Gustave Flaubert afirmou, pela boca de um dos seus personagens, que “a recordação é a esperança do avesso. Olha-se para o fundo do poço como se olhou para o alto da torre”. E o romancista francês está coberto de razão. Quando temos esperança, olhamos para o alto, na certeza de que, aquilo que tanto queremos, vai, de fato, acontecer, sendo apenas questão de tempo. Às vezes, nunca acontece. Ainda assim, a sensação que nos fica é das mais doces e promissoras. Quando recordamos, porém, pensamos em algo que já passou, que aconteceu, que foi bom enquanto durou, mas que se acabou, sem chance de retorno. Considero, pois, a recordação muito mais frustrante e amarga do que a esperança. Mesmo que seja agradável, traz, em si, implícito, um sentimento de perda, de algo irrecuperável. A esperança, por seu turno, por mais louca que seja, nos abstrai da realidade, principalmente quando esta é amarga e dura, e sempre nos serve de benvindo consolo.
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