Monday, April 21, 2008

Poder da inteligência


Pedro J. Bondaczuk


O que torna o ser humano grande e poderoso não são suas eventuais habilidades físicas, por maiores que possam ser. Não são, também, sua beleza, sua fortuna, sua coragem, etc.etc.etc. É o incomensurável poder da sua mente, cujo potencial não tem limites, se o indivíduo se dispuser, de fato, a usar, em toda a sua plenitude, essa “ferramenta” que o diferencia dos demais seres viventes.
Foi ela que possibilitou o desenvolvimento das artes, da ciência, da religião, da organização social, da tecnologia, enfim, da civilização e de tudo o quanto de belo, grandioso e espetacular a espécie construiu. Ela, pois, é que deve ser, permanente e incansavelmente, cultivada e não a efêmera beleza do corpo ou a passageira força física ou qualquer outra característica humana.
O ex-senador norte-americano Everett McKinley Dirksen resumiu com precisão o que quero dizer, ao afirmar, em memorável discurso no Congresso do seu país: “Num mundo de maravilhas e realizações científicas, nenhum átomo, com toda sua força para destruir, pode conceber uma idéia, construir uma estrutura, nutrir compaixão, ou caridade, ou esperança. Só ao homem foi concedido esse dom de inteligência, dignidade e divindade”.
Para quem não sabe, Dirksen foi importante “estrela política” do Partido Republicano, numa época crítica da política internacional, em que estava em pleno andamento o que se convencionou chamar de “guerra fria”. Ou seja, o confronto ideológico entre o Capitalismo, liderado pelos Estados Unidos, e o Comunismo, encarnado pela extinta União Soviética. Eleito pela primeira vez em 1950, obteve sucessivas reeleições e permaneceu no Senado até sua morte, ocorrida em 7 de setembro de 1969, em decorrência de mal-sucedida cirurgia a que foi submetido.
Ouvi, certa feita, em algum lugar (não me recordo onde e nem dito por quem) que “a sabedoria é o conhecimento temperado pelo juízo". Concordo. E não é?! De que me vale, por exemplo, conhecer nomes de borboletas, de flores ou de pássaros, a classificação de seus grupos e famílias, saber de seus hábitos e distinguir sua morfologia, se eu for incapaz de os identificar quando vir um desses espécimes?
E mais, que valia me trará esse conhecimento, e outros tantos de caráter meramente “enciclopédico” se, em contrapartida, eu não souber sequer como chegar ao coração do meu próprio filho, for incapaz de lhe dar os conselhos de que ele precisar e desconhecer a forma de conquistar a sua amizade? Nenhuma, não é mesmo?
Com as informações, serei considerado culto, sem dúvida. Mas estarei muito longe de ser sábio. Com a aptidão humana da empatia, porém, poderei não estar revelando cultura. Mas “exercitarei” a sabedoria. É muito comum confundir-se o sábio com o apenas erudito, ou com o que se diz "inteligente". São conceitos diferentes. Não se tratam, de forma alguma, de sinônimos, embora a diferença seja sutil para que os despreparados, dados a generalizações (para as quais foram treinados no lar, na escola e na sociedade), a percebam.
Sabedoria só se obtém com experiência. É o clímax da racionalidade. É criativa, dinâmica e, sobretudo, participativa. Inteligência, por sua vez, é a mera capacidade de uma pessoa “entender” conceitos abstratos e as coisas que a rodeiam (do latim "inteligere").
Se não aplicada, pouco ou de nada vale para o indivíduo e para a coletividade. O sábio não aceita, a priori, tudo o que lhe dizem (ou o que lê) e não se deixa levar pelas aparências, para formar determinada opinião. Busca, antes de tudo, informar-se o máximo que pode, sobre certas idéias ou assuntos, analisando todos os seus ângulos e pormenores, para só depois de absolutamente convencido formar juízo, fundamentado em fatos.
Todos temos, em determinados momentos de nossas vidas, com intensidades variáveis, “lampejos” de sabedoria. Contudo, por negligência, falta de autoconfiança e/ou até mesmo distração, perdemos a oportunidade de nos tornarmos verdadeiramente sábios e de compartilharmos essa desejável condição com o mundo.
Não raro achamos que o conhecimento das coisas e das pessoas vem sempre completo, acabado, prontinho para ser usufruído. Engano! Compete-nos expandi-los, aperfeiçoá-los, burilá-los, dar-lhes a nossa indispensável contribuição, com a marca da nossa personalidade. Esse detalhamento é o que nos compete fazer, mediante muito estudo, meditação, observação e autodisciplina.
As pessoas simples, que jamais tiveram acesso ao crescente e quase infinito acervo de informação hoje ao nosso dispor (às vezes sequer às primeiras letras) – muitas vezes sábias sem que nem mesmo se dêem conta – acham, na sua simplicidade, que esse dom precioso, que é a sabedoria, só é acessível aos letrados. Ou seja, àqueles que freqüentaram bibliotecas e escolas as mais diversas e que conhecem um pouco de tudo.
Não é bem assim. Cultura e informação também não são sinônimas de sabedoria. No máximo, são suas subsidiárias. Sábio é quem sabe aproveitar os conhecimentos que adquire, por ínfimos e relativos que sejam, mas em sentido prático. Ou que, apenas pela intuição, descobre os melhores caminhos do bem-viver.
Há muita gente com extensíssima coleção de diplomas que não enxerga um palmo adiante do nariz. Samuel Taylor Coleridge resume, nestas palavras, a essência da sabedoria que eu, Depois de tantas linhas escritas, não soube explicitar com clareza: “Senso comum em grau incomum é o que o mundo chama de sabedoria”. É, de fato, isso, sem tirar e nem pôr. Ou você, paciente leitor, conhece definição melhor?

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