Pedro J. Bondaczuk
A sabedoria popular é muito maior do que os intelectuais (e principalmente os pseudos) estão dispostos a admitir. Prova disso, são os provérbios que atravessam milênios, passando de boca-em-boca, de região-para-região, de país-para-país, vertidos para línguas bem diversas daquelas em que foram originalmente elaborados, mas sem perder a essência. Tenho uma coleção razoável desses ditos, a maioria anônima, de absoluto domínio público. Apesar das diferenças de culturas entre os povos, a despeito de realidades e costumes bastante diversos, há neles uma raiz comum, a mostrar que naquilo que é essencial, o homem é igual aqui e na China. E também atemporal. É o mesmo no século IX Antes de Cristo e na virada do terceiro milênio da Era Cristã.
A "Bíblia", o livro dos livros, tem um volume todo (já que se trata de uma biblioteca sintética) dedicado somente a provérbios, de autoria do rei Salomão. Foram escritos para a sua época, mas contêm uma atualidade impressionante. Podem ser perfeitamente aplicados às situações de hoje. Como este, por exemplo: "Há rico que nada tem, há pobres de muitos bens". Ou este: "Melhor um naco de pão com tranqüilidade que uma casa cheia de carnes com discórdia". Ou este outro: "Caminho da vida: ter disciplina! Quem desdenha a censura cai na ruína". O livro todo de "Provérbios" é de uma sabedoria cristalina, soberana, humana. É isso! Contém o melhor da humanidade. Trata-se de uma leitura amena, mas de enorme proveito, pelos ensinamentos que encerra.
Milênios antes de Salomão (e da própria existência do povo de Israel), esses ditos circulavam pelo mundo, passados de pai para filho, gerações após gerações, até‚ chegarem ao nosso tempo. São frutos não apenas da observação, mas da experiência. O interessante é que os puristas literários consideram-nos vícios de estilo. Chamam-nos de "clichês", "chavões", "lugares-comuns" e condenam o seu uso. Arrogantes donos da verdade! Por que desdenhar da sabedoria desse povo que integramos, do qual fazemos parte, depurada e aperfeiçoada pelo tempo?!
Dos vários provérbios que reuni, há um, judeu, que aprecio particularmente. Diz: "Quem deve ser honrado? Aquele que honra os outros". Um outro, chinês, constata: "Aquele que conseguisse prever o futuro com três dias de antecedência seria rico por milhares de anos". Desse mesmo povo, há um que recomenda: "Se você não confia num homem, não o empregue; mas se você emprega um homem, confie nele". Simples, não é verdade? E sábio. E belo. E eterno. Trata-se de um autêntico "ovo de Colombo". São constatações que qualquer um de nós poderia fazer. Mas não fizemos. E é nessa simplicidade, nessa obviedade, nesse primitivismo que estão a beleza e a sabedoria desses ditos populares.
Recentemente, anotei em minha coleção provérbios do povo bantu (diria nação, civilização, etnia que se espalha por Camarões, República do Congo, Quênia, Somália, Zaire, Zimbabwe e África do Sul), publicados no caderno "Idéias" do "Jornal do Brasil", do Rio de Janeiro. É um tratado de sociologia e de antropologia, prático, sem nomes pomposos e teorias complicadas. É a ciência do comportamento detectada em seu nascedouro. Perceba o leitor a verdade existente neste aforismo: "A autoridade, como a pele de leopardo, é cheia de buracos". E neste outro: "Se queres te queixar do chefe, primeiro atravessa as fronteiras". E em mais este: "Quem casa, põe cobra na mochila". Observe a sabedoria deste provérbio: "O fogo não destrói o fogo, nem a guerra a guerra". E deste: "Pára de tomar mel enquanto é gostoso". E de mais este: "Elogiar, só os mortos".
O admirável nessas pérolas da sabedoria popular é o poder de síntese que têm. Os ditos sábios, os chamados filósofos, sociólogos, antropólogos, literatos, ou sejam o que forem, usariam páginas e mais páginas, livros e mais livros, para expressarem esses mesmíssimos conceitos. O povo, no entanto, resume-os com meia dúzia de palavras. E elas bastam. Sobrevivem à memória e ao tempo, mesmo não perpetuando o nome do verdadeiro autor. A sabedoria é simples.
