Thursday, May 24, 2007

O Mito da Caverna - III


Pedro J. Bondaczuk

(Continuação)

Extremos condenáveis

Mesmo no plano das idéias, Platão condenava os extremos. Afirmava que nem os que não têm educação (ou seja, os que jamais viram a luz do sol fora da caverna) e nem os demasiadamente educados (os que nunca estiveram atados à frente da entrada da gruta) seriam bons servidores da sua cidade ideal.
Os primeiros não o seriam por falta de objetivos pelos quais pudessem pautar sua conduta. Sua realidade não era mais do que um conjunto de sombras, de reflexos, de distorções. Para eles, portanto, a acomodação era a melhor estratégia. Pelo menos, ela envolveria menos esforços.
Os demasiadamente educados, por sua vez, julgar-se-iam “superiores e bem-aventurados”. Achariam que tinham galgado o próprio cimo do Olimpo. Não seria de se estranhar se achassem que tinham certa espécie de parceria com os deuses. Por essa razão, não se sentiriam motivados para agir.
Se o leitor observar com atenção, verá que é exatamente o que ocorre ao nosso redor, no nosso cotidiano. Uma determinada pessoa, por exemplo, dedica-se com muito afinco aos estudos. No princípio, está cheia de ideais nobres em relação à humanidade e não mede sacrifícios para atingir sua meta. Sonha em salvar o mundo, não por interesse pessoal, por fama, fortuna ou poder, mas somente por idealismo.
Todavia, à medida em que galga os degraus que o aproximam da meta e mais se distancia da massa inculta, abre mão dos objetivos primitivos. Elitiza-se e traça novas metas, absolutamente individuais. Descer ao nível da maioria, obviamente, nem lhe passa pela cabeça. O estágio que atingiu é muito superior ao dessa massa inculta. O recurso seria trazer o máximo possível dessas pessoas ao patamar de conhecimentos que conquistou. Contudo, nesta altura, sua motivação original já se esvaiu e seu ideal de salvar o mundo virou fumaça. E sua visão da realidade enche-o, na verdade, apenas de um imenso tédio.
Na opinião de Platão, existia, para além do plano dos fenômenos palpáveis, visíveis, audíveis, palatáveis e cheiráveis, ou seja, o dos sentidos, um outro mundo. Seria um planeta de realidades constituídas dos mesmos atributos dos conceitos que existem em nosso mundo interior, mas não no físico. E estas seriam as nossas “idéias”.
Elas não seriam apenas meras formas abstratas do pensamento. Seriam realidades objetivas e com o atributo da eternidade. As coisas terrenas não passariam de meras cópias, eivadas de imperfeições e, sobretudo, passageiras das idéias.

(Continua)

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