Pedro J. Bondaczuk
A imaginação, bem-dirigida, tende a operar maravilhas e nos levar a grandes conquistas, que, aparentemente, eram impossíveis. Todavia, em caso contrário, gera monstros terríveis que nos aterrorizam e causam sofrimentos inúteis. A auto-sugestão, por exemplo, é farta fonte de doenças.
Se uma pessoa cismar que está acometida de determinado mal, mesmo que todos os exames comprovem que está absolutamente sadia, sentirá, na carne, os sintomas dessa moléstia imaginária. Daí os chamados placebos (comprimidos de farinha e açúcar) terem tanta saída, sem que os consumidores sequer suspeitem que não estão tomando remédio coisíssima nenhuma. Afinal, seus males são imaginários. Como a melhor forma de combater incêndios é ateando fogo em sentido contrário... Sentem-se aliviados. Mas nunca curados. Seu problema está na mente, não no corpo. Sofrem de um mal crônico, classificado como “hipocondria”.
Quem tem mania de doença sempre inventa alguma. E não se trata, pelo menos conscientemente, de fingimento, de mero expediente para chamar a atenção dos que cercam essas pessoas. Em nível inconsciente, ou subconsciente, o processo até que é esse mesmo. Ou seja, é um condicionamento. O cérebro constata que todas as vezes que esses doentes imaginários se queixam de alguma dor ou mal-estar, logo os que gostam deles (ou são responsáveis por seus cuidados) acodem, em socorro.
Em casos extremos, uma pessoa que se imagine doente pode, até, morrer em decorrência desse mal, que existe só em sua imaginação. São casos extremos, claro, e raros, mas que já foram registrados. E o que colocar no atestado de óbito de um indivíduo que morre por essa causa? “Morto por imaginação”? Pode até ser! Pelo menos seria a constatação mais adequada, posto que verdadeira. Mas médico algum coloca isso num atestado de óbito. Por isso, temos que ter extremo cuidado com o que imaginamos. E fugir das auto-sugestões negativas, utilizando, como antídotos, o otimismo, o bom-humor e o pensamento positivo.
Mas a imaginação não precisa, necessariamente, ser a vilã da nossa vida. Explorada adequadamente, pode nos levar (e leva), como ressaltei, a grandes conquistas. Ela é o grande trunfo, por exemplo, dos artistas, notadamente dos poetas e dos escritores de ficção.
Já ganhei muito dinheiro com ela (e espero ganhar muito mais), criando personagens e enredos que, de fato, nunca existiram. Ou seja, que só tiveram vida na minha cabeça, na fertilidade da minha imaginação. Claro que, para lhes dar verossimilhança, os “pintei” com ligeira camada de verniz de realidade, o que, convenhamos, não é tarefa tão difícil assim. Ou seja, acrescentei-lhes características de pessoas que conheci e de fatos que, se não vivenciei, tomei, de alguma maneira, conhecimento.
A imaginação, dependendo das circunstâncias, pode vir a ser, até mesmo, uma “verdade futura”. Como? O eminente psicanalista, Carl Gustav Jung, afirmou a respeito (com o que concordo plenamente, em vista de experiências que tive a propósito): “Há coisas que ainda não são verdadeiras, que talvez não tenham o direito de ser verdadeiras, mas que o poderão ser amanhã”.
Sobre o direcionamento da imaginação para a criação (sobretudo artística), peço licença ao paciente leitor para citar este trecho da crônica “Apologia da dor de dente”, de Hélio Pellegrino, publicada na Folha de S. Paulo, em 26 de junho de 1983: “O paranóico não tem desejo de ser Napoleão, ele o é, com as extravagantes conseqüências da praxe. Seja como for, qualquer um de nós, na posse, uso e gozo da ordem da linguagem, pode criar um mundo à imagem e semelhança das mais desvairadas ambições e fantasias”. E freqüentemente os criamos, mesmo que relutemos, ou nos neguemos a admitir.
E Hélio Pellegrino prossegue: “A representação significa, de uma parte, minha possibilidade racional e consciente de operar sobre o mundo, a partir de uma avaliação que o reverencie em sua concretude e realidade. Mas, de outra parte, ela é também a minha possibilidade mais radical de alienação e de extravio. Posso, através dela, dar as costas ao real, desfigurá-lo, desrespeitá-lo, traí-lo – negá-lo”. E eu acrescentaria: mas negá-lo com arte.
Quanto aos que cultivam doenças imaginárias, dou um conselho, sem cobrar nada (já fui classificado como escritor de auto-ajuda, o que me provocou sonoras gargalhadas, pelo ridículo da classificação): não leiam livros de medicina. Neles, vocês encontrarão, certamente, os sintomas de todas as doenças já descobertas pela ciência. E, sem que sequer se dêem conta, sentirão uma variedade de achaques e dores sem-fim.
A imaginação os trairá e fará conhecer o inferno e todas suas múltiplas penas e nuances. O jornalista italiano Dino Segre (que assinava seus textos com o pseudônimo Pitigrilli) corrobora meu conselho, ao escrever: “Os livros de medicina nas mãos dos enfermos fazem a temperatura subir vários graus e suscitam sintomas inexistentes”. E como suscitam! Vale, pois, a recomendação: “muito cuidado com o que você imagina!”.
