Pedro J. Bondaczuk
As pessoas que se apegam ao dinheiro, como um crente se apega a Deus por exemplo (ou até mais, quem sabe) causam-me pasmo. Não as entendo. É certo que evoluí em meus sentimentos com o passar dos anos. Quando moço, sentia, por elas, repulsa e desprezo. Hoje o que sinto é uma certa piedade, misturada à absoluta incompreensão.
Sei que na ordem atual das coisas, neste mundo em que os valores estão todos (ou quase todos) às avessas, deveria ocorrer o contrário. Ou seja, os endinheirados é que deveriam sentir (duvido que sintam) pena das minhas tantas carências materiais.
Contudo, não posso ser classificado sequer como pobre. Não conto com recursos para esbanjar, é verdade, mas o que ganho é suficiente (e em algumas ocasiões até sobeja) para satisfazer minhas necessidades e, às vezes, até alguns dos meus caprichos. Nesse aspecto, portanto, não tenho do que me queixar.
Não sou nenhum perdulário que sai por aí esbanjando o fruto do seu trabalho. Não chego a tanto. Mas não tenho apego o mínimo pelo dinheiro. Vejo nele, apenas e tão somente, um meio de viver com dignidade. Não faço poupança, embora tenha o cuidado de gastar, rigorosamente, só o que ganho. Não me fio nunca em créditos para sair gastando por conta.
Uma coisa que nunca consegui entender é essa febre por ouro que afeta muita gente e que parece não ter cura. Aliás, foge-me da compreensão o motivo desse metal, de relativamente escassa utilidade prática, ser considerado tão valioso, mais até do que o ferro, indispensável ao homem por suas mil e uma aplicações. Sequer o considero o mais belo. Seu valor é, pois, fruto de mera convenção, que se perde nas brumas do tempo e que jamais foi revisada.
Olavo Bilac, na crônica que publicou em 8 de outubro de 1899, no jornal “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro, a propósito da Guerra dos Bôeres, que então se travava no atual território da África do Sul, escreveu: “Ah! A fome de ouro! Em que arriscados passos não se mete a gente, por amor do lindo metal, que a natureza previdente armazenou no seio da terra, disfarçando-o em amálgamas vários, como para esconder da nossa cobiça essa origem perene de horrores e de sangreiras! Por amor dele a alma se endurece, o coração fica seco como um arcai, afiam-se as unhas à rapina, aguçam-se os dentes da traição, e o espírito, excitado pelas tentações, inventa requintes de crueldade, cria prodígios de astúcia”.
Estes só podem ser, mesmo, sintomas de uma doença, grave e incurável. Não é coisa de pessoas normais, equilibradas, sensatas e racionais. Não pode ser! Posso afirmar, com absoluta segurança, sem pestanejar, que o ouro nunca me fez, não faz e nem fará falta.
A rigor, só tive, em toda a minha vida (que já passa bem dos sessenta anos), um único objeto feito com este metal, a que tanta gente atribui tamanho valor. Foi o par de alianças do meu casamento. E até isso eu perdi – com o que arrumei, diga-se de passagem, baita encrenca com a esposa, mas não por sua valia pecuniária, mas por ela entender que eu me tenha desfeito do anel para posar de solteiro. Ela estava errada, claro. Mas foi uma luta para convencê-la!
Depois disso, jamais cheguei sequer perto de ouro. E querem saber? Isso nunca me fez a mínima falta. Não me sinto mais pobre por não possuir nada feito com esse metal e acho que não me sentiria rico se possuísse algo, a menos que fosse em quantidades gigantescas.
Reitero, pois, que não consigo entender a cabeça de quem se apega, com tamanha paixão, a coisas que, no meu critério de avaliação, são tão banais. Só pode, mesmo, se tratar de doença. Que outra explicação haveria? Não vejo nenhuma.
O mesmo pasmo, ou até maior, me despertam os que têm obsessão pelo dinheiro. É certo que ele lhes proporciona a satisfação não apenas de todas as necessidades, mas até dos mais estapafúrdios caprichos. Mas alguns têm tanto, que dá para tudo isso e ainda sobra muito, muitíssimo. Para quê tanto?!
O escritor dinamarquês, Henrik Ibsen, fez a seguinte e sábia constatação, que os obcecados por esses valores simbólicos deveriam atentar (mas não atentam): “Com o dinheiro podemos comprar muitas coisas, mas não o essencial para nós. Proporciona-nos comida, mas não apetite; remédios, mas não saúde, dias alegres, mas não a felicidade”. Vale a pena escravizar-se por tão pouco?! Só pode ser doença mesmo! Ou você tem explicação melhor?
