O amor é caprichoso e nasce, quase sempre, à nossa revelia. Não depende da nossa vontade. Surge de repente, do nada, quando menos esperamos, e pela pessoa que jamais supúnhamos que ocorresse. Já tentei apaixonar-me por amigas, em vão. Às vezes havia, até, genuíno afeto, além de identidade de idéias e de propósitos, mas faltava aquele algo mais, aquele magnetismo inexplicável, aquela química, e a tentativa, invariavelmente, morria quase que no nascedouro. Busquei apaixonar-me por mulheres belíssimas, que demonstravam gostarem de mim, mas, ao dar-lhes o primeiro beijo, não ouvia os sininhos tocarem no fundo do cérebro. Todavia, cheguei a apaixonar-me profundamente por uma pessoa com a qual, durante muito tempo, por anos até, mantive situação de antagonismo e confronto. Quando menos esperei, porém... Acabei fascinado pelo seu olhar. Quando me dei conta... já não suportava mais a sua ausência. Luiz Vaz de Camões descreveu bem essa situação, nestes dois tercetos de um dos seus sonetos em que diz: “Estando em terra, chego ao céu voando,/numa hora acho mil anos, e é de jeito/que em mil anos não posso achar uma hora.//Se me pergunta alguém por que assim ando,/respondo que não sei; porém suspeito/que só porque vos vi, minha senhora”.
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