A sabedoria popular é muito maior do que os intelectuais (e principalmente os pseudos) estão dispostos a admitir. Prova disso, são os provérbios que atravessam milênios, passando de boca-em-boca, de região-para-região, de país-para-país, vertidos para línguas bem diversas daquelas em que foram originalmente elaborados, mas sem perder a essência. Tenho uma coleção razoável desses ditos, a maioria anônima, de absoluto domínio público. Apesar das diferenças de culturas entre os povos, a despeito de realidades e costumes bastante diversos, há neles uma raiz comum, a mostrar que naquilo que é essencial, o homem é igual aqui e na China. E também atemporal. É o mesmo no século IX Antes de Cristo e na virada do terceiro milênio da Era Cristã.
A "Bíblia", o livro dos livros, tem um volume todo (já que se trata de uma biblioteca sintética) dedicado somente a provérbios, de autoria do rei Salomão. Foram escritos para a sua época, mas contêm uma atualidade impressionante. Podem ser perfeitamente aplicados às situações de hoje. Como este, por exemplo: "Há rico que nada tem, há pobres de muitos bens". Ou este: "Melhor um naco de pão com tranqüilidade que uma casa cheia de carnes com discórdia". Ou este outro: "Caminho da vida: ter disciplina! Quem desdenha a censura cai na ruína". O livro todo de "Provérbios" é de uma sabedoria cristalina, soberana, humana. É isso! Contém o melhor da humanidade. Trata-se de uma leitura amena, mas de enorme proveito, pelos ensinamentos que encerra.
Milênios antes de Salomão (e da própria existência do povo de Israel), esses ditos circulavam pelo mundo, passados de pai para filho, gerações após gerações, até‚ chegarem ao nosso tempo. São frutos não apenas da observação, mas da experiência. O interessante é que os puristas literários consideram-nos vícios de estilo. Chamam-nos de "clichês", "chavões", "lugares-comuns" e condenam o seu uso. Arrogantes donos da verdade! Por que desdenhar da sabedoria desse povo que integramos, do qual fazemos parte, depurada e aperfeiçoada pelo tempo?!
Dos vários provérbios que reuni, há um, judeu, que aprecio particularmente. Diz: "Quem deve ser honrado? Aquele que honra os outros". Um outro, chinês, constata: "Aquele que conseguisse prever o futuro com três dias de antecedência seria rico por milhares de anos". Desse mesmo povo, há um que recomenda: "Se você não confia num homem, não o empregue; mas se você emprega um homem, confie nele". Simples, não é verdade? E sábio. E belo. E eterno. Trata-se de um autêntico "ovo de Colombo". São constatações que qualquer um de nós poderia fazer. Mas não fizemos. E é nessa simplicidade, nessa obviedade, nesse primitivismo que estão a beleza e a sabedoria desses ditos populares.
Recentemente, anotei em minha coleção provérbios do povo bantu (diria nação, civilização, etnia que se espalha por Camarões, República do Congo, Quênia, Somália, Zaire, Zimbabwe e África do Sul), publicados no caderno "Idéias" do "Jornal do Brasil", do Rio de Janeiro. É um tratado de sociologia e de antropologia, prático, sem nomes pomposos e teorias complicadas. É a ciência do comportamento detectada em seu nascedouro. Perceba o leitor a verdade existente neste aforismo: "A autoridade, como a pele de leopardo, é cheia de buracos". E neste outro: "Se queres te queixar do chefe, primeiro atravessa as fronteiras". E em mais este: "Quem casa, põe cobra na mochila". Observe a sabedoria deste provérbio: "O fogo não destrói o fogo, nem a guerra a guerra". E deste: "Pára de tomar mel enquanto é gostoso". E de mais este: "Elogiar, só os mortos".
O admirável nessas pérolas da sabedoria popular é o poder de síntese que têm. Os ditos sábios, os chamados filósofos, sociólogos, antropólogos, literatos, ou sejam o que forem, usariam páginas e mais páginas, livros e mais livros, para expressarem esses mesmíssimos conceitos. O povo, no entanto, resume-os com meia dúzia de palavras. E elas bastam. Sobrevivem à memória e ao tempo, mesmo não perpetuando o nome do verdadeiro autor. A sabedoria é simples.
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