As pessoas que se apegam ao dinheiro, como um crente se apega a Deus por exemplo (ou até mais, quem sabe) causam-me pasmo. Não as entendo. É certo que evoluí em meus sentimentos com o passar dos anos. Quando moço, sentia, por elas, repulsa e desprezo. Hoje o que sinto é uma certa piedade, misturada à absoluta incompreensão.
Sei que na ordem atual das coisas, neste mundo em que os valores estão todos (ou quase todos) às avessas, deveria ocorrer o contrário. Ou seja, os endinheirados é que deveriam sentir (duvido que sintam) pena das minhas tantas carências materiais.
Contudo, não posso ser classificado sequer como pobre. Não conto com recursos para esbanjar, é verdade, mas o que ganho é suficiente (e em algumas ocasiões até sobeja) para satisfazer minhas necessidades e, às vezes, até alguns dos meus caprichos. Nesse aspecto, portanto, não tenho do que me queixar.
Não sou nenhum perdulário que sai por aí esbanjando o fruto do seu trabalho. Não chego a tanto. Mas não tenho apego o mínimo pelo dinheiro. Vejo nele, apenas e tão somente, um meio de viver com dignidade. Não faço poupança, embora tenha o cuidado de gastar, rigorosamente, só o que ganho. Não me fio nunca em créditos para sair gastando por conta.
Uma coisa que nunca consegui entender é essa febre por ouro que afeta muita gente e que parece não ter cura. Aliás, foge-me da compreensão o motivo desse metal, de relativamente escassa utilidade prática, ser considerado tão valioso, mais até do que o ferro, indispensável ao homem por suas mil e uma aplicações. Sequer o considero o mais belo. Seu valor é, pois, fruto de mera convenção, que se perde nas brumas do tempo e que jamais foi revisada.
Olavo Bilac, na crônica que publicou em 8 de outubro de 1899, no jornal “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro, a propósito da Guerra dos Bôeres, que então se travava no atual território da África do Sul, escreveu: “Ah! A fome de ouro! Em que arriscados passos não se mete a gente, por amor do lindo metal, que a natureza previdente armazenou no seio da terra, disfarçando-o em amálgamas vários, como para esconder da nossa cobiça essa origem perene de horrores e de sangreiras! Por amor dele a alma se endurece, o coração fica seco como um arcai, afiam-se as unhas à rapina, aguçam-se os dentes da traição, e o espírito, excitado pelas tentações, inventa requintes de crueldade, cria prodígios de astúcia”.
Estes só podem ser, mesmo, sintomas de uma doença, grave e incurável. Não é coisa de pessoas normais, equilibradas, sensatas e racionais. Não pode ser! Posso afirmar, com absoluta segurança, sem pestanejar, que o ouro nunca me fez, não faz e nem fará falta.
A rigor, só tive, em toda a minha vida (que já passa bem dos sessenta anos), um único objeto feito com este metal, a que tanta gente atribui tamanho valor. Foi o par de alianças do meu casamento. E até isso eu perdi – com o que arrumei, diga-se de passagem, baita encrenca com a esposa, mas não por sua valia pecuniária, mas por ela entender que eu me tenha desfeito do anel para posar de solteiro. Ela estava errada, claro. Mas foi uma luta para convencê-la!
Depois disso, jamais cheguei sequer perto de ouro. E querem saber? Isso nunca me fez a mínima falta. Não me sinto mais pobre por não possuir nada feito com esse metal e acho que não me sentiria rico se possuísse algo, a menos que fosse em quantidades gigantescas.
Reitero, pois, que não consigo entender a cabeça de quem se apega, com tamanha paixão, a coisas que, no meu critério de avaliação, são tão banais. Só pode, mesmo, se tratar de doença. Que outra explicação haveria? Não vejo nenhuma.
O mesmo pasmo, ou até maior, me despertam os que têm obsessão pelo dinheiro. É certo que ele lhes proporciona a satisfação não apenas de todas as necessidades, mas até dos mais estapafúrdios caprichos. Mas alguns têm tanto, que dá para tudo isso e ainda sobra muito, muitíssimo. Para quê tanto?!
O escritor dinamarquês, Henrik Ibsen, fez a seguinte e sábia constatação, que os obcecados por esses valores simbólicos deveriam atentar (mas não atentam): “Com o dinheiro podemos comprar muitas coisas, mas não o essencial para nós. Proporciona-nos comida, mas não apetite; remédios, mas não saúde, dias alegres, mas não a felicidade”. Vale a pena escravizar-se por tão pouco?! Só pode ser doença mesmo! Ou você tem explicação melhor?
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