Pedro J. Bondaczuk
É um erro muito grande não darmos o devido valor às consideradas “pequenas coisas”, aparentemente triviais, corriqueiras e banais. Já vi muita grande obra se perder porque seu autor não atentou para algum reles “pequeno detalhe”.
Os investigadores concluíram, por exemplo, que a causa principal do casco do Titanic não haver resistido ao choque com um iceberg, em 1912, foi o defeito dos arrebites que prendiam as placas de aço que formavam a sua estrutura. Por causa disso, o transatlântico tido como invulnerável e impossível de naufragar foi a pique, causando a morte de mais de 1.500 pessoas. Como se vê, isso ocorreu por não se dar a importância devida a uma mísera pequena peça, de custo de alguns poucos centavos de libra, que se fosse levada em consideração, evitaria a tragédia e um prejuízo de milhões.
Faço, das coisas triviais que me cercam, matéria-prima das minhas crônicas. Isto é que dá “sabor” a esse gênero, misto literatura e jornalismo. Ou seja, sua aparente pouca importância ou não-importância, como queiram. É dessa desprezada fonte que extraio satisfações simples, porém cotidianas e praticamente inesgotáveis.
Por outro lado, há quem ache que “movimento” e “ação” sejam sinônimos. Não são! Podemos, perfeitamente, nos movimentar, sem agir, e vice-versa. Claro que, na maioria das vezes, movimento e ação andam juntos, mas estão longe de ser a mesma coisa. Às vezes, nos movimentamos sem sair, sequer, do lugar e sem que isso implique em qualquer “atitude”, a não ser mero exercício físico.
Por seu turno, homens brilhantes não raro agem sem fazer um único movimento: criando idéias que tendem a revolucionar o mundo. Quem confunde, portanto, os dois conceitos, corre o risco de achar que está agindo para modificar determinada situação que exija mudança quando, na verdade, não está fazendo nada de útil ou de prático para isso. Está, apenas, desperdiçando tempo e energia, ambos preciosíssimos.
Pergunto ao leitor: seria errado nutrirmos ilusões, como tenho lido por aí? Não, se as preservarmos, se as mantivermos intactas durante toda nossa vida, até o último suspiro. A realidade absoluta, nua e crua, é por demais feroz. Não há um único ser humano que a resista integralmente. É como a luz do sol. Se olharmos, fixamente, por cerca de um minuto ou menos, diretamente para a estrela que nos ilumina e dá vida, certamente ficaremos cegos. Sua luz é intensa demais para nossa retina.
São as ilusões que impulsionam as pessoas e as levam a trabalhar, de sol a sol, não raro em condições adversas, na doce certeza de que dias melhores virão. E mesmo que tardem a chegar, ou que não cheguem nunca, nos mantém ativos e confiantes, certos de que, se o tão sonhado sucesso ainda não chegou, não tardará a chegar. Não há quem não se iluda alguma vez com pessoas ou coisas.
Sonhar alto e lutar pela concretização dos sonhos é sempre compensador, mesmo que não consigamos concretizar o que sonhamos. Equivocam-se os que nutrem sentimentos de frustração e de amargura face a eventuais fracassos. Quem tenta nunca fracassa. Só o omisso, o covarde e o descrente são verdadeiros fracassados.
A quem tenta, por exemplo, sempre restará alguma experiência positiva, alguma melhoria, mesmo que apenas espiritual, dessa tentativa. É assim que se constroem vidas exemplares, algumas das quais se configuram em maiúsculas obras de arte. Às vezes, das cinzas de um sonho não-realizado nasce uma árvore frondosa de outros, muito maiores, que se concretizam..
Voltando às trivialidades, constatei que sons e imagens são despertadores, por excelência, da memória. Costumam nos trazer excelentes recordações, de paisagens, lugares, situações e, principalmente, pessoas que nos são (ou foram) caras e das quais as circunstâncias nos separaram.
Estas lembranças são preciosas, é verdade, mas não devemos nos apegar só a elas. Elas devem, isto sim, ser fontes de “acréscimo” de satisfações. Não podemos parar no tempo e viver do passado, que só é possível retornar na memória. A atitude mais sábia é renovar as experiências no presente e fazer dele fonte inesgotável de afetos e alegrias.
A memória deve nos servir, apenas, de subsídio, de acréscimo, nunca de muleta afetiva. Fernando Pessoa inicia assim seu belíssimo poema “Souvenir”: “Como é doce e triste por vezes ouvir/algum som antigo trazido à memória/e ver, como em sonhos, algum rosto querido,/trecho de paisagem, campo, rio ou vale,/lembrança tão breve, triste e agradável,/algo que recorde o tempo bom da infância”.
Se a vida nos confronta com decepções, fracassos e dores, coloca, igualmente, ao nosso alcance, inúmeras pequenas satisfações, como frutos maduros de uma árvore. Os melhores, é verdade, estão no topo e nos exigem um esforço maior para alcançar. Contudo, a maior quantidade se encontra nos galhos baixos, bem ao alcance das nossas mãos. Basta que as estendamos e colhamos o máximo de satisfações, o tanto que desejarmos e ousarmos colher. A vida não se realiza nas grandes coisas, mas na soma de pequenos detalhes, aos quais devemos sempre estar atentos.
É um erro muito grande não darmos o devido valor às consideradas “pequenas coisas”, aparentemente triviais, corriqueiras e banais. Já vi muita grande obra se perder porque seu autor não atentou para algum reles “pequeno detalhe”.
Os investigadores concluíram, por exemplo, que a causa principal do casco do Titanic não haver resistido ao choque com um iceberg, em 1912, foi o defeito dos arrebites que prendiam as placas de aço que formavam a sua estrutura. Por causa disso, o transatlântico tido como invulnerável e impossível de naufragar foi a pique, causando a morte de mais de 1.500 pessoas. Como se vê, isso ocorreu por não se dar a importância devida a uma mísera pequena peça, de custo de alguns poucos centavos de libra, que se fosse levada em consideração, evitaria a tragédia e um prejuízo de milhões.
Faço, das coisas triviais que me cercam, matéria-prima das minhas crônicas. Isto é que dá “sabor” a esse gênero, misto literatura e jornalismo. Ou seja, sua aparente pouca importância ou não-importância, como queiram. É dessa desprezada fonte que extraio satisfações simples, porém cotidianas e praticamente inesgotáveis.
Por outro lado, há quem ache que “movimento” e “ação” sejam sinônimos. Não são! Podemos, perfeitamente, nos movimentar, sem agir, e vice-versa. Claro que, na maioria das vezes, movimento e ação andam juntos, mas estão longe de ser a mesma coisa. Às vezes, nos movimentamos sem sair, sequer, do lugar e sem que isso implique em qualquer “atitude”, a não ser mero exercício físico.
Por seu turno, homens brilhantes não raro agem sem fazer um único movimento: criando idéias que tendem a revolucionar o mundo. Quem confunde, portanto, os dois conceitos, corre o risco de achar que está agindo para modificar determinada situação que exija mudança quando, na verdade, não está fazendo nada de útil ou de prático para isso. Está, apenas, desperdiçando tempo e energia, ambos preciosíssimos.
Pergunto ao leitor: seria errado nutrirmos ilusões, como tenho lido por aí? Não, se as preservarmos, se as mantivermos intactas durante toda nossa vida, até o último suspiro. A realidade absoluta, nua e crua, é por demais feroz. Não há um único ser humano que a resista integralmente. É como a luz do sol. Se olharmos, fixamente, por cerca de um minuto ou menos, diretamente para a estrela que nos ilumina e dá vida, certamente ficaremos cegos. Sua luz é intensa demais para nossa retina.
São as ilusões que impulsionam as pessoas e as levam a trabalhar, de sol a sol, não raro em condições adversas, na doce certeza de que dias melhores virão. E mesmo que tardem a chegar, ou que não cheguem nunca, nos mantém ativos e confiantes, certos de que, se o tão sonhado sucesso ainda não chegou, não tardará a chegar. Não há quem não se iluda alguma vez com pessoas ou coisas.
Sonhar alto e lutar pela concretização dos sonhos é sempre compensador, mesmo que não consigamos concretizar o que sonhamos. Equivocam-se os que nutrem sentimentos de frustração e de amargura face a eventuais fracassos. Quem tenta nunca fracassa. Só o omisso, o covarde e o descrente são verdadeiros fracassados.
A quem tenta, por exemplo, sempre restará alguma experiência positiva, alguma melhoria, mesmo que apenas espiritual, dessa tentativa. É assim que se constroem vidas exemplares, algumas das quais se configuram em maiúsculas obras de arte. Às vezes, das cinzas de um sonho não-realizado nasce uma árvore frondosa de outros, muito maiores, que se concretizam..
Voltando às trivialidades, constatei que sons e imagens são despertadores, por excelência, da memória. Costumam nos trazer excelentes recordações, de paisagens, lugares, situações e, principalmente, pessoas que nos são (ou foram) caras e das quais as circunstâncias nos separaram.
Estas lembranças são preciosas, é verdade, mas não devemos nos apegar só a elas. Elas devem, isto sim, ser fontes de “acréscimo” de satisfações. Não podemos parar no tempo e viver do passado, que só é possível retornar na memória. A atitude mais sábia é renovar as experiências no presente e fazer dele fonte inesgotável de afetos e alegrias.
A memória deve nos servir, apenas, de subsídio, de acréscimo, nunca de muleta afetiva. Fernando Pessoa inicia assim seu belíssimo poema “Souvenir”: “Como é doce e triste por vezes ouvir/algum som antigo trazido à memória/e ver, como em sonhos, algum rosto querido,/trecho de paisagem, campo, rio ou vale,/lembrança tão breve, triste e agradável,/algo que recorde o tempo bom da infância”.
Se a vida nos confronta com decepções, fracassos e dores, coloca, igualmente, ao nosso alcance, inúmeras pequenas satisfações, como frutos maduros de uma árvore. Os melhores, é verdade, estão no topo e nos exigem um esforço maior para alcançar. Contudo, a maior quantidade se encontra nos galhos baixos, bem ao alcance das nossas mãos. Basta que as estendamos e colhamos o máximo de satisfações, o tanto que desejarmos e ousarmos colher. A vida não se realiza nas grandes coisas, mas na soma de pequenos detalhes, aos quais devemos sempre estar atentos.
No comments:
Post a Comment