Sunday, April 13, 2008

DIRETO DO ARQUIVO


Grupos em conflito confundem os leigos



Pedro J. Bondaczuk


A guerra civil da Bósnia-Herzegovina, que já dura 17 meses e causou, conforme estimativas conservadoras, pelo menos 170 mil mortes, confunde o leitor que desconheça a história dos Balcãs (poucos conhecem) e até mesmo os especialistas, dada a complexidade da questão.

Muitos perguntam, por exemplo: “Não existe um país independente chamado Croácia? O que então, os croatas estão fazendo em território bósnio? Eles invadiram esse país? E os sérvios? Não existe uma República da Sérvia que integra, ao lado de Montenegro, a nova Iugoslávia?”

Pois é, trata-se de uma situação bastante peculiar. Para exemplificar melhor, suponhamos que o Sul e o Sudeste do Brasil resolvam se separar do restante do País e que cada Estado proclame sua independência. Suponhamos, ainda, que em São Paulo essa separação não seja pacífica e que os gaúchos aqui residentes e os mineiros, ao invés de voltarem para suas terras de origem, queiram formar mini-Repúblicas nas regiões paulistas em que residam. São os casos de sérvios e croatas na Bósnia.

Ao invés de voltarem aos seus Estados de origem, pretendem estabelecer unidades próprias e autônomas em território bósnio. Claro que a situação na ex-Iugoslávia é mais complexa do que o hipotético caso brasileiro. Aqui, há uma mesma língua, por exemplo, o mesmo alfabeto e relativa homogeneidade cultural. Lá não.

Os sérvios têm idioma próprio. Os croatas têm outro. Os primeiros utilizam-se do alfabeto cirílico, o mesmo da maioria dos povos eslavos, como russos, ucranianos e bielorrussos. Os segundos grafam seus textos no latino, como o nosso.

Levando nosso exemplo mais adiante, suponhamos que os paulistas que professem a fé católica queiram um Estado onde só haja habitantes da sua religião. É o que ocorre com os bósnios muçulmanos. No fim das contas, todos os três grupos em conflito nasceram na Bósnia, ou vivem há tanto tempo ali que podem ser considerados naturais dessa República.

No entanto, seus líderes separatistas não pensam assim. Daí a carnificina que choca o mundo e lembra os dias mais sombrios da Segunda Guerra Mundial. Coisas do “homo demens”, que ainda não chegou a um grau de civilização de tal porte de se considerar “cidadão do planeta Terra”, e não de determinados pedaços dele.

Os negociadores internacionais, David Owen e Thorvald Stoltenberg, respaldam um plano sérvio-croata para dividir a Bósnia em três mini-Estados étnicos. Ou seja, compactuam com uma tese absurda, surrealista e estranha aos que vêem a questão com neutralidade.

Haverá, portanto, na região, um país chamado Croácia e um Estado denominado República Croata da Bósnia. O mesmo irá acontecer em relação à Sérvia. E tudo isso é encarado como se fosse coisa normal!

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 15 de agosto de 1993).

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