Wednesday, May 16, 2007

Genial, criativo e rebelde - III


Pedro J. Bondaczuk

(Continuação)

TAMANHO E PESO

Há muitas teorias relacionando o tamanho e o peso do cérebro à inteligência do seu portador. No século passado, por exemplo, o cirurgião francês Paul Broca (1824-1880) achou que havia desvendado o mistério, após uma série de pesquisas nesse sentido.

Para tentar provar sua teoria, o pesquisador, professor de Cirurgia e fundador da Sociedade de Antropologia de Paris, reuniu uma impressionante quantidade e variedade de cabeças humanas, desde as de intelectuais consagrados e reconhecidos de então, às de indigentes e loucos, obtidas em hospícios e em morgues da capital francesa.

Broca passou anos dissecando, pesando, medindo e comparando os cérebros de sua coleção e relacionando-os à biografia dos seus donos. Nunca chegou a provar sua tese. Pelo contrário, só conseguiu causar celeuma e muita polêmica com suas ousadas afirmações, não fundamentadas em fatos científicos.

Por exemplo, Broca negou que o matemático alemão, Carl Friederich Gauss – físico inovador, criador de complexas teorias matemáticas – fosse gênio, como era considerado. Garantiu que o cientista não era sequer pessoa “inteligente”. E justificava sua conclusão dizendo que seu cérebro era muito pequeno e muito leve (com massa cerebral entre 1,3 e 1,4 quilos) para que fosse dotado de qualquer resquício de genialidade. Claro que isso não provava (e nem prova) nada. Mas Broca estava convencido que sim.

O polêmico médico não soube explicar, também, porque o cérebro de um notório idiota (incapaz de formular qualquer raciocínio lógico, lúcido, e cuja capacidade de raciocínio era comparável à de um vegetal), que havia morrido em um hospício de Paris, pesava 2,5 quilos! Se a sua teoria fosse correta, esse indivíduo seria o gênio dos gênios. E, no entanto, tratava-se de um imbecil, na mais lato significado do termo.

É mister ressaltar que a morte o livrou da maior das decepções. A autópsia do corpo de Paul Broca trouxe como resultado uma autêntica ironia da natureza. Ele, que sempre se julgou um gênio (e era reconhecido por muitos como tal), inventor do que denominou de “Craniologia”, pelos padrões que estabeleceu, poderia ser considerado um indivíduo de inteligência apenas “comum”. Seu cérebro era do tamanho e de peso iguais aos de muitos indigentes das ruas de Paris.

Conhecedora dessas experiências, a Dra. Marian mantém prudente cautela na divulgação dos resultados de suas pesquisas com Einstein. “Ninguém sabe como uma célula pensa. Isso é um mistério”, admite a pesquisadora. As autópsias mostram, por exemplo, que pessoas tidas consensualmente como geniais, nem sempre têm quantidade maior de neurônios do que as que sofrem de graves e irreversíveis problemas mentais.

Mas de uma coisa os cientistas já têm plena certeza: a de que a inteligência, se não tem nada a ver com o tamanho e o peso do cérebro, está diretamente relacionada com um fenômeno que ocorre nas células nervosas: as sinapses. Trata-se de uma espécie de curto-circuito, elétrico e químico (através da troca de elétrons entre o cloro e o sódio), que ocorre nas extremidades dos neurônios (nos seus prolongamentos ramificados denominados de dendritos).

É por esse meio que um neurônio transmite as “ordens” que recebe do cérebro para o vizinho, até que esta chegue ao órgão a ser acionado. A quantidade de sinapses é tão imensa, a ponto de se tornar impossível sua quantificação. Basta dizer que a média de neurônios existentes no cérebro humano ultrapassa os 4,5 bilhões. Cálculos mais arrojados (mas nem por isso necessariamente imprecisos) estimam que a quantidade desses “curtos-circuitos” nos terminais nervosos chegam a ultrapassar, em números, a todas as partículas existentes no universo!

(Continua)

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