Thursday, May 31, 2007

Arte e comunicação


Pedro J. Bondaczuk



A primeira manifestação de criatividade do homem, ainda nas cavernas, foi através da pintura. Rústica, evidentemente, primária, sem técnica ou instrumental, mas imortal. Essa arte original, primitiva, mas que sobreviveu a milênios, chegando até nós, tinha a função primordial de comunicar à comunidade, à família e à tribo as descobertas do artista, suas crenças, seus terrores, suas alegrias e suas emoções.

Pode-se dizer que essa foi a primeira linguagem criada pelo Homo Sapiens, tão logo se deu conta de que pensava, assim que descobriu que seus semelhantes faziam o mesmo e percebeu (ou intuiu) que era possível estabelecer um intercâmbio de conhecimentos e sensações. Todos os alfabetos do mundo surgiram da corruptela de desenhos de objetos, de animais, de acidentes geográficos etc.

Não é errado, portanto, afirmar que a pintura foi a primeira língua humana. Nem todos, evidentemente, tinham ou têm esse talento. Não é por acaso que o pensador francês, Edgar Morin, caracteriza a cultura como "um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos, orientam as emoções". E a maioria não é culta.

Estas considerações vêm a propósito da exposição a que compareci, no início da década de 90, do artista plástico Nilton Fontanini, realizada no primeiro andar da agência central da Caixa Econômica Federal, na Avenida Francisco Glicério, 1480, em Campinas.

O expositor exercitou, em sua plenitude, o significado maior da criação artística. Não se limitou a "copiar" a natureza, o que ademais seria um exercício inútil, já que o homem, por mais hábil e talentoso que seja, jamais chegará à perfeição do natural, do espontâneo, do vivo. Criou um mundo particular e procurou tornar o espectador seu cúmplice nessa obra de criação. O que, convenhamos, conseguiu. Eu, pelo menos, saí da exposição fascinado com a criatividade do artista.

Os trabalhos de Fontanini destinam-se mais à alma do que aos sentidos. O receptor de sua comunicação é desafiado a participar da criação da obra. São peças feitas mais para "sentir", do que para apreciar ou pensar.

O próprio Fontanini, no convite distribuído à imprensa para a exposição, na oportunidade, definiu o que na sua visão significa o ato de criar. Dizia: "Elaboração de emoções. Sentimentos, estímulos externos e vibração interior. Ordenada pelo intelecto, regida pela intuição, a obra de arte deve portar, conter em si, a condensação de todos esses elementos, traduzidos na linguagem plástica, e oferecê-los ao espectador. Eis aí a criação". Cada um de nós tem a sua própria definição a respeito, que se resume, em linhas gerais, nesta mesma visão do artista.

Muita gente deixa de freqüentar esse tipo de mostra sob a argumentação de que não entende nada de pintura, escultura etc. Isto ocorre porque essas pessoas têm uma visão equivocada da produção artística. A obra de arte não é para ser somente apreciada, passivamente, sem atentar para os detalhes. Deve ser, sobretudo, "sentida". Precisa despertar alguma emoção no expectador, alguma reminiscência, algum desejo, alguma crítica, alguma reação.

Além do prazer estético que nos dão, as peças são um ótimo investimento, com rentabilidade garantida. Trata-se de um mercado que jamais entra em crise e está em permanente expansão. Muitas vezes, deixa-se de adquirir um quadro, uma gravura ou uma escultura, de determinado artista, sob o pretexto de que se trata de um desconhecido, mesmo que artística e esteticamente sejam perfeitos. Passados alguns anos, todavia, em geral se percebe o erro em que se incorreu.

O holandês Vincent Van Gogh, por exemplo, vendeu, em vida, uma única tela, adquirida, por sinal, por seu irmão, que o fez para estimular o mestre. Hoje, quanto valem suas obras? Não menos do que US$ 10 milhões cada! As obras de arte têm essa característica. Aumentam de valor à medida que envelhecem. Não sei que fim levou Nilton Fontanini. Espero que tenha obtido a projeção que o seu talento permite. Neste mundo tão competitivo das artes, nem sempre são os melhores que permanecem.

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