Pedro J. Bondaczuk
A pronúncia das palavras da língua portuguesa, atualmente no Brasil, por incrível que possa parecer, é semelhante à usada nos tempos do descobrimento do País, em fins do século XV e início do XVI em Portugal. Enquanto na metrópole, contudo, ela sofreu enormes modificações, por influência principalmente do galego, aqui conservou as características básicas de então. As formas de pronunciar as palavras tornaram-se tão diferentes, nos dois países, a ponto do português falado em cada um deles não parecer ser o mesmo idioma, embora, evidentemente, o seja.
Os vários termos utilizados, tanto pelo povo, quanto pelos intelectuais e eruditos, tiveram grandes transformações, no que diz respeito à grafia e ao significado, nesses mais de 500 anos de existência do Brasil. Várias reformas ortográficas foram feitas em nosso país apenas no século passado (referimo-nos, obviamente, ao XX, recém terminado).
Uma infinidade de expressões caiu em desuso. Outras, embora constem ainda de dicionários (mais como meras curiosidades do que propriamente como recursos de comunicação escrita ou oral), foram substituídas por formas populares. Afinal, é o povo (e não os gramáticos) que faz a língua.
Palavras nasceram, palavras morreram, palavras se transformaram, de acordo com a evolução das ciências e das artes (basta ver a enxurrada de neologismos incorporada ao idioma pelo desenvolvimento da informática) e com as gírias criadas pelas pessoas comuns, em seus relacionamentos.
Mas no que se refere, especificamente, à maneira de pronunciar, tudo está, no Brasil, exatamente como nos tempos de Pedro Álvares Cabral. Por exemplo, os portugueses quinhentistas não "comiam" o "e" da palavra "pessoa", como fazem os de hoje, que pronunciam "p'ssoa" ou "p'daço".
Muitas das expressões lusitanas desse período sobreviveram, especialmente no interior brasileiro. Podem ser citadas como exemplos, nesse caso, "despois" (em vez de depois), "alevantar" (em vez de levantar), "ajuntar" (em vez de juntar) e "té" (em vez de até), entre tantas e tantas e tantas outras das quais não nos recordamos agora.
Outra característica que a língua falada no Brasil conservou, e que os lusitanos de hoje não têm mais, é a pronúncia de "i" e "u" no final das palavras terminadas em "e" e "o". Quando dizemos o nome "Henrique", não percebemos, mas o pronunciamos "Henriqui". O mesmo ocorre com "sapato", que expressamos oralmente "sapatu", "tomate", que dizemos "tumati", e vai por aí afora. Essa forma de pronúncia, no entanto, já era usada em Portugal em 1500 (embora não mais o seja na atualidade).
Algumas expressões extintas entre os portugueses, há séculos, sobrevivem no Brasil e estão em uso corrente. Assim, os contemporâneos de Cabral diziam que "fulano progride a olhos vistos", ou "beltrano está em uma autêntica roda viva". Nós ainda nos expressamos assim. Em Portugal não se fala mais dessa forma.
Como se vê, e ao contrário do que a maioria pensa, as colônias foram mais conservadoras do que a metrópole quanto à pronúncia. Essa diferenciação, no Brasil e em Portugal, vem de algum tempo e se fazia notar na época em que Antonio Vieira pregava seus inspirados sermões no Maranhão, no século XVII.
As pronúncias diferentes do mesmo idioma levaram o padre a afirmar com bom-humor: "A língua portuguesa tem avesso e direito. O direito é como nós falamos e o avesso como a falam os naturais". Estes, no entanto, poderiam inverter a equação e assegurar exatamente o contrário do culto e criativo sacerdote.
Em relação à língua portuguesa no Brasil, todavia, o que causa maior espanto, dada a extensão quase continental do território nacional, foi a conservação da unidade lingüística. Trata-se de verdadeiro "milagre" e é, provavelmente, um dos fatores fundamentais para a manutenção da nossa coesão nacional. É certo que o carioca, por exemplo, fala bem diferente do amazonense e este do gaúcho, e assim por diante. Mas todos eles se entendem e se comunicam, sem necessidade de intérpretes. A Índia, no entanto, bem menor do que o nosso país em termos territoriais (quase a metade), tem mais de um mil idiomas e dialetos, muito diferentes um do outro. A mesma coisa verifica-se na Rússia, na China, na Indonésia, etc.etc.etc. Ponto para nós...