A imaginação, bem-dirigida, tende a operar maravilhas e nos levar a grandes conquistas, que, aparentemente, eram impossíveis. Todavia, em caso contrário, gera monstros terríveis que nos aterrorizam e causam sofrimentos inúteis. A auto-sugestão, por exemplo, é farta fonte de doenças.
Se uma pessoa cismar que está acometida de determinado mal, mesmo que todos os exames comprovem que está absolutamente sadia, sentirá, na carne, os sintomas dessa moléstia imaginária. Daí os chamados placebos (comprimidos de farinha e açúcar) terem tanta saída, sem que os consumidores sequer suspeitem que não estão tomando remédio coisíssima nenhuma. Afinal, seus males são imaginários. Como a melhor forma de combater incêndios é ateando fogo em sentido contrário... Sentem-se aliviados. Mas nunca curados. Seu problema está na mente, não no corpo. Sofrem de um mal crônico, classificado como “hipocondria”.
Quem tem mania de doença sempre inventa alguma. E não se trata, pelo menos conscientemente, de fingimento, de mero expediente para chamar a atenção dos que cercam essas pessoas. Em nível inconsciente, ou subconsciente, o processo até que é esse mesmo. Ou seja, é um condicionamento. O cérebro constata que todas as vezes que esses doentes imaginários se queixam de alguma dor ou mal-estar, logo os que gostam deles (ou são responsáveis por seus cuidados) acodem, em socorro.
Em casos extremos, uma pessoa que se imagine doente pode, até, morrer em decorrência desse mal, que existe só em sua imaginação. São casos extremos, claro, e raros, mas que já foram registrados. E o que colocar no atestado de óbito de um indivíduo que morre por essa causa? “Morto por imaginação”? Pode até ser! Pelo menos seria a constatação mais adequada, posto que verdadeira. Mas médico algum coloca isso num atestado de óbito. Por isso, temos que ter extremo cuidado com o que imaginamos. E fugir das auto-sugestões negativas, utilizando, como antídotos, o otimismo, o bom-humor e o pensamento positivo.
Mas a imaginação não precisa, necessariamente, ser a vilã da nossa vida. Explorada adequadamente, pode nos levar (e leva), como ressaltei, a grandes conquistas. Ela é o grande trunfo, por exemplo, dos artistas, notadamente dos poetas e dos escritores de ficção.
Já ganhei muito dinheiro com ela (e espero ganhar muito mais), criando personagens e enredos que, de fato, nunca existiram. Ou seja, que só tiveram vida na minha cabeça, na fertilidade da minha imaginação. Claro que, para lhes dar verossimilhança, os “pintei” com ligeira camada de verniz de realidade, o que, convenhamos, não é tarefa tão difícil assim. Ou seja, acrescentei-lhes características de pessoas que conheci e de fatos que, se não vivenciei, tomei, de alguma maneira, conhecimento.
A imaginação, dependendo das circunstâncias, pode vir a ser, até mesmo, uma “verdade futura”. Como? O eminente psicanalista, Carl Gustav Jung, afirmou a respeito (com o que concordo plenamente, em vista de experiências que tive a propósito): “Há coisas que ainda não são verdadeiras, que talvez não tenham o direito de ser verdadeiras, mas que o poderão ser amanhã”.
Sobre o direcionamento da imaginação para a criação (sobretudo artística), peço licença ao paciente leitor para citar este trecho da crônica “Apologia da dor de dente”, de Hélio Pellegrino, publicada na Folha de S. Paulo, em 26 de junho de 1983: “O paranóico não tem desejo de ser Napoleão, ele o é, com as extravagantes conseqüências da praxe. Seja como for, qualquer um de nós, na posse, uso e gozo da ordem da linguagem, pode criar um mundo à imagem e semelhança das mais desvairadas ambições e fantasias”. E freqüentemente os criamos, mesmo que relutemos, ou nos neguemos a admitir.
E Hélio Pellegrino prossegue: “A representação significa, de uma parte, minha possibilidade racional e consciente de operar sobre o mundo, a partir de uma avaliação que o reverencie em sua concretude e realidade. Mas, de outra parte, ela é também a minha possibilidade mais radical de alienação e de extravio. Posso, através dela, dar as costas ao real, desfigurá-lo, desrespeitá-lo, traí-lo – negá-lo”. E eu acrescentaria: mas negá-lo com arte.
Quanto aos que cultivam doenças imaginárias, dou um conselho, sem cobrar nada (já fui classificado como escritor de auto-ajuda, o que me provocou sonoras gargalhadas, pelo ridículo da classificação): não leiam livros de medicina. Neles, vocês encontrarão, certamente, os sintomas de todas as doenças já descobertas pela ciência. E, sem que sequer se dêem conta, sentirão uma variedade de achaques e dores sem-fim.
A imaginação os trairá e fará conhecer o inferno e todas suas múltiplas penas e nuances. O jornalista italiano Dino Segre (que assinava seus textos com o pseudônimo Pitigrilli) corrobora meu conselho, ao escrever: “Os livros de medicina nas mãos dos enfermos fazem a temperatura subir vários graus e suscitam sintomas inexistentes”. E como suscitam! Vale, pois, a recomendação: “muito cuidado com o que você imagina!”.
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