquista a ponto de apostar cegamente no fracasso. Portanto, senhores linchadores, tenham cautela e não piorem uma situação que já é péssima.
NÃO SE COSPE NO PRATO EM QUE SE COMEU
Culpar o presidente da Ponte Preta, Sérgio Carnielli, pelo rebaixamento do time para a Série B do Campeonato Brasileiro é, além de uma tremenda injustiça, uma enorme sacanagem e uma falta de gratidão sem tamanho. Não tenho procuração para defender o dirigente, que sequer conheço pessoalmente, mas como pontepretano apaixonado e fiel que sou, não posso esquecer tudo o que esse abnegado empresário fez pelo clube nos últimos dez anos. Não fosse sua intervenção e, atrevo-me até a dizer, essa associação que tanto amo sequer existiria mais. Quando Carnielli assumiu o clube, este era uma bagunça só. Chegou, até, a ser presidido por alguém que não tinha o menor vínculo com a nossa coletividade e sequer era seu torcedor. A Ponte Preta patinava na Série A-2 do Campeonato Paulista e vivia ameaçada o tempo todo, entrava ano, saía ano, na Série B do Campeonato Brasileiro. Graças aos investimentos que o presidente fez, com recursos próprios, pessoais, do seu bolso, as finanças foram logo saneadas. O clube foi reorganizado, ganhou forças e isso se refletiu em campo. Subiu no Paulista, no Brasileiro, e soube se equilibrar nas duas competições, até com maestria, se forem considerados os parcos recursos externos que sempre dispôs. Portanto, corneteiros e linchadores, culpem quem vocês quiserem. Mas poupem quem fez da Ponte Preta o que ela é hoje. Não é muito? Poderia ser bem pior! Sem ele, talvez a Macaca sequer existisse!
PILOTO EM NAU TOTALMENTE DESGOVERNADA
Todos que acompanham futebol na cidade, sejam bugrinos ou não, sabem (nem que for minimamente) as terríveis condições em que Leonel Martins de Oliveira assumiu o comando do Guarani. O clube estava (e a rigor ainda está) totalmente falido, sem dinheiro sequer para honrar os salários dos funcionários. Ações e mais ações sucederam-se (e continuam se sucedendo) na justiça trabalhista, por causa dos erros de um passado ainda recente e o Bugre não tem como honrar os mais comezinhos compromissos, por não dispor de nenhum crédito. Os cofres estão absolutamente vazios e não há mais onde se buscar dinheiro. O Guarani já retirou, adiantadas, todas as cotas a que tinha direito, quer da Federação Paulista, quer da televisão, quer do Clube dos 13, não somente de 2007, mas até as do fim de 2008. Ainda assim, o time só foi rebaixado na última rodada, e em decorrência da perda de três pontos no tapetão, determinada pela Fifa, por causa das trapalhadas no caso da venda do lateral Gilson para um clube da Turquia. Em suma, o homem fez milagres! E isso é incompetência?! Valha-me Deus! Todavia, surgem vozes dissonantes na cidade, insinuando que Leonel foi incompetente e que por culpa dele o Guarani foi parar na Série C. Ora, ora, ora! Por que estes, que reivindicam o direito de julgar homens honrados e decentes, não assumiram eles o comando do Guarani? Porque não tinham peito! Porque criticar é a coisa mais fácil do mundo. Qualquer idiota é capaz de fazer. Mas agir! É só para os corajosos, os determinados, os verdadeiros homens!
MOMENTO É DE BUSCA DE SOLUÇÕES
O momento delicado que a Ponte Preta vive, em sua brilhante trajetória de 106 anos, não é apropriado para caças às bruxas, para crucificar quem quer que seja ou para buscar culpados para uma situação que, ademais, é irreversível. É, sim, o da busca de soluções para que, em curtíssimo prazo, se possível já no ano que vem, o clube possa retornar à elite do futebol brasileiro graças a um bom desempenho técnico em campo. É difícil? Sem dúvida! É dificílimo! É impossível? De jeito nenhum! O primeiro passo é mudar já, sem mais delongas, a filosofia de jogo do time, que se mostrou inadequada e desastrosa não só neste campeonato, mas em vários anteriores. É definir um sistema muito diferente do atual, meramente defensivo, e que a Ponte vem adotando há pelo menos dez anos. O que não deu certo tem que ser alterado e radicalmente. O time tem que voltar às suas origens. Definido como jogar, deve-se empenhar para a montagem de um plantel com jogadores que se adeqüem às novas características, mas escolhidos a dedo. Não se pode repetir o erro de contratar a torto e a direito, e nem o de apostar nos medalhões. Em vez disso, a Ponte tem que depositar todas as suas fichas nos que se destacaram nos campeonatos de séries inferiores, quer nos estaduais, quer no âmbito nacional. Há muito atleta jovem, com excelente qualidade, à espera apenas de uma oportunidade para mostrar seu talento. Só que essas providências têm que começar já!
O POÇO DO GUARANI É MAIS PROFUNDO
As providências que o Guarani deverá tomar, para tentar a recuperação do prestígio perdido, não diferem muito das sugeridas para a Ponte Preta. Mas a tarefa da sua diretoria é um desafio muitíssimo maior do que a dos diretores pontepretanos. A razão é óbvia. O poço em que o Bugre caiu é muito mais profundo, estreito e íngreme. Suas opções no mercado são restritíssimas, e não apenas pelo fator financeiro (que pesa, e decisivamente), mas até em decorrência da natural vaidade humana. Poucos jogadores jovens, de talento reconhecido, vão querer defender um time que vai disputar as Séries A-2 do Campeonato Paulista e C do Brasileiro. Essas “vitrines”, convenhamos, não são tentadoras. Não contam com as câmeras de televisão para mostrar suas jogadas a um público mais amplo. Por isso, ao Guarani vai caber a tarefa de estruturar um departamento amador eficiente, como foi ainda em passado não muito remoto, que revele craques e em tempo recorde. O Bugre terá que queimar etapas e fazer praticamente em casa todo o plantel que terá a incumbência, primeiro, de reconduzir o time à série principal do Paulistão e, em seguida, a de reconduzi-lo, já, à Série B do Brasileiro. É tarefa impossível? Claro que não! Até porque o Guarani já dispõe de know-how na revelação de talentos. Resta, agora, aproveitá-lo com total eficácia.
RESPINGOS...
· O Paysandu, a exemplo do Guarani, sofreu, neste ano, seu segundo rebaixamento consecutivo. E, para o desespero da sua torcida, seu maior rival, o Remo, conseguiu sustentar-se na Série B, graças ao talento do treinador Giba.
· Com o rebaixamento do São Raimundo e do Paysandu, a região Norte fica com um único representante na Série B (o Remo) e sem nenhum na Série A.
· O Nordeste perdeu dois representantes na Série A, o Fortaleza e o Santa Cruz. Em contrapartida, ganhou três novos, com os acessos do Náutico, Sport Recife e América. No final das contas, saiu no lucro.
· Não tenho a mínima dúvida de que, em 2007, o Vitória será um sério candidato ao acesso à elite do futebol brasileiro. Com certeza, não vai repetir os erros de um passado recente, que redundaram em dois rebaixamentos consecutivos.
· E Wagner Benazzi acrescentou mais uma estrelinha ao seu brilhante currículo. Contrariando todas as previsões, levou a cabo, com sucesso, a missão que parecia impossível, de salvar a Portuguesa de cair para a Série C. Esse conhece! Gostaria de vê-lo no comando da Ponte Preta.
* E fim de papo por hoje. Entre em contato, para críticas e sugestões.
pedrojbk@hotmail.com
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