A pronúncia das palavras da língua portuguesa, atualmente no Brasil, por incrível que possa parecer, é semelhante à usada nos tempos do descobrimento do País, em fins do século XV e início do XVI em Portugal. Enquanto na metrópole, contudo, ela sofreu enormes modificações, por influência principalmente do galego, aqui conservou as características básicas de então. As formas de pronunciar as palavras tornaram-se tão diferentes, nos dois países, a ponto do português falado em cada um deles não parecer ser o mesmo idioma, embora, evidentemente, o seja.
Os vários termos utilizados, tanto pelo povo, quanto pelos intelectuais e eruditos, tiveram grandes transformações, no que diz respeito à grafia e ao significado, nesses mais de 500 anos de existência do Brasil. Várias reformas ortográficas foram feitas em nosso país apenas no século passado (referimo-nos, obviamente, ao XX, recém terminado).
Uma infinidade de expressões caiu em desuso. Outras, embora constem ainda de dicionários (mais como meras curiosidades do que propriamente como recursos de comunicação escrita ou oral), foram substituídas por formas populares. Afinal, é o povo (e não os gramáticos) que faz a língua.
Palavras nasceram, palavras morreram, palavras se transformaram, de acordo com a evolução das ciências e das artes (basta ver a enxurrada de neologismos incorporada ao idioma pelo desenvolvimento da informática) e com as gírias criadas pelas pessoas comuns, em seus relacionamentos.
Mas no que se refere, especificamente, à maneira de pronunciar, tudo está, no Brasil, exatamente como nos tempos de Pedro Álvares Cabral. Por exemplo, os portugueses quinhentistas não "comiam" o "e" da palavra "pessoa", como fazem os de hoje, que pronunciam "p'ssoa" ou "p'daço".
Muitas das expressões lusitanas desse período sobreviveram, especialmente no interior brasileiro. Podem ser citadas como exemplos, nesse caso, "despois" (em vez de depois), "alevantar" (em vez de levantar), "ajuntar" (em vez de juntar) e "té" (em vez de até), entre tantas e tantas e tantas outras das quais não nos recordamos agora.
Outra característica que a língua falada no Brasil conservou, e que os lusitanos de hoje não têm mais, é a pronúncia de "i" e "u" no final das palavras terminadas em "e" e "o". Quando dizemos o nome "Henrique", não percebemos, mas o pronunciamos "Henriqui". O mesmo ocorre com "sapato", que expressamos oralmente "sapatu", "tomate", que dizemos "tumati", e vai por aí afora. Essa forma de pronúncia, no entanto, já era usada em Portugal em 1500 (embora não mais o seja na atualidade).
Algumas expressões extintas entre os portugueses, há séculos, sobrevivem no Brasil e estão em uso corrente. Assim, os contemporâneos de Cabral diziam que "fulano progride a olhos vistos", ou "beltrano está em uma autêntica roda viva". Nós ainda nos expressamos assim. Em Portugal não se fala mais dessa forma.
Como se vê, e ao contrário do que a maioria pensa, as colônias foram mais conservadoras do que a metrópole quanto à pronúncia. Essa diferenciação, no Brasil e em Portugal, vem de algum tempo e se fazia notar na época em que Antonio Vieira pregava seus inspirados sermões no Maranhão, no século XVII.
As pronúncias diferentes do mesmo idioma levaram o padre a afirmar com bom-humor: "A língua portuguesa tem avesso e direito. O direito é como nós falamos e o avesso como a falam os naturais". Estes, no entanto, poderiam inverter a equação e assegurar exatamente o contrário do culto e criativo sacerdote.
Em relação à língua portuguesa no Brasil, todavia, o que causa maior espanto, dada a extensão quase continental do território nacional, foi a conservação da unidade lingüística. Trata-se de verdadeiro "milagre" e é, provavelmente, um dos fatores fundamentais para a manutenção da nossa coesão nacional. É certo que o carioca, por exemplo, fala bem diferente do amazonense e este do gaúcho, e assim por diante. Mas todos eles se entendem e se comunicam, sem necessidade de intérpretes. A Índia, no entanto, bem menor do que o nosso país em termos territoriais (quase a metade), tem mais de um mil idiomas e dialetos, muito diferentes um do outro. A mesma coisa verifica-se na Rússia, na China, na Indonésia, etc.etc.etc. Ponto para nós...
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