Sunday, June 28, 2009

DIRETO DO ARQUIVO


Falta de perspectivas

Pedro J. Bondaczuk

A modernidade, nos dias que correm, e em especial no chamado Primeiro Mundo, é confundida, via de regra, com permissividade. Com a ruptura de todos os freios morais, que construíram as civilizações (que, bem ou mal, pelo menos se mantêm).

Enquanto uma pequena parcela da humanidade usufrui as “delícias” de um consumismo desregrado e perdulário, a grande maioria das pessoas no Planeta passa fome. Enfrenta privações de toda a sorte, sem saber como será o amanhã, que talvez nem mesmo venha a ter.

O papa João Paulo II fez, ontem (17 de outubro de 1989), judiciosas observações referindo-se ao que ocorre na Europa. Mas esse fenômeno é mundial. Mesmo os países mais miseráveis da Terra possuem as suas “castas” privilegiadas, que demonstram, através de um desregramento assustador, terem perdido as perspectivas do que são, para o que vieram e para onde vão.

Sob o pretexto de desmistificação do sexo, por exemplo, conseguiu-se criar em torno dele um tabu inverso. Ele deixou de ser a manifestação suprema do amor, ato máximo de criação, com a geração de uma nova vida, para se tornar mero instrumento de diversão. E aqui não vai nenhuma observação de caráter moral, até mesmo dispensável neste caso, mas extremamente prática.

Será que as pessoas, principalmente as que se julgam mais inteligentes e costumam teorizar em torno do comportamento, ditando moda, ainda não perceberam, já não dizemos o perigo (que é óbvio), mas o ridículo de tudo isso? Se alguém, porventura, sentisse supremo prazer em se divertir, digamos, com sua orelha, o mínimo que se poderia achar a seu respeito seria duvidar de sua sanidade mental.

O mesmo vale em relação a qualquer outro órgão do corpo humano. Afinal, todos eles têm uma função específica, prática, de locomoção, de tato, de audição e assim por diante. Qual a razão, pois, do sexo ser tratado de forma diferente? As pessoas, no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo atravessa neste final de milênio, sequer param para pensar qual a razão de suas existências.

Não especulam (salvo exceções, naturalmente) acerca do que estão fazendo sobre a face da Terra. Em suma, não se entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e nem se desestimam. Vivem porque vivem, e pronto! E se não têm um grau de estima genuíno por si próprias, não podem jamais sentir qualquer coisa de realmente profundo pelos outros.

Daí a solidão que domina tanta gente. Daí a fuga para os “paraísos” artificiais das drogas e do alcoolismo (na verdade infernos). Daí a violência crescente que pode nos destruir a todos. O que tais pessoas precisam é de objetivos claros e de um mínimo de autoconhecimento, para não dizer, de bom-senso.

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 18 de outubro de 1989).


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