Quando o poder corrompe até amizades
Pedro J. Bondaczuk
O antigo Alto Volta, batizado, desde 1984, de Burkina Faso, é o que se pode chamar de um país trágico. Em primeiro lugar, por ser castigado pela própria natureza. Situado na região subsaariana, denominada de "Sahel", vem sofrendo, através dos anos, um processo crescente de desertificação. O Saara avança, implacavelmente, cerca de dois quilômetros por ano sobre suas terras, arrasando lavouras, destruindo aldeias e aumentando a sua imensa miséria.
A renda per capita de seus habitantes é de US$ 160 anuais. Ou seja, o equivalente a um salário mínimo e meio da Argentina ou a três brasileiros.
É uma nação em busca de uma personalidade própria. Desde que a França lhe concedeu uma independência parcial, em 1958, quando se agregou à Comunidade Francesa, já mudou de nome três vezes. Naquela oportunidade, recebeu o de República de Volta. Um ano depois, passou a chamar-se, simplesmente, Alto Volta, denominação que conservou até há três anos, quando foi outra vez mudada. Como se vê, não é por acaso que se tornou o problema favorito dos professores de Geografia quando querem testar o grau de atualização de seus alunos.
No plano institucional, sua vida não foi menos problemática. Desde 1958, teve somente cinco governos e destes, todos saíram pela porta dos fundos do palácio presidencial, geralmente presos, após ocorrência de golpes de Estado. A última vítima foi o capitão Thomas Sankara, que a esta altura deve estar curtindo uma dupla amargura: a de ter sido deposto (e dizem que está preso) e, o que é pior, por um amigo de infância. Pelo capitão Blaisé Campaore, que sempre o acompanhou em sua carreira militar e na vida pública.
Está provado, portanto, que a ânsia pelo poder, de fato, corrompe qualquer um. A ambição pelos cargos de mando é capaz de envenenar qualquer amizade, por mais sólida que possa parecer. Sankara, portanto, experimenta o mesmo dissabor que seus antecessores sentiram. Maurice Yameogo, Sangulê Lamizana (que pontilhou na vida do país por longos 14 anos e foi o responsável pelo único período democrático que os burkinenses tiveram), Saye Zerbo e finalmente Jean-Baptiste Uedraogo, que ele se encarregou de depor em 4 de agosto de 1983.
Não é preciso nem ser um gênio na arte de previsões para afirmar que o destino do ultra-esquerdista Campaore não será nada melhor. Faz parte da "tragédia" de Burkina Faso, que se convencionou chamar de "História".
(Artigo publicado no Correio Popular em 16 de outubro de 1987).
Pedro J. Bondaczuk
O antigo Alto Volta, batizado, desde 1984, de Burkina Faso, é o que se pode chamar de um país trágico. Em primeiro lugar, por ser castigado pela própria natureza. Situado na região subsaariana, denominada de "Sahel", vem sofrendo, através dos anos, um processo crescente de desertificação. O Saara avança, implacavelmente, cerca de dois quilômetros por ano sobre suas terras, arrasando lavouras, destruindo aldeias e aumentando a sua imensa miséria.
A renda per capita de seus habitantes é de US$ 160 anuais. Ou seja, o equivalente a um salário mínimo e meio da Argentina ou a três brasileiros.
É uma nação em busca de uma personalidade própria. Desde que a França lhe concedeu uma independência parcial, em 1958, quando se agregou à Comunidade Francesa, já mudou de nome três vezes. Naquela oportunidade, recebeu o de República de Volta. Um ano depois, passou a chamar-se, simplesmente, Alto Volta, denominação que conservou até há três anos, quando foi outra vez mudada. Como se vê, não é por acaso que se tornou o problema favorito dos professores de Geografia quando querem testar o grau de atualização de seus alunos.
No plano institucional, sua vida não foi menos problemática. Desde 1958, teve somente cinco governos e destes, todos saíram pela porta dos fundos do palácio presidencial, geralmente presos, após ocorrência de golpes de Estado. A última vítima foi o capitão Thomas Sankara, que a esta altura deve estar curtindo uma dupla amargura: a de ter sido deposto (e dizem que está preso) e, o que é pior, por um amigo de infância. Pelo capitão Blaisé Campaore, que sempre o acompanhou em sua carreira militar e na vida pública.
Está provado, portanto, que a ânsia pelo poder, de fato, corrompe qualquer um. A ambição pelos cargos de mando é capaz de envenenar qualquer amizade, por mais sólida que possa parecer. Sankara, portanto, experimenta o mesmo dissabor que seus antecessores sentiram. Maurice Yameogo, Sangulê Lamizana (que pontilhou na vida do país por longos 14 anos e foi o responsável pelo único período democrático que os burkinenses tiveram), Saye Zerbo e finalmente Jean-Baptiste Uedraogo, que ele se encarregou de depor em 4 de agosto de 1983.
Não é preciso nem ser um gênio na arte de previsões para afirmar que o destino do ultra-esquerdista Campaore não será nada melhor. Faz parte da "tragédia" de Burkina Faso, que se convencionou chamar de "História".
(Artigo publicado no Correio Popular em 16 de outubro de 1987).
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