Thursday, April 24, 2008

O Escrevinhador


Pedro J. Bondaczuk

A moda dos blogs é altamente contagiosa e afeta os incautos que gostam de escrever – quer escrevam bem, quer não. É como aquelas epidemias de gripe que se espalham em questão de horas, com os vírus pairando no ar e nos fazendo de vítimas, de seus hospedeiros, ao menor descuido, ao simples contato com quem já esteja afetado. Fui contagiado por essa mania (que é como a encaro) em dezembro de 2005. Desde então, tornei-me membro assíduo e onipresente da blogosfera, postando meus textos com pontualidade britânica, sem falhar um único dia desde então.
É verdade que antes de me decidir a ser mais um integrante dessa estranha e informal confraria virtual, já freqüentava, diariamente, esses espaços particulares da internet. Ou seja, antes de me tornar um blogueiro de fato, fui leitor compulsivo de blogs, notadamente dos voltados à literatura, às narrativas de viagens e aos de caráter político (estes nem tanto, por causa de alguns debates entre leitores nem sempre democráticos e em alto nível).
E o que me levou a aderir a essa onda? Foi a vaidade? Um pouco, talvez. Mas o principal motivo foi a necessidade de divulgar ainda mais os meus textos, notadamente os literários, já que o escritor que não divulga o que escreve, desaparece do cenário. Quem redige um texto, qualquer que seja, o faz, claro, para ser lido. Eu não sou diferente. É verdade que então eu já contava com vários espaços nobres da internet para essa divulgação, participando de sites de grande visibilidade, em que eu era cronista semanal (eram, então, dois, e hoje ascendem a dez).
Achava, porém, essa exposição, esse mostruário, essa vitrine insuficiente. Queria um espaço só meu, em que fosse, ao mesmo tempo, o redator e o editor. Sonhava com um “jornal particular”, posto que eletrônico, em que pudesse escrever o que, como e quando quisesse, sem nenhuma espécie de interferência, senão a do bom-senso. Foi por isso que criei “O Escrevinhador”.
O leitor, certamente, está se perguntando: “Por que não batizar o blog de ‘O Escritor’, por exemplo, ou com outro nome qualquer, mais nobre e menos vulgar?”. Sei lá! Deve ter sido coisa do subconsciente (às vezes desleal e traiçoeiro) a me cochichar no ouvido que talvez eu não fosse o bom redator que achava ser. Pode ter sido isso...
Afinal, o significado da palavra “escrevinhador” não é lá muito lisonjeiro. Conforme o dicionário, “escrevinhar” é escrever mal; é rabiscar, é escrever futilidades. Todavia, mesmo não sendo um Machado de Assis ou um Jorge Luís Borges, convenhamos, não escrevo tão mal assim. E, muito menos, me dedico a alinhavar futilidades. Quem teve acesso aos meus textos sabe que abordo idéias e temas filosóficos e comento livros, estilos e tendências literárias, embora, vez ou outra, também redija artigos, calcados, como o gênero (que é exclusivamente jornalístico) o exige, em fatos.
Creio que, mais uma vez, o subconsciente prevaleceu sobre o consciente. Contou, sobretudo, a sonoridade da palavra. “O Escrevinhador” soa bem e por gostar do som, adotei o nome, sem pestanejar. E, apesar desse meu cantinho contar com escassíssimos comentários, sei que é muito lido, pelos e-mails que recebo de assíduos leitores.
Depois de batizado o blog, descobri que havia um homônimo, em Portugal. Meu nobre colega português que me perdoe, mas não quis, em absoluto, roubar sua idéia. Pensamos, simultaneamente, a mesma coisa, sem que um conhecesse o outro. Não sabia da existência desse seu espaço. Só tomei conhecimento dele quando meu blog já tinha quase um ano de atividade. Não vejo, porém, problema algum no fato de haver dois nomes iguais, já que os estilos, temas e características de ambos são bastante diferentes e, portanto, inconfundíveis.
Esse meu cantinho particular, pelo qual tenho tanto carinho e apreço, adquiriu uma utilidade que não foi sequer prevista quando de sua criação. Nele testo a “qualidade” das crônicas, ensaios, poemas, contos e até colunas que escrevo (publiquei ali uma centena de edições da coluna esportiva “Toque de Letra”, que suspendi, temporariamente, para atualização visual e de conceito, mas que em breve voltará). Se tiverem boa aceitação, encaminho-os para os sites com os quais estou compromissado. Caso contrário...
Creio que aí, mais uma vez, o subconsciente prevaleceu. Afinal, um dos significados de “escrevinhador” é rabiscador. E como o blog é uma espécie de “rascunho”, de “rabiscos” prévios, feitos antes da versão definitiva dos textos, o nome mais do que se justifica. Esse subconsciente é, mesmo, caprichoso!

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