Tuesday, May 15, 2007

Genial, criativo e rebelde - II


Pedro J. Bondaczuk

(Continuação)

POSIÇÃO DOS NEUROLOGISTAS

Albert Einstein, pouco antes de morrer, em 18 de abril de 1955, aos 76 anos, no Hospital da Universidade de Princeton, à qual estava ligado, deixou minuciosas instruções sobre o que deveria ser feito com o seu corpo e seus bens. Entre outras coisas, manifestou o desejo de que seu cérebro não fosse cremado, junto com seu cadáver, mas conservado em formol para estudos.

O patologista Thomas Harvey foi incumbido da tarefa de guarda e preservação. O médico, porém, não tomou as necessárias cautelas para preservar tão preciosa peça anatômica. Guardava, por exemplo, o recipiente, contendo o cérebro de Einstein mergulhado em formol, numa gaveta de seu escritório, embrulhado em trapos e em jornais velhos. O procedimento pode ter provocado profundas alterações nas delicadas e frágeis células do órgão, conservado, como se constatou, de forma tecnicamente inadequada, ou seja, sem a indispensável refrigeração.

Por três anos, a professora de Anatomia da Universidade da Califórnia, Marian Diamond, insistiu com Harvey para que lhe cedesse um fragmento do cérebro de Einstein, que ela desejava estudar. A pesquisadora não revelou como ficou sabendo da existência dessa peça, mas o fato é que não desistiu do intento enquanto não teve êxito. Depois de várias tentativas frustradas, finalmente a médica conseguiu o que queria.

No final do ano passado, Harvey concordou em partilhar com ela uma fatia do órgão, por estar convencido de que aquela massa cinzenta, de má aparência, escondia um segredo que a ciência há anos vinha tentando desvendar. Queria, acima de tudo, tirar uma dúvida que o incomodava: se anatomicamente o genial físico alemão, de origem, judia (naturalizado norte-americano), guardava diferenças tão marcantes, quanto as intelectuais, em relação às pessoas de inteligência mediana. Vários outros neurologistas também receberam fatias do cérebro de Einstein.

A Dra. Marian, tão logo recebeu o fragmento, iniciou suas pesquisas, que iriam se estender por um longo tempo. Programou uma série de testes, notadamente os histológicos, que durariam pelo menos seis meses. Retalhou aquela massa cinzenta mole e inconsistente em diversos pedaços, para compor múltiplas lâminas, que analisou ao microscópio. Dia após dia repetiu, pacientemente, todos procedimentos laboratoriais, sem encontrar nada de novo.

Finalmente, a pesquisadora viu sua persistência ser premiada. Descobriu algo inusitado, em seus meticulosos relatórios de pesquisa, que poderia ser a “chave” daquilo que estava procurando. Constatou, nas contagens e comparações celulares que fez nas várias lâminas, que o fragmento do cérebro de Einstein apresentava quantidade maior do que a normal de um determinado tipo de células: as “gliais”, cuja função é a de alimentação e de manutenção neuronial.

Para alguns, a constatação da Dra. Marian está longe de resolver a questão da inteligência. Para outros, no entanto, pode ser a tão procurada chave do mistério. Há tempos os pesquisadores divergem sobre as verdadeiras funções das células gliais. Nos compêndios de Anatomia, por exemplo, seu papel nunca foi relacionado com o raciocínio.

Os patologistas acham que elas servem apenas como suportes, como alimentadoras dos neurônios, estes sim considerados fatores do pensamento e controladores das habilidades humanas. E mesmo assim, nem a quantidade destes terminais nervosos é considerada determinante da inteligência. O termo médico “glia” foi emprestado do grego, e significa “cola”.

As células gliais formam o tecido intersticial dos centros nervosos do cérebro. Além da tarefa de alimentação, exercem papel excretor e reparador de neurônios avariados ou envelhecidos. Retalhando um fragmento do lado esquerdo do cérebro de Einstein, Marian encontrou 73% a mais de células gliais para cada neurônio, do que as normalmente encontradas em outros cérebros que estudou.

E concluiu, em entrevista que concedeu em 12 de fevereiro passado: “As células gliais podem estar ligadas ao mecanismo cerebral e sua abundância no cérebro de Einstein pode ser uma pista para se entender porque ele era tão inteligente”. A conclusão, ao que tudo indica, não é meramente especulativa. Está fundamentada em pesquisas paralelas anteriores que a pesquisadora realizou.

Durante anos a Dra. Marian Diamond estudou o relacionamento entre os neurônios e as células gliais em ratazanas. Constatou que as cobaias que eram obrigadas a se equilibrar sobre tambores e a utilizar brinquedos desenvolviam maior quantidade de células gliais por neurônio do que as outras, que não eram submetidas a esses exercícios. E eram, por conseguinte, senão mais inteligentes, pelo menos mais adestradas e mais ativas.

(Continua)

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