Somos uma espécie de arqueólogos a escavarmos, continuamente, as ruínas do nosso próprio passado, sepultado sob toneladas de poeira do tempo. Alguns buscam lembranças benignas e deliciosas, que os consolem das agruras do presente. Outros, imprudentes e tolos, revivem fracassos e frustrações, que teimam em remoer anos anos a fio, quando a atitude prudente seria deixá-los intocados, enterrados para sempre. Outros, ainda, fantasiam e se convencem que foram reais episódios que só existem em suas imaginações. O passado (como ademais o próprio tempo) é ambíguo. Mesmo não podendo ser revivido da forma exata que aconteceu, teima em retornar ao presente, de uma forma ou de outra. Quando traz de volta lembranças positivas, não deixa de ser bem-vindo. Quando, ao contrário, nos faz reviver angústias, dores e frustrações, é um veneno que tem que ser evitado. Mário Quintana, com seu talento e argúcia, trata com graça e beleza do assunto, ao escrever: “O passado não reconhece seu lugar: está sempre presente”.
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