Pedro J. Bondaczuk
A solidariedade estaria em baixa, como querem alguns? As pessoas do nosso tempo são mais egoístas e individualistas do que as de outras épocas? Não creio que sejam, até que alguém me prove o contrário. Ademais, não há como mensurar esse tipo de comportamento. Ele é individual, não de grupos. Há (sempre houve), os que parecem venerar o próprio umbigo, achando que o mundo gira, ou deveria girar ao redor deles. E há gente abnegada que sente compulsiva necessidade de ajudar quem esteja necessitando, sem que sequer saiba de quem se trata. Sempre houve indivíduos assim.
A pergunta inicial vem a propósito de uma notícia que li, recentemente, na internet, dando conta de uma pitoresca experiência, feita por determinado ator (não anotei seu nome, mas não importa). Ele simulou que estava sofrendo um enfarte, bem no centrinho de São Paulo, em plena Avenida Paulista, maior centro financeiro da América Latina, por onde trafegam, diariamente, milhares, quiçá milhões de pessoas, além de dezenas de milhares de veículos.
Sabe quantos se ofereceram para ajudar a suposta vítima? Nenhum! Ninguém, absolutamente ninguém se ofereceu para socorrer o ator, supostamente em dificuldade! Sim, amigos, ainda é possível se morrer, sem o mínimo socorro, em uma movimentada artéria pública da terceira maior cidade do mundo! E o que isso quer dizer? Que a solidariedade acabou em São Paulo, ou no Brasil, ou na América do Sul ou no mundo?
Afirmar isso seria não apenas precipitado, como irresponsável. Tratar-se-ia de generalização e como alertou, um dia, o jornalista Nelson Rodrigues, “toda a generalização é burra”. Não devemos, pois, cair na tentação de generalizar o que quer que seja somente face a evidências, por mais reveladoras que pareçam.
E por que ninguém ajudou o ator que simulava enfarte? As possibilidades são muitíssimas, talvez tantas quantas as pessoas que trafegavam, naquela hora, no local. A simulação, por exemplo, pode ter sido muito grosseira, de modo a não convencer os transeuntes. É possível, pensem bem, mesmo que não seja provável. Pode ser que os que cruzaram com a suposta vítima achassem que ela estivesse apenas embriagada, e, por isso, não lhe deram maior importância.
Outra possibilidade é a de que, por uma dessas coincidências inexplicáveis, os que trafegavam pelo local naquele momento fossem todos, sem exceção, insensíveis. O acaso, às vezes, reúne pessoas que pensam e agem de forma semelhante (embora isso não seja muito comum). Isto não quer dizer, todavia, que “todos” os que passam, diariamente, pela Avenida Paulista, sejam egoístas e adoradores do próprio umbigo. E muito menos que em São Paulo não haja mais ninguém dotado de senso de solidariedade. Uma afirmação assim seria, no mínimo, estúpida, para não dizer outra coisa.
Os homens e mulheres de hoje não são melhores e nem piores do que os de outras épocas. São, isso sim, mais numerosos. Para o leitor ter pálida idéia a respeito, basta informar que até a década de 50 do século XX a população mundial era de dois bilhões de habitantes. Hoje, apenas a China e a Índia, juntas, têm cifra que é 500 milhões maior do que essa.
Há, sim, quem se importe com os outros. Milhares de pessoas, Brasil afora (e já nem falo do mundo), mantêm, ou ajudam a manter creches, asilos, orfanatos e hospitais de caridade. Muitos o fazem de forma absolutamente anônima, apenas pelo desejo de ajudar. À pergunta “quem se importa?”, portanto, é possível de se responder: muitos! Quantos? É impossível de se quantificar. Ninguém tem o dom de penetrar no coração e mente das pessoas e descobrir o que pensam e sentem.
Claro, reitero, há uma multidão de insensíveis. Sempre houve e temo que, desgraçadamente, sempre haverá. Sem dúvida que existem milhões de pessoas que se sentem (e que agem) como se fossem o centro do mundo e que, por isso, não se vêem comprometidas com carências, aflições e problemas alheios. Em que época, porém, o mundo se viu privado desses parasitas? Nunca!
O poeta Mário Quintana, com aquele seu irresistível senso de humor, escreveu, certa feita, de forma inteligente (como sempre): “O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso”. O que quis dizer? Tentou justificar, acaso, a falta de solidariedade de alguns (diria de muitos), como a experiência feita em São Paulo pareceu comprovar? De jeito algum!
O poeta quis se referir ao fato de pretendermos, em algumas ocasiões, transferir nossos fracassos e aflições para os outros. De nos acomodarmos e querermos que outras pessoas resolvam por nós o que nos compete, exclusivamente, resolver. Em alguns casos, até conseguimos isso. E quando isso ocorre (e creiam, se verifica com maior freqüência do que podemos supor), comprova-se, na verdade, a falsidade da tese de que a solidariedade tenha acabado ou esteja em declínio. Quem se importa? Muitos se importam, certamente!
A solidariedade estaria em baixa, como querem alguns? As pessoas do nosso tempo são mais egoístas e individualistas do que as de outras épocas? Não creio que sejam, até que alguém me prove o contrário. Ademais, não há como mensurar esse tipo de comportamento. Ele é individual, não de grupos. Há (sempre houve), os que parecem venerar o próprio umbigo, achando que o mundo gira, ou deveria girar ao redor deles. E há gente abnegada que sente compulsiva necessidade de ajudar quem esteja necessitando, sem que sequer saiba de quem se trata. Sempre houve indivíduos assim.
A pergunta inicial vem a propósito de uma notícia que li, recentemente, na internet, dando conta de uma pitoresca experiência, feita por determinado ator (não anotei seu nome, mas não importa). Ele simulou que estava sofrendo um enfarte, bem no centrinho de São Paulo, em plena Avenida Paulista, maior centro financeiro da América Latina, por onde trafegam, diariamente, milhares, quiçá milhões de pessoas, além de dezenas de milhares de veículos.
Sabe quantos se ofereceram para ajudar a suposta vítima? Nenhum! Ninguém, absolutamente ninguém se ofereceu para socorrer o ator, supostamente em dificuldade! Sim, amigos, ainda é possível se morrer, sem o mínimo socorro, em uma movimentada artéria pública da terceira maior cidade do mundo! E o que isso quer dizer? Que a solidariedade acabou em São Paulo, ou no Brasil, ou na América do Sul ou no mundo?
Afirmar isso seria não apenas precipitado, como irresponsável. Tratar-se-ia de generalização e como alertou, um dia, o jornalista Nelson Rodrigues, “toda a generalização é burra”. Não devemos, pois, cair na tentação de generalizar o que quer que seja somente face a evidências, por mais reveladoras que pareçam.
E por que ninguém ajudou o ator que simulava enfarte? As possibilidades são muitíssimas, talvez tantas quantas as pessoas que trafegavam, naquela hora, no local. A simulação, por exemplo, pode ter sido muito grosseira, de modo a não convencer os transeuntes. É possível, pensem bem, mesmo que não seja provável. Pode ser que os que cruzaram com a suposta vítima achassem que ela estivesse apenas embriagada, e, por isso, não lhe deram maior importância.
Outra possibilidade é a de que, por uma dessas coincidências inexplicáveis, os que trafegavam pelo local naquele momento fossem todos, sem exceção, insensíveis. O acaso, às vezes, reúne pessoas que pensam e agem de forma semelhante (embora isso não seja muito comum). Isto não quer dizer, todavia, que “todos” os que passam, diariamente, pela Avenida Paulista, sejam egoístas e adoradores do próprio umbigo. E muito menos que em São Paulo não haja mais ninguém dotado de senso de solidariedade. Uma afirmação assim seria, no mínimo, estúpida, para não dizer outra coisa.
Os homens e mulheres de hoje não são melhores e nem piores do que os de outras épocas. São, isso sim, mais numerosos. Para o leitor ter pálida idéia a respeito, basta informar que até a década de 50 do século XX a população mundial era de dois bilhões de habitantes. Hoje, apenas a China e a Índia, juntas, têm cifra que é 500 milhões maior do que essa.
Há, sim, quem se importe com os outros. Milhares de pessoas, Brasil afora (e já nem falo do mundo), mantêm, ou ajudam a manter creches, asilos, orfanatos e hospitais de caridade. Muitos o fazem de forma absolutamente anônima, apenas pelo desejo de ajudar. À pergunta “quem se importa?”, portanto, é possível de se responder: muitos! Quantos? É impossível de se quantificar. Ninguém tem o dom de penetrar no coração e mente das pessoas e descobrir o que pensam e sentem.
Claro, reitero, há uma multidão de insensíveis. Sempre houve e temo que, desgraçadamente, sempre haverá. Sem dúvida que existem milhões de pessoas que se sentem (e que agem) como se fossem o centro do mundo e que, por isso, não se vêem comprometidas com carências, aflições e problemas alheios. Em que época, porém, o mundo se viu privado desses parasitas? Nunca!
O poeta Mário Quintana, com aquele seu irresistível senso de humor, escreveu, certa feita, de forma inteligente (como sempre): “O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso”. O que quis dizer? Tentou justificar, acaso, a falta de solidariedade de alguns (diria de muitos), como a experiência feita em São Paulo pareceu comprovar? De jeito algum!
O poeta quis se referir ao fato de pretendermos, em algumas ocasiões, transferir nossos fracassos e aflições para os outros. De nos acomodarmos e querermos que outras pessoas resolvam por nós o que nos compete, exclusivamente, resolver. Em alguns casos, até conseguimos isso. E quando isso ocorre (e creiam, se verifica com maior freqüência do que podemos supor), comprova-se, na verdade, a falsidade da tese de que a solidariedade tenha acabado ou esteja em declínio. Quem se importa? Muitos se importam, certamente!
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