Sunday, May 20, 2007

Quando a doença é incurável?


Pedro J. Bondaczuk


A eutanásia, há muitos anos, (poderíamos dizer até séculos) vem sendo objeto de discussões em várias partes do mundo. Trata-se da chamada "morte piedosa" dada às pessoas doentes com moléstias consideradas incuráveis e que estejam sendo vítimas de grandes sofrimentos. A tendência da maioria é rejeitar, como sendo até "hedionda", essa idéia. Afinal, a função dos médicos sempre foi, é e deve ser a de salvar vidas. A de curar enfermidades e minorar sofrimentos. A de lutar com todas as suas forças e com as armas de que dispõem contra a morte, a sua grande adversária. Mas o tema, volta e meia, retorna à baila, tanto nas revistas especializadas de Medicina, quanto na opinião pública internacional.

Do ponto de vista ético, a simples menção dessa prática chega a ser imoral. Afinal, nenhum ser humano tem, nem deve ter, o poder de decidir quando alguém deverá morrer. Principalmente em se tratando de um doente que, por estar nessas condições, desperta a piedade geral. Os que defendem a eutanásia argumentam que através dela a pessoa poderá se livrar de seus terríveis tormentos, nem sempre suportáveis com resignação.

Além disso, ela aliviaria as tensões naturais dos parentes quanto ao estado do seu ente querido. Sua aplicação seria feita por métodos indolores e rápidos. Há, também, os que defendem que o doente seja consultado se quer ou não continuar vivendo (como se em sua aflição ele tivesse condições de decidir algo de tamanha gravidade com a serenidade requerida).

Os que se opõem à chamada "morte piedosa" contra-argumentam com a rapidez dos avanços da Medicina. Moléstias hoje consideradas incuráveis poderão ter cura no dia seguinte ao da "execução" do doente. Muitos tipos de câncer, por exemplo, que levavam inexoravelmente ao desenlace fatal, hoje já são curáveis ou controláveis.

Transplantes cardíacos, anos atrás, não passavam de meras experiências médicas. Hoje, centenas de pessoas têm corações alheios pulsando em seus peitos e levam vidas produtivas e verdadeiramente adaptadas às suas peculiares condições. A pergunta que os médicos se fazem amiúde é: "Quando um paciente deve ser dado como desenganado?". Isto é muito relativo.

Há relatos na literatura médica de recuperações consideradas "miraculosas", embora elas não sejam a regra, mas raríssimas exceções. E se após aplicar a eutanásia numa pessoa, uma posterior autópsia revelar que o profissional que a atendia se equivocou no diagnóstico ou até no tratamento? Como se vê, esta é uma questão para muita reflexão, por envolver a coisa mais preciosa que existe no universo: a vida e, em especial, a humana.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 22 de dezembro de 1988